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Essência, pelo Amor de Deus!


crédito: Theodora Duvivier

Nos tempos loucos em que vivemos, as mudanças, como a depredação do planeta, a pandemia, as guerras insensatas, os escândalos políticos e as “Fake News” causam em muitos o medo do fim do mundo. Meu analista chega a recomendar a seus clientes que nem sigam as notícias. Os Estados Unidos, que era considerado um dos países mais felizes do mundo, tem um alto número de suicídio, depressão e solidão. Precisamos acreditar na realidade espiritual mais do que nunca, já que ela não só nos da esperança para a nossa vida aqui na terra, como no além. Porém, parece que a divisão entre quem tem fé e quem não tem atingiu o ponto absurdo de gerar as coisas mais rebuscadas nos grupos New Age, e as mais depressivas nos céticos.


Já foi observado que a alteração radical na nossa percepção do mundo resulta do fato de que realidades que tomávamos como absolutas foram reveladas relativas, por três pensadores de destaque: Freud, Einstein e Marx. Enquanto o que é absoluto tem seu próprio valor, o que é relativo depende de fatores externos e mutáveis, como as ações da bolsa de valores, que sobem e descem de acordo com o que acontece a despeito delas.


Começando com Freud, a descoberta de que o inconsciente pode influenciar nosso comportamento sem que saibamos relativizou os valores morais. Nesse ponto de vista, ninguém pode ser realmente responsável pelo que faz se ignora o que o levou a agir; se não tem livre arbítrio para escolher entre o que é moralmente certo e o que é errado naquilo que faz, entre o bem por assim dizer, e o mal. A ética se torna relativa, pois seus valores, sem poderem ser escolhidos por si próprios, foram também desprovidos de valor próprio e passam a ocorrer como consequências de outros motivos.


Einstein, com sua famosa teoria, descobriu que o tempo e o espaço, ao invés de serem realidades absolutas como uma vez se pensava, são também relativos e mudam de acordo com o contexto em que são avaliados e outros fatores variáveis.


Marx por sua vez, destruiu o caráter absoluto da religião ao eleger a produção como primeiro princípio, explicando toda a realidade criativa e social através do sistema financeiro.


A obra prima de Proust foi considerada equivalente `a teoria da relatividade de Einstein em literatura. Constantemente se aponta o fato de que Proust descreve a a relatividade e a devastação do tempo sobre as pessoas, as coisas, os lugares, o prestígio social, os julgamentos éticos, os sentimentos, o próprio amor. E o que mais nos perturba: o nosso próprio eu. Ele mostra que através da vida, estamos num processo constante de nos tornar diferentes a ponto de muitas vezes nem mesmo reconhecer, ou justificar, o que fomos e o que sentimos em épocas diversas do nosso passado. De acordo com o escritor, vivemos metaforicamente ciclos de morrer e renascer em “eus” diferentes, através da mudança das circunstâncias de nossa vida e dos sentimentos que nos causam.


Qual será o “eu” real de cada um de nós nessa constante e torrencial mudança por que passamos desde que somos bebês até a velhice? Se até os sentimentos de paixão que tivemos por alguém, e que então significavam tudo para nós, se tornam estranhos e absurdos depois que superamos aquela pessoa, onde reside esse “eu” que nenhuma mudança altera e que seria a nossa essência imutável? Essa realidade incorruptível pelo tempo obviamente estaria acima deste, seria como a alma individual de cada um de nós.


O fato de Proust começar e concluir a Recherche com a palavra “tempo”, e o fato de que ele descreve não só mudanças radicais em seus personagens mas a própria deterioração moral desses personagens, assim como a mudança e decadência não só da sociedade como dos muitos lugares que foram sagrados para ele quando jovem, fazem muitas pessoas pensar que a sua preocupação principal é expressar a relatividade de tudo que esta sujeito ao tempo, e o próprio tempo mesmo, que também muda de acordo com os diferentes modos da nossa consciência.


Assim como os três outros iminentes pensadores que mencionei, Proust conseguiu mostrar o poder da relatividade. Isso era a sua maior fonte de angústia e até mesmo culpa, humano que era, por não manter a tristeza que sentira, por exemplo, em relação `a sua avó, devido ao que chama de “lei universal do esquecimento”. Chega ao ponto de dizer que se esquecemos aqueles que já se foram, isso se deve ao fato de que somos nós que estamos morrendo e não eles que morreram. Por isso, ele não para aí. Sua análise da corruptibilidade do tempo visa a superá-la. Diga-se de passagem, sua obra é cheia de contrastes entre o absoluto e o relativo, o mundo da beleza atemporal a que tem acesso e o mundo da transitoriedade; a verdade da arte e a mutável realidade, os valores eternos e as convenções sociais. No tocante `as pessoas, Proust contrasta aquelas que, praticamente santas, não deixam seu caráter se influenciar por coisas contingentes e passageiras- como sua mãe e sua avó- com todos os demais, cuja maioria se deteriora moralmente mesmo antes da decadência física ocasionada por sua velhice.


No final do livro, assim como é introduzido no episódio da Madeleine, Proust descobre a essência. Descreve os momentos de eternidade que experimenta através do que chama de memória involuntária, pois que desencadeada através das sensações do corpo que são provocadas nele independentemente de sua vontade.


Essa memória lhe permite descobrir o que foi a sua vida real e se afirmar, enquanto narrador, como o homem atemporal que a escreve: Aquele cujo alimento está na essência das coisas, o único adequado a trazer a verdade da sua vida e a sua própria alma para a luz da inteligência. Essa verdade permanece escondida de nós se procurarmos descobri-la através do intelecto ou da memoria voluntária, a qual, segundo ele, só nos da um tipo de pintura homogênea de todos os estados diferentes que vivemos. Mas enquanto essência atemporal, essa verdade nos precede, e por isso Proust diz que olhar para dentro de si mesmo, o que ele fazia melhor do que ninguém, nos permite decifrar o livro que já foi escrito para cada um e que nos precede, quer dizer, ele iguala a nossa verdadeira vida `a nossa essência.


Assim, Proust emerge do abismo da finitude à eternidade. Se o acompanharmos, ele nos leva pela mão através de suas profundas epifanias. Resta ao leitor fazer essa escolha e encontrar o que está acima de todas as assustadoras mudanças.


 

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