Sabedoria natural

Existem lógicas que perduram em nossas vidas porque fazem sentido.Por que argumentar preceitos que vivem conosco pacificamente sem incertezas? São normas, mandamentos e princípios que nos acompanham a vida toda e assim ficamos satisfeitos e seguimos em frente. Sensação de um equilíbrio de origem espontânea. Instinto automático de estabilidade, de concordância sem stress.
Um sentimento de que, se em algum momento, esta regra for quebrada esairmos do padrão estabelecido, vamos criar um problema inesperado. Um problemão na verdade, já que – onde menos se espera – pode haver uma conturbação, criando o desencontro.
Vou explicar.
Como alguns de vocês sabem, moro na roça. Vim da cidade grande e me estabeleci no campo, no alto de uma serra, rodeada de mata-Atlântica. Tudo muito natural, dependendo dos humores do sol, dos ventos, das chuvas, do calor ou do frio e de tantas outras manifestações do espontâneo.
Hoje, em meio a tantas atividades, lido bastante com plantas, com abertura de berços (Atenção! Não se usa mais “cova” que é para os mortos, mas sim “berço” que denota futuro, crescimento e vida), plantio de mudas, adubação natural, manutenção, etc. Evidentemente em escala razoável pertinente à sítios e chácaras, que é a dimensão do meu espaço.
E então chega o período da poda. Atividade necessária (na maioria das vezes) e preponderante para o renascimento daquele vegetal que lhe proporcionou muitos frutos ou flores. Podar é a prática que envolve a remoção seletiva de certas partes da planta. Dizem que a arte de podar surgiu, quando há milhares de anos atrás, foi observado que quando asnos e cabras comiam plantas, diminuindo suas copas, estas produziam muito mais.
A poda é normalmente aplicada no inverno, época quando a planta já completou seu ciclo e passa por uma dormência natural, se preparando para a próxima estação. Mas aí chega o momento de se ver diante das ponderações que citei acima.Munida ou munido de um serrote ou tesoura de poda – um para troncos mais robustos ea outra para galhos maios finos – você se vê diante da decisão: quanto podar? Ou contrata um connoiseur, ou arrisca-se, já que a produção não é do agronegócio para se ter envolvimento de um especialista. E, além do mais, é sempre bom aprender! A lógica diz que você deve retirar tudo que está seco e aparar o restante. Mas ... aparar quanto? Neste momento bate a lógica inicial que “perduram em nossas vidas porque fazem sentido” como eu aventei na primeira linha. A quebra deste paradigma pode trazer consequências questionáveis e até lamentações pelo mal cometido.
Existem vários tipos de poda, mas estamos falando de frutíferas do seu pomar ou das flores de seu jardim. Estas que você cuida com tanto amor e carinho e quenovamente quer ver ano que vem, as inflorescências com sua pétalas coloridas tão lindas que lhe arrebataram o olhar ou enlevaram seu olfato com o aroma de seu perfume.
No fundo a planta pede corte racional que elimine o que já mostrou a que veio. Sem medo retire o excesso. Veja o caso das bananeiras. Se deixar ao “Deus dará”,ou seja, apenas colher o cacho de bananas e aguardar o próximo, a planta não responderá conforme suas expectativas. Uma regra deve ser seguida que é avó, mãe e neta. Em cada touceira devem ficar apenas estas três, uma grande e adulta – a avó, outra mais jovem – a filha, e uma terceira ao pé, como uma criança – a neta... “mas devo tirar as outras todas?” Sim! Todas? SIM! Se não fazem parte deste núcleo familiar devem ser eliminadas. Se estiverem mais afastadas, então é outro núcleo familiar.
Este corte incentiva e dá a força necessária para a produção de cachos saborosos, grandes e doces. E quando colher o cacho, cortar e retirar o pseudo-caule (a bananeira não tem caule pois este é composto apenas por suas bainhas foliares superpostas), permitindo a jovem mãe se tornar avó, a criança se tornar mãe e – neste momento – o broto que já surgiu ao pé, se tornar a nova criança. O resto ao redor próximo, é eliminado.
Mas o que quero dizer com tudo isto, justificando o título? Às vezes temos que quebrar referência imposta pela lógica, devemos ousar arquétipos desconhecidos e até empreender um arroubo inusitado para obter resultado notável, até impensável.
A lógica nos diria para não podar tanto. Nosso bom-senso nos avisa intuitivamente que não deveríamos exagerar. Mas aí que entram os famosos limites de nossa zona de conforto. No caso das podas, às vezes ir um pouco além, possibilita a planta se manifestar com mais força, já que sua energia pode ser exercida com mais vigor devido a maior concentração, possibilitando maiores resultados.
Os nutrientes não serão dispersos por ramos que não lhe trarão nada. Sua ação não se desviará em cuidar de brotos ou galhos desnecessários, para se concentrar em menos para produzir mais. No ano seguinte, é impressionante a potência que se apodera dos novos frutos e florescom a robustez de seu crescimento. Mais saúde, mais sabor, cores mais vibrantes e perfume mais penetrante.
Resumindo, a sabedoria natural do asno e da cabra nos ensina que diminuir (ou podar) traz muitas vantagens. Menos pode se transformar em muito mais.
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Luiz Inglês
Bananal-SP, fevereiro 2025
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