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Choque cultural




Nascido no Rio (Santa Teresa), me criando também nas terras cariocas, faculdade no exterior e hoje, após uma vida profissional nas modernas urbes do país, experimento décadas vivendo na e convivendo com a zona rural. Deixei de ser considerado um neo-rural (urbanoide recém-chegado no interior, cheio de certezas) e passei a ser aceito como um local.


Muita intimidade com a roça, suas incontáveis vantagens e – justiça seja feita – também algumas desvantagens, me transformou  numa pessoa mais humilde e sabida.


            Percebo um entendimento maior com a Criação. E veja bem, não tem nenhum cunho religioso nesta minha afirmação. É que acho que a Natureza é onde temos a maior oportunidade de estar em contato com a essência de tudo que está aí. O resto é criação humana.


Dependendo do entendimento da arte do viver, é sem dúvida uma experiência única.

Moro numa cidade de 10.000 habitantes. É no interior de SP onde a Natureza se exibe com fartura. Não há prédios nem elevadores. Sem semáforos (sinal de trânsito, para os cariocas) e onde também inexiste a hora do rush. A realidade é outra.


            Acredito que devemos nos preparar para a fase mais gloriosa de nossas vidas, num  espaço onde ainda persista o contato mais humano, que ao caminhar pelas ruas, se é reconhecido e cumprimentado pelo nome. Aqui tempo não é dinheiro, como dizem os americanos, mas seu dinheiro é tempo e tempo de sobra. Não há pressa. O dia leva 24 horas, mesmo! À noite a lua faz parte do cotidiano e foi quando percebi como inspirou tantos os poetas que a transformaram em musa. Hoje mal a vemos entre os arranha-céus. A paz é convivência diária. É um mundo com relações diferentes apesar de original. A lentidão do tempo o torna mais verdadeiro e honesto. É o ritmo da Natureza que parece respingar na cidadezinha. A Natureza, que sempre existiu e sempre existirá, nós passaremos.


                        Foi quando chegou o momento de minha visita ao Rio. De tempos em tempos retorno  para rever amigos, curtir uma peça de teatro, desfrutar de um lançamento literário, me deliciar num show, mergulhar num filme, etc. São privilégios e atrações das grandes metrópoles. A parte bacana.


                        Mas quando nos aproximamos da Cidade Maravilhosa, encaro de chofre, um trânsito vergonhoso na Linha Vermelha. Belo cartão de visitas, penso eu. Ao chegar em casa, o controle do portão da garagem do prédio, não funciona e temos que entrar pela saída. Chega a ser filosófico.


                        A partir daí foi – senão um festival – ao menos uma demonstração  factual do cotidiano de uma cidade grande. Me choco com a falta de civilização nas ruas e avenidas. Com a inexistência de guardas de trânsito nas esquinas, cada um cria seu “jeitinho” para chegar mais rápido, apesar do enrôsco que todos estão metidos naquela  hora do rush. As motos passam e passam sempre. Cuidado ao mudar de faixa! Toda a atenção é pouca. Ciclistas na contra-mão. Fechar o cruzamento é ocupar espaço vazio, mesmo que a preferência seja do tráfego que vem para cruzar este mesmo espaço.  Mas como já dizia Newton “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo”. Com os dias vai-se acostumando. Aos sobressaltos é verdade, mas sem surpresas maiores – espero.


                       Fico hospedado perto da praia, atrativo longínquo para quem vem da serra. Aproveito a estadia e num dia propício, me aventuro a curtir as areias, o sol e as águas do mar. Nem vou falar do assédio dos donos de barracas de aluguel de cadeiras e  guarda-sóis (sem falar do gentil dono da barraca de coco que já lhe empurra um geladinho) Não quero!


  Ao me acomodar, fechar os olhos e começar a curtir a marola, as ondas indo e vindo, uma brisa que alivia o calor do sol na pele... escuto berros : OLHA O BONÉ! CANGAS IMPORTADAS! MILHO QUENTINHO! CERVEJA ESTÚPIDAMENTE GELADA! QUEIJO COALHO DERRETIDO NA HORA! OLHA O SORVETE!... o que houve com o mate e o biscoito Globo? Provavelmente perdidos nesta Babel mercadológica. Quem busca praia tranquila que vá para a Bahia.


                       Vou me encontrar com amigos num restaurante na Gávea. Sou obrigado a chegar no restaurante às seis da tarde para segurar mesa. O encontro é as sete e meia mas a esta hora só encontrarei fila de espera. Rever pessoas queridas é sempre um prazer, até porque também é para isto que estou aqui. Justo às sete e meia o restaurante – que não é tão grande por ser um bistrô – estava já lotado. Lá fora uma algazarra com todas as mesas tomadas. Os banquinhos e mesinhas na calçada todas ocupadas  e rodeadas com gente em pé segurando seu chopp.


Dentro, meu grupo e eu tentamos nos  comunicar. Absolutamente impossível. O alarido misturado com a balbúrdia torna o papo um exercício extenuante de gritos e exclamações desconexas. Com um amigo saio um pouco para aplacar nossos tímpanos. Ensurdecedor é o adjetivo mais apropriado para compreender aquela conjuntura. 


                        Dito isto embarco de volta no dia seguinte para meu recanto. As experiências vividas não são anormais. Isto é o cotidiano na urbe. Fujo do perrengue que é um grande núcleo de milhões de pessoas aglomeradas sem empatia, sem solidariedade num egoísmo ultrajante. Pergunta: você conhece seu vizinho de porta?

 

Luiz Inglês

25 de abril de 2024


 

O que aconteceu com a Rose?



 

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