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Um Pouco de Mim, Um Pouco de Você (Parte 2)


Eleonora Duvivier. Foto: Chris Dodds


Ontem (6/6/2023) pude assistir ao filme Eskawata Kayawe, que um grupo levou seis anos para fazer ou liberar, sobre uma aldeia do nosso povo indígena Hunikuin. O filme foi mostrado num local super “cool” em uma loja de roupas nativas de muitos povos em Venice Beach, um dos bairros mais bacanas e sofisticados de Los Angeles. Antes da apresentação tivemos um concerto de Don William (curandeiro peruano) e sua esposa Nila Raja, em que também participou a filhinha do casal, que só tem três anos mas consegue cantar afinada uma musica do começo ao fim. Foi um sucesso!


Mas quanto ao filme, a despeito das suas imagens bonitas, achei-o super repetitivo. Pra começar, era exclusivamente sobre os Hunikuin, e eles repetiam em diferentes palavras que seu grande conhecimento era Ayahuasca e estavam recuperando a sua tradição através desta medicina e de estórias demque os seus anciões se lembravam. Falavam muito em conhecimento mas não diziam exatamente do que se tratava. Claro que quem já tomou ayahuasca pode honrar, mesmo sem verbalizar direito, esse conhecimento que nos faz vislumbrar. Porém, para os leigos, a pergunta “que conhecimento é esse?” pode permanecer durante o decorrer de todo o filme.


Mas houve um Hunikuin, jovem e bonito, que abordou de leve o tema da interação de culturas, dizendo que os brancos tem muita coisa boa de que eles também podem se apropriar. Por exemplo, digo eu, o violão, que aprenderam a tocar há uns quinze anos atrás. Também sei que a maioria dos indígenas que conheço faz uso do iPhone.


Achei que a diretora do filme deveria ter aproveitado a deixa do índio bonito, e ao invés de só mostrar os Hunikuin dançando pra ayahuasca, bebendo ayahuasca, cantando durante os rituais, e elogiando ayahuasca sem dizer exatamente o que faz essa medicina, dar chance também a esse incrível músico que ajudou na filmagem, chamado Patrick Belém, a cantar em algum ritual do filme.


Pois ele não só expressa com suas músicas a verdadeira essência brasileira que na minha opinião mistura o selvagem com o religioso numa força incrível, como já anda esperando por algum tempo que essas musicas se tornem acessíveis ao publico. Mas são já cantadas em rituais aqui nos Estados Unidos, por outros que não Patrick.


Patrick e outros músicos inspirados adicionam novas dimensões aos rituais, e a um certo ponto deste, os pajés os convidam para cantar. Mas o motivo que faz a interação de culturas ser o foco mais importante a essa altura da vida tem a ver com a fragilidade da realidade indígena devido `as suas terras serem ameaçadas, e com isso a sua tradição acabar sendo novamente esquecida, como já foi na época dos seringueiros que os escravizaram na coleta da borracha, os embebedaram e os proibiram tomar ayahuasca.


Sei que Benki, seu pai e seu avô, botaram missionários pra correr de muitas terras ocupadas e contribuíram imensamente pra colocar nativos de volta na sua tradição, não sei se exatamente em relação a essa aldeia que aparece no filme, mesmo que seus habitantes tenham dito que sua tradição fora recuperada depois de esquecida por muitos durante a escravidão da borracha.


Achei triste ver a aldeia do filme tão isolada, pobre, e seus habitantes determinados a mostrar que são felizes. Vamos acordar. A civilização acaba invadindo todos os lugares da terra, que são muito menores do que o que ela ocupa no planeta, e se não toma esses lugares à força, seduz os seus nativos, principalmente os jovens, através de inventos tecnológicos. Minha mãe costumava dizer que do momento em que se “prova” o progresso, seja através de um iPhone, de uma televisão, máquina de lavar ou outro lance tecnológico, nunca mais se quer regredir ou viver sem aquilo. Ela estava certa. Por isso, na história do Brasil, muitos nativos facilitaram seringueiros e madeireiros a fazerem o seu trabalho. E teremos que entender se eles forem os primeiros a querer ser como nos ao invés de manter sua tradição na pobreza. Mas acho que podem ser como nós na direção de, com os nossos inventos, poderem espalhar e nos mostrar a verdadeira realidade.


Por isso, acho que nossos indígenas ganharão muito mais força em filmes em palestras, trocando essa queixa de serem carentes e ameaçados pela afirmação de que podem nos ajudar, e isso, especialmente quem já tomou ayahuasca, sabe bem que eles podem. Nossa civilização chegou a um ponto de autodestruição, cegueira e imediatismo, que só mesmo uma poção tão potente quanto ayahuasca poderá mostrar `as pessoas inteligentes e influentes que a tomarem, qual é exatamente o estrago que faz o homem não só materialmente como espiritualmente, no mundo e em si mesmo.


Sei que houve várias conversões de ateus `a fé religiosa (seja qual for) ao tomarem ayahuasca. Sei da pureza dessa medicina ao recuperar o sagrado na ligação de toda a criação, ao nos dar a experiencia mística do amor como a força criadora fundamental e mostrar-nos na carne como o nosso conhecimento é predatório e profano. Mas não sei exatamente como os indígenas poderão ser protegidos para encontros de culturas e trocas de ajuda entre um lado e outro. Só sei que não da mais para traçar linhas divisórias entre as duas culturas, olhando uma como essencialmente predatória, e a outra como essencialmente vítima. E isso deve ser muito pesquisado e pensado por pessoas adequadas não só em termos de inteligência, como de conhecimento social e político.


Podem me acreditar que dos segredos e vontade do divino, da sua bondade, grandiosidade, amor, e do próprio temor que lhe devemos, os indígenas estão mil anos luz na nossa frente. Enquanto podemos ajudá-los na comunicação com o mundo ocidental e a tornar acessível a nós a fé e lições que ayahuasca pode nos dar, eles é que entendem sobre a medicina, fazem curas sob o seu efeito, e desvendam outras dimensões pra nós que o nosso conhecimento egóico, radical e arrogante faz questão de ignorar. Principalmente no caso de quem acredita que o mercado e o dinheiro, impulsionando o progresso científico, vai resolver os problemas de escassez no planeta. Claro que estes nem devem chegar perto de ayahuasca, pois só conseguirão brigar com uma potência mil vezes mais forte do que a cabeça deles.


A verdadeira riqueza do Brasil é a medicina da alma: ayahuasca. Também os segredos que esconde a Amazonia na sua biodiversidade, e a vigilância dos povos indígenas. Podem me acreditar. Não há lugar no mundo além da Amazonia, que conjugue essas três forças do bem e de socorro.


Então, ao invés de nós de um lado e eles do outro lado, o que interessa agora é:


UM POUCO DE NÓS e UM POUCO DE VOCÊS.


 

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