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Uma viagem ao Tibete

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Adolescente, me encantei com os livros de Lobsang Rampa, um suposto monge tibetano em busca do terceiro olho e da iluminação espiritual — literatura bastante em voga durante a onda esotérica das décadas de 1970/80.


Mais tarde, enveredei pelas peripécias de Alexandra David-Néel, uma intrépida aventureira francesa da virada do século XIX para o XX, que percorreu o Tibete por anos seguidos. E quem não se lembra de Tintim no Tibete, resgatando seu amigo Chang de um desastre de avião nos Himalaias, recebendo a ajuda de monges e enfrentando o Yeti, o abominável homem das neves?


Desde então, nutro fascínio pelo chamado “Teto do Mundo”, o lar de lendárias montanhas, berço de tantos rios e alma do budismo tântrico. Nunca achei que poderia vir a conhecer a região — desde 1950 sob ocupação chinesa e território politicamente sensível para o governo desse país.

Com muitas décadas de atraso, minha aspiração se realizou: acabo de voltar de uma semana de viagem ao Tibete. A visita exige contratar uma excursão chinesa, que se encarrega da burocracia para obter a autorização especial de entrada. Não é possível ir para lá em modo solo.


A viagem tem seus desafios — o primeiro e mais óbvio: a altitude. Saindo do Nepal, encaramos uma primeira noite a 3.600 metros e outra a 4.200 metros. Durante o dia, chegamos a alcançar os 5.200 m, quando fomos conhecer o antigo acampamento-base do Everest. Que montanha magnífica! Num dia de céu claro impecável, exibiu-se a nós em toda a sua majestade.


As distâncias são grandes, mas as horas passadas no confortável micro-ônibus permitiam não somente contemplar a imensidão das paisagens, como observar a infraestrutura chinesa no local: qualidade das estradas, dimensão e quantidade das torres de transmissão, onipresença do sinal de internet.


Conhecemos as duas principais cidades do Tibete: Shigatse e Lhasa, a capital. Inegavelmente, muito dinheiro foi investido em sua modernização. A chegada a Lhasa se dá por uma grande avenida que corre paralela ao rio de mesmo nome. Há prédios modernos, de arquitetura arrojada. Nos edifícios residenciais, seguiu-se o artifício de preservar as linhas da tradicional casa tibetana, mas em maiores proporções — uma solução inovadora e, ao mesmo tempo, respeitosa da herança cultural. A iluminação pública consiste em postes com formato de flor, múltiplas corolas criando o efeito de um buquê.


O centro histórico foi todo reformado e é exclusivo para pedestres. O acesso exige passar por um check-point com detector de metais, scanner de bolsas/mochilas e — no caso do estrangeiro — a repetitiva apresentação do passaporte. Há muitas lojas de souvenirs, com preços compatíveis com o turismo europeu, embora a presença de ocidentais seja quase inexistente. O que mais se vê é turismo doméstico, inclusive — entre os mais jovens — a prática de alugar trajes típicos e caprichar na maquiagem para fazer sessões de fotos profissionais.


Há espaço para o misticismo. Durante a caminhada, é possível ver fiéis fazendo um movimento completo de prosternação ao Buda, o que implica literalmente deitar-se no chão e se reerguer. Para tal, são usadas joelheiras e placas nas mãos que ajudam a deslizar. Nos mosteiros e até nos palácios dos lamas, são muitas as pessoas que circulam em pose de oração e deixam notas de dinheiro diante do Buda ou em aposentos que foram frequentados pelos Dalai Lamas — até nos do “inominável” décimo quarto, o que foi imortalizado no filme Sete Anos no Tibete e vive no exílio em Dharamshala (Índia).


Li em algum lugar que o icônico Palácio Potala — a residência de inverno dos Dalai Lamas, que trona sobre a cidade de Lhasa — era uma casca vazia, sem identidade. Discordo. O palácio, em seus tons de branco e vinho, atrai o olhar como um ímã e é grandioso sob qualquer ângulo. Em frente a ele, em uma manifestação nem tão sutil de quem manda no pedaço, há uma enorme praça com fontes dançantes, música e um imenso mural com a foto dos líderes chineses, de Mao Zedong a Xi Jinping.


Fora essa demonstração explícita de poder, o clima na praça é bucólico: há veredas entre os jardins, bancos espalhados e até cantinhos para piqueniques.

Também vi miséria: tibetanos desdentados esforçando-se para vender miudezas típicas; estropiados mendigando na saída do Potala.


Durante décadas, acompanhei com interesse as bem-intencionadas manifestações do Ocidente em favor da libertação do Tibete. Depois dessa viagem — e de forma bem pragmática — me pergunto se essa independência compensaria a vantagem financeira de fazer parte da potência econômica que é a China.


Mônica Aguiar é economista, Doutora em Relações Internacionais e atua como comentarista em temas de geopolítica. Com vasta experiência acadêmica e foco em relações internacionais e economia política global, ela é a titular do podcast ABC da Geopolítica (Link: https://www.abcdageopolitica.com.br/), onde descomplica assuntos complexos da ordem mundial para o público geral.


A Força da Cultura e a Economia Criativa: O Hub de Inteligência do CRIATIVOS!


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Com mais de três mil artigos publicados e a colaboração de mais de 100 parceiros, o portal se tornou uma aposta fundamental no ecossistema de conteúdo.


A cultura, mais do que entretenimento, é um motor econômico vital. A economia criativa engloba setores que geram emprego, renda e valor simbólico. É nesse contexto que o intercâmbio, seja ele cultural ou espiritual — como o fascínio duradouro pelo Tibete, berço de sabedoria e tradição —, atua como catalisador de inovação e compreensão mútua.


Certificação Musical e Remuneração Justa


Destaca-se, nesse panorama, a atuação do portal Cedro Rosa Digital , essencial na área de certificação musical. Criada pela própria Cedro Rosa e desenvolvida pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), com financiamento parcial da EMBRAPII e do SEBRAE, e apoio internacional da APEX Brasil, sua tecnologia permite que um número significativamente maior de autores e artistas sejam remunerados pela execução de suas obras de maneira transparente e eficiente. Isso fortalece a base da economia criativa.


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