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É possível conciliar o agronegócio e a sustentabilidade? Parte II


Julio Assunção (foto), autor do artigo, com Marcelo Vieira e Carlos Klink

A história mostra que o processo de modernização da agricultura pode ser compatível com a proteção dos recursos naturais no Brasil.


O sucesso alcançado com a redução do desmatamento e das emissões na última década e a aprovação do Código Florestal em 2012 permitem que o Brasil responda adequadamente aos seus compromissos de conservação. No entanto, o aumento recente do desflorestamento mostra que esse desafio permanece.



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Como líder mundial na produção agrícola, o Brasil tem se beneficiado muito de suas terras abundantes e férteis. O Núcleo de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-Rio (NAPC), por meio do projeto Iniciativa Para o Uso da Terra (Input), mostra, no entanto, que o país ainda não explora o potencial de suas terras já desmatadas. Grande parte da produção agrícola brasileira concentra-se em proporção relativamente pequena de terra – 18% das terras agrícolas do país foram responsáveis por 63% da produção total em 2006.

Uma parte considerável de áreas abertas está sendo subutilizada, principalmente como pastagens, com baixa produtividade. Há, portanto, uma oportunidade para a expansão da área agrícola sem o comprometimento da proteção ambiental. Ao fazer a transição dessas terras para lavouras e melhorar a eficiência das pastagens em áreas já utilizadas, o Brasil poderá acelerar seu crescimento. Já está em curso no país a substituição de técnicas de cultivo extensivas (que demandam muita terra) por técnicas mais intensivas em equipamentos e conhecimento. Essa transição pode reduzir a pressão por novos desmatamentos.

Nesse contexto, o caso da expansão da cana-de-açúcar no Mato Grossodo Sul (MS) é bastante emblemático. Entre 2005 e 2012, o MS experimentou grande avanço da cultura da cana e foi realizada uma análise aprofundada sobre o alcance e o impacto da expansão das usinas de cana-de-açúcar sobre o uso da terra, crescimento econômico, demografia, mercado de trabalho e serviços financeiros em municípios do estado (ASSUNÇÃO et al., 2016a, b).



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As oito usinas existentes no estado em 2005 exploravam 137 mil hectaresde cana-de-açúcar; em 2012 havia 22 usinas e 559 mil hectares plantados com cana. Esse avanço reestruturou profundamente a economia dos municípios onde as usinas estão estabelecidas. Houve aumento médio de 30% do produto interno bruto (PIB) em três anos pelos ganhos nos setores da agricultura, da indústria e dos serviços. A população cresceu10% e as receitas fiscais, 31%.

Tal expansão econômica afetou outros setores e desencadeou uma reestruturação profunda no setor agrícola dos municípios.

Houve, por exemplo, ganhos de produtividade da soja e do milho e redução do número de cabeças de gado nos municípios (e consequente diminuição do emprego no setor pecuário); ou seja, a instalação das usinas induziu mudanças no uso da terra pela substituição das áreas de pastagens pelo cultivo da cana (ASSUNÇÃO et al., 2016a, b).


Os autores desses estudos atribuem parte desse aumento à melhoria na oferta de insumos e serviços agrícolas, incluindo armazenamento e transporte. Com a chegada de indústrias de apoio à agricultura, atraídas pelas novas usinas, produtores rurais de outros setores também se beneficiaram.

Também é provável que o aumentoda produtividade possa ter melhorado, em parte pelo crescimento de investimentos agrícolas decorrente do aumento da renda dos produtores, dado pelo arrendamento de terras, a venda de cana-de-açúcar para as usinas e a melhoria no acesso ao crédito rural.

O estudo mostrou uma expansão dos serviços financeiros disponíveis nos municípios onde as usinas se instalaram. O total de depósitos privados aumentou R$ 4,8 milhões (103%) e o crédito rural para investimentos, despesas e comercialização aumentou R$ 18,5 milhões (77%).

Registrou-se ainda que o mercado de trabalho prosperou em toda a região. O número de postos de trabalho cresceu 40% e os salários agregados (quantidade de trabalhadores multiplicada pela renda média) cresceram 49%. Além disso, houve a criação de 186 empresas por município, em média, o que equivale a uma expansão de 82%. A escolaridade da força de trabalho também aumentou.

Na área ambiental, o desmatamento diminuiu em 6,3 mil hectares, em média, nos três anos após a instalação das usinas. As possíveis razões seriam os ganhos na produtividade que reduziriam a necessidade de novas áreas para atividade agropecuária, melhoria na fiscalização e cumprimento dos preceitos ambientais com a chegadadas usinas, ou pelo fato de que grandes empresas (usinas) recebem maior atenção da mídia e de investidores e, portanto, são mais exigentes com as questões ambientais (ASSUNÇÃO et al., 2016a,b).


Os estudos revelaram o quão profundamente as usinas remodelaram a estrutura econômica dos municípios onde estão situadas; houve caso em que, em um município típico da região, o PIB anual cresceu 30% em três anos. A chegada das usinas induziu alteração de uso da terra, principalmente o uso de áreas de pastagens para o cultivo da cana-de-açúcar. Muitos impactos positivos foram documentados na produção agrícola, no mercado de trabalho e no fluxo de recursos financeiros, além da redução do desmatamento.


De Carlos Klink, Juliano Assunção e Marcelo Vieira.

Parte 2 do capítulo do livro Sustentabilidade no Agronegócio, coordenado por Arlindo Philipi Jr. Coleção Ambiental / Manole).


(continua...)


Leia a parte 1 do artigo aqui.

 

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