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ROCINHA: HORROR E ESPERANÇA


José Luiz Alquéres, engenheiro

A cidade de Glasgow, na Escócia, foi das primeiras que evidenciaram o enorme contraste dos benefícios e malefícios da Revolução Industrial. Uma cidade com empregos, grandes indústrias, mas, ao mesmo tempo, com tenebrosas condições sociais de habitação e saneamento para a classe operária. Ser pobre era sinônimo de estar exposto a todo o tipo de doença, desajustamento social e falência moral. A imagem disso eram os bairros operários desprovidos de infraestrutura física e social.


É um cenário bem descrito nos romances de Charles Dickens, que mais de um século depois ainda sugeriam ao nosso grande dramaturgo Nelson Rodrigues cunhar a expressão “órfão de Dickens”, como o paradigma da imagem do sofrimento.

 

Hoje, em Glasgow, no meio de um belo parque existe o Palácio do Povo, criado em 1898, que contém um museu da história social da cidade, que evoca essas imagens para que não voltem a se repetir.

 

Quarenta anos após eu ter desenvolvido um intenso trabalho de melhoria da infraestrutura física, que resultou, na época, na eletrificação de todas as habitações da Rocinha, eu voltei ao local acompanhado de algumas lideranças locais e de voluntários que desenvolvem importantes obras de desenvolvimento humano no local.

 

É inacreditável o grau de omissão do governo em efetuar as ações que lhe competem naquela comunidade, o que, aliás, se estende por todas as comunidades faveladas do Rio de Janeiro. Iniciativas como as que trabalhei do então prefeito Israel Klabin e do Presidente da Light Luiz Oswaldo Aranha foram descontinuadas tão logo estes se afastaram dos seus cargos.

 

O panorama atual é muito triste. Becos sujos, montanhas de lixo acumuladas na beira da Estrada da Gávea, pisos completamente irregulares, cabeamento de telefonia e internet distribuído com riscos reais para a população, precaríssimas condições de saneamento e abastecimento de água e toda a sorte de problemas nesse campo.

 

As condições sociais não são melhores. Trinta por cento das crianças não frequentam a escola, o IDH – Índice de Desenvolvimento Urbano é muito baixo e o comércio local se ampara em estruturas próprias que fazem o custo dos produtos ser mais elevado por lá do que em um supermercado na Gávea ou em São Conrado.

 

Em síntese, o cenário é mesmo de horror e a lembrança de Glasgow aqui não está registrada em fotos amarelecidas, mas no dia-a-dia de uma brava gente.

 

E por que brava gente?

 

Brava gente são os moradores que vi saindo para o trabalho em precários mototáxis, as mães levando pela mão, debaixo de forte chuva, menininhas vestidas de coelhinho para a festa de Páscoa no distante colégio, os pequenos salões de manicures, as tendinhas limitadas a um balcão com vinte diferentes marcas de cachaça, enquanto uns tipos suspeitos vigiavam máquinas de caça-níqueis, instaladas na parede de uma construção. E os constantes avisos dos meus guias: “daqui em diante não podemos avançar sem risco!”, embora todos os mencionados habitantes por lá circulassem.

 

Se acima descrevi sumariamente o horror da existência diária dessas vítimas do descaso, roubalheira e incompetência dos governos, por outro lado devo registrar a esperança de ter encontrado membros da sociedade civil e da academia empenhados na reversão dessa situação, com resultados impressionantes.


Essas pessoas decidiram trabalhar sem qualquer apoio dos governos e orientam projetos estruturantes que vi funcionar, como fabricação de detergente a partir de resíduos de óleo de cozinha, melhoria das lojinhas de prestadores de serviço, projeto de uma plataforma virtual de conexão entre fornecedores e consumidores, todos moradores da Rocinha, empreendimentos como restaurantes típicos ou paisagísticos de excelente qualidade e até mesmo guias turísticos para esse “museu ao vivo”, demonstrando a vitalidade local e as pontes que visam eliminar a cidade partida, criadas por essas pessoas maravilhosas, como o José Alberto, a Isabela, o Boca, o Marcelinho, o Toledinho, o Fred, a Julia, e tantos outros heróis do cotidiano.

 

Os cento e vinte mil habitantes da Rocinha votam dispersivamente e ela não elege sequer um vereador. Isso não deveria tirar a prioridade total para um projeto de urbanização que dotasse essa população de condições semelhantes à de seus vizinhos da Zona Sul. Isso custaria R$ 3 bilhões ou R$ 300 milhões ao longo de 10 anos. Essa importância poderia se distribuir entre moradores dos bairros vizinhos, na forma de contribuição de melhoria, concessionárias de serviços públicos e governos municipal, estadual e federal. É uma dívida social que deve ser encarada de imediato.


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