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Uma noite de horror n'alguma esquina estranha


Mario Lago Filho

E lá estava eu, numa esquina estranha de um lugar qualquer, esperando pela mulher da minha vida, aquela que não conheci.

Confesso que estava muito nervoso, afinal tenho um histórico desastroso com encontros às cegas.


Como no dia em que pedi um vinho Mateus Rosé "tinto", num jantar com V.

Ou quando não me dei conta que C e sua mãe tinham trocado de lugar no cinema e alisei as coxas da sogra achando que era a filha (o mais constrangedor foi a certeza que ela gostou, tanto que não reclamou e, ao contrário, colou sua perna na minha).


Sem contar o lanche com M, quando esqueci completamente que ela era alérgica a amendoim e derivados e, depois de consumirmos uma garrafa de arak pedi uma rodada de doces (todos a base de nozes) e fomos parar no hospital, com ela quase sem conseguir respirar.

Tudo isso e muito mais martelava meus pensamentos, chegando a provocar uma tremenda dor de cabeça e me levar à farmácia mais próxima, onde ingeri uma overdose de aspirina.

Para aliviar a tensão, entrei no boteco vizinho, tomei três doses triplas de uma cachaça cuja procedência era pra lá de sinistra (a começar pelo nome: Engana Trouxa) e comi um treco que lembrava um pastel com cara do século 20.


Mas estava determinado a encontrar a mulher da minha vida e, por isso, sentei praça naquela esquina estranha, disposto a esperar o quanto fosse necessário.

Passado um tempo, a natureza fisiológica do meu corpo humano, somada às três doses triplas da Engana Trouxa e ao tal negócio que parecia um pastel, cobrou a missão e me obrigou a voltar ao boteco em busca de um banheiro.

E aí começou mais um capítulo dessa quase história de horror.

Por quê chamar aquilo de banheiro?

Não, não era justo.


Definitivamente haveria uma definição melhor no dicionário do inferno.

Como era de se esperar, o primeiro impacto era olfativo.

Que cheiro horrível exalava aquele pequeno pedaço de mundo imundo.

Daí, vinha o contato visual.


Impressionante como não havia naquele cubículo um mínimo espaço que fosse que estivesse só um pouquinho limpo.

Então, era vez do contato tato.

Para dar os poucos passos que o espaço permitia, ou escorregava em fluídos orgânicos, ou ficava meio que agarrado a alguma massa pegajosa cuja procedência era melhor nem procurar saber.


Sobre o que fui fazer ali não quero falar.

Tampouco sobre a água com que tentei lavar as mãos.

O estado de choque e repulsa era tamanho, que ao sair dali fui direto ao balcão e engoli mais três doses triplas da Engana Trouxa.

E mais três, por garantia.


E tenho quase certeza que repeti a operação mais algumas vezes.

Feito isso, voltei para a esquina estranha, determinado a encontrar a mulher da minha vida, aquela que nunca conheci.


Depois desta verdadeira corrida de obstáculos, só me lembro de acordar envolvido pelas lambidas de uma matilha de cães sarnentos, jogado na sarjeta e sendo evitado pela multidão que trafegava no lugar.

Foi aí que me dei conta.

Foi aí que aconteceu o pior.

Desde o começo eu estava na esquina errada.


Até a próxima esquina.


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