NA PRAÇA
Na praça. De novo. Passa um grupo de colegiais. Aposto na média 16, 17 anos. Idade boa. Quem não se lembra? Os sonhos, o tesão, a sensação de pertencimento. Piadas risíveis, horríveis em geral, papos incríveis, principalmente naquele melhor horário entre o fim das aulas e a chegada em casa; fora do controle dos adultos.
Parece um bloco de mal ajambrados, uma escola de samba sem samba, desfilando na avenida sem arquibancadas.
Na frente vêm as bonitas, com seus cabelos cacheados, crespos, lisos ou alisados. E uns garotos musculosos com tênis de marca. É a comissão de frente.
No meio passam os brancos magrelos, as garotas sardentas, os pretinhos espertos. É a meiuca: misto de passistas e ritimistas de pouca vida e muitas esperanças.
E por fim a ala dos enjeitados. Os mais gordos, os mais pobres, os mais pretos e um ou outro desengonçado, distraído, torto, que não quis ou não se tocou que podia desfilar em outra ala.
E antes que digam que estou sendo preconceituoso, eu vos digo: estou só observando a cena. E a cena se descortina diante de mim.
Passam contentes todos, feito um bando de pardais, com suas roupinhas marrons de colégio. Confesso que invejo a sua inocência. Ou seria a juventude? Não. Já passei por isso. É só a observação mesmo.
Os discursos mudam. Mas a prática, na vida real, demora um pouquinho mais. Muda também. Já mudou. Está mudando. Agora mesmo.
Uma garota sai correndo da retaguarda e abraça um colega na comissão de frente.
E segue o desfile.
Jorge Cardozo
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