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Ritualismo ou Pragmatismo?



É quase Natal. Não tem muito tempo que eu embrulhava presentes e enfeitava uma árvore grande, tipo pinheiro. Não fazem muitos anos em que a família se reunia em volta daquela árvore, tentando adivinhar o que estava dentro das embalagens em papeis coloridos com temas natalícios. As amigas americanas que eu tinha faziam questão de marcar um dia para que nos encontrássemos e fizéssemos biscoitos que seriam decorados com esses temas, e os trocássemos entre nós. Outro programa habitual de mulheres era algum jantar em que se trocaria enfeites natalícios para nossas árvores.


Mais do que hábitos, esses eventos eram ritualísticos pois repetitivos e celebrativos do dia em que Cristo supostamente nasceu. Mesmo que a essência religiosa dessa data tomasse segundo lugar à frenesia consumista, o dar e receber presentes ainda podia ser ocasião de generosidade, surpresa, alegria e reunião familiar. Mesmo que muitos nem pensassem em Cristo ou nem fossem cristãos, a presença dele é simbolizada em cada presente, e os símbolos falam ao inconsciente de todos.


Devido `a força dos símbolos, no “livro vermelho” de Jung, que foi publicado depois de sua morte, ele diz: “você pode pensar que abandonou o cristianismo, mas o cristianismo nunca te abandonará.” Em outras palavras, o símbolo da cruz e o arquétipo da completude da personalidade representado por Cristo são indestrutíveis e moram dentro da gente.


Já não mais embrulho presentes e só tenho um pinheirinho de dois palmos como arvore de Natal. Por motivos ecológicos, eu e meus filhos, que já são adultos, não queremos gerar mais lixo no planeta. Isso meio que deprecia o ritual, mas não deixa de ser nobre, assim como o nosso fiel pinheirinho, que só ganha como adorno as mesmas luzinhas dos anos anteriores. Juntamente com as arvores antigas, as amigas que fazem biscoitos e compram enfeites natalícios elaborados ficaram no passado. Mas nem por isso deixo de me perguntar sobre um jeito de como honrar ritualisticamente uma data tão importante, mesmo dentro de casa.


Hoje, comprei online um perfume para minha cunhada, e me davam a opção grátis de colocá-lo numa linda embalagem de presente, com vários espaços para dedicatórias. Quando comecei a preencher o primeiro espaço, me lembrei do planeta e resolvi pedir o perfume sem ser para presente. Isso me fez lembrar o quanto eu admirava as embalagens desse tipo de produto feminino, especialmente as francesas. Elas eram como uma introdução ritualista ao produto que continham. Mesmo assim, hoje isso só pode ser visto como fonte de mais lixo. Ao invés de me encantar, me vejo forçada a pensar no resíduo em que se transformarão no momento seguinte, quando não mais poderão ser introdução de beleza.


O ritual, desde que valoriza o evento ou o objeto em si, exige que não se pense no momento seguinte; é atemporal. O pragmatismo, bem ao contrário, só valoriza resultados que estão sempre adiante. Americanos são pragmáticos por natureza, e assim deram cabo de mil requintes que não serviam exatamente pra nada, mas enriqueciam a alma.


No século passado, Oscar Wilde, que em sua visita aos Estados Unidos ficou nos melhores hotéis, declarou que o único lugar onde bebeu chá numa xicara adequada foi na cidade chinesa em San Francisco. Quanto a mim, acho que beber cerveja diretamente da lata, como se faz aqui naturalmente, muda o caráter da bebida. E scotch em copo de papel? E quanto a ter o nosso nome escrito numa etiqueta que colam em nossa roupa, em vários tipos de festa? Tudo isso é fruto da mentalidade pragmática, que vê o uso acima de tudo, e que corrompe o presente em favor do futuro. O futuro existe mesmo, e quando se trata de motivos ecológicos, somos forçados a nos abster no presente. Bendito seja o meu pequeno pinheiro e suas luzinhas. Bendito seja o gesto de não embalar nada com papeis de Natal.


Quanto ao ritual, vou à missa do Galo, que ganha de todos os outros. Ainda mais em latim!


 

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