Amigo realmente é coisa pra se guardar
A amizade é um assunto que rende muito assunto.
Rende músicas maravilhosas, viram filmes, mas na vida real são poucas as pessoas que passam por nossa vida e que verdadeiramente podemos chamar de amigos.
Ao longo de nossa vida a gente tem alguns amigos que entram e saem de acordo com o momento que vivemos, mas apenas alguns, bem poucos, pouquíssimos, ficam para sempre em nossos corações.
O mais engraçado é que nem sempre essas amizades se fazem de maneira constante e presencial, afinal de contas os caminhos muitas vezes acabam por nos levar em outras direções, e não é incomum a gente perder contato com aquela pessoa que muitas vezes é mais do que um amigo, chega a ser um irmão.
Eu conheci uma pessoa assim, na época da escola lá na longínqua década de 80.
Era um cara baixinho, marrento, que naquela época já se atrevia a usar bigode, aliás, isso foi uma marca em toda sua vida, não me lembro de ter visto o Ronaldo sem bigode.
Ah o Ronaldo... meu amigo na adolescência, meu irmão mais velho, como eu me orgulhava de ser amigo dele.
Ele sabia dirigir, e todo mundo gostava dele, era daqueles caras que a gente gostava fácil.
Lembro-me de tantas coisas na época da escola, da galera pedindo pra ele falar “gàs” só pra gente rir por causa do jeito que ele pronunciava devido à língua presa.
E como não se lembrar do professor de Inglês que morria de medo dele, naquela época a gente achava aquilo o máximo, hoje confesso que não vejo a menor graça, mas é compreensível, tínhamos 15, 16 anos, hoje temos mais de 50, a gente percebe como éramos bobos, ou melhor, éramos apenas adolescentes.
Quando ele conheceu a Cristina, eu estava presente.
Não me lembro direito como foi, mas sei que eu estava com ele, e fiz parte da vida daquele casal por muito tempo, eu estava sempre na casa deles, e também estive por perto quando a primeira filha do casal nasceu.
Também vi o nascimento da segunda filha, da terceira e do primeiro filho, e essa foi a última vez que os vi, pois estive na casa deles para rever as meninas e conhecer o menino.
Àquela altura eram quatro filhos, e com certeza eu pensei que aqueles dois eram muito corajosos, quatro filhos não é algo comum nos dias de hoje, mas enfim, o importante é que eles eram felizes.
O Ronaldo era tão importante na minha vida que o convidei para ser meu padrinho de casamento, não conseguia imaginar a hipótese dele não estar ao meu lado no dia em que daria o maior passo da minha vida até então.
Esqueci-me de mencionar que ele era um amigo em comum, e que nosso casamento só aconteceu devido a uma intervenção dele.
Quantas vezes sua madrasta ligou pra minha casa (não existia celular naquela época) pedindo ajuda porque ele estava “nervoso” brigando com todo mundo, e eu me achava o máximo, afinal eu corria até a casa dele, que não era longe da minha, e conseguia acalmá-lo, em outras palavras o cara que eu admirava na minha infância me respeitava, me escutava.
Mas a gente perdeu contato, quase trinta anos sem ter notícias do meu amigo, do meu irmão, e olha que eu tentei encontrá-lo depois que me rendi às redes sociais... em vão.
Mas dizem que as coisas são como devem ser, e eu particularmente acredito nisso.
Ontem eu estava dando uma olhada na minha rede e por acaso apareceu pra mim o perfil do pai dele, e a primeira coisa que pensei foi que muito provavelmente o Ronaldo seria uma conexão, e não tive dúvidas, comecei a procurar até que, BINGO!!!
Mas alguma coisa estava diferente.
Apesar do bigode a imagem que eu tinha era de trinta anos atrás, aquele Ronaldo estava diferente, mesmo assim mandei uma mensagem, e a resposta me fez perceber que não era apenas ele que estava diferente, que o tempo havia passado para mim também.
“Desculpe-me, estou um pouco ruim da memória. Você está bem diferente, é o Paulinho?”
- Sim, sou eu...
“Cara como você tá diferente. Te procurei tanto nas redes sociais.”
Pois é, depois de quase 30 anos reencontrei meu amigo, meu irmão da época da adolescência, e quantas coisas vieram a minha mente, quantas risadas demos ao relembrar as histórias que vivemos, mas o mais legal de tudo isso é saber que aquele sentimento, mesmo que distante por tanto tempo, permanece, simplesmente porque sempre foi verdadeiro.
Ah, ia me esquecendo de dizer, os loucos não pararam nos quatro filhos não, hoje são 7 filhos e 4 netos fazendo a alegria da família Alquimin, e o que mais desejo agora é que a gente não fique mais tanto tempo sem se ver ou se falar, afinal se já foi difícil te reconhecer agora que ainda estou com a cabeça boa, não sei se daqui alguns anos poderei dizer o mesmo.
Te amo meu irmão, e seja forte mesmo com as últimas rasteiras da vida, afinal de contas essa foi uma das virtudes que me fizeram desde pequeno te admirar e querer ser seu amigo.
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Esse texto é também uma homenagem a Cristina (in memoriam) esposa do Ronaldo que faleceu em 2019 vítima de um enfarte, e ao Sr. José Otávio Alquimin (in memoriam), pai do meu amigo que faleceu na noite de ontem, 19/07, vítima da Covid-19.
Que Deus os receba e conforte os familiares.
Paulo Eduardo Ribeiro, do Canal Ponte Aérea, para CRIATIVOS!
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