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Retornando ao mea culpa



 

 

            Abandonando mais uma vez minha egotrip, a vaidade intrínseca do macho (que se considera) alfa, torno humildemente a dar continuidade ao meu relato das transformações operadas por aquela que transformou meu pretenso paraíso, num verdadeiro paraíso. Eu estava muito iludido.


Parece pouco, mas significa a diferença entre achar e saber, como há uma diferença substancial entre supor e ter certeza.  


Para dar um pitaco num artigo que precedeu este, eu contava das mudanças que acabei fazendo em minha casa rústica e centenária, para torná-la verdadeiramente habitável e com bastante  conforto. Antes eu só falava de mim, de minhas conquistas e vitórias. Mas sempre sob meu ponto de vista. Agora, baixo minha crista e continuo o mea culpa.


Assim como Beltracchi, notório falsificador (talvez o maior da história), apesar da maestria de seus pincéis, experts tinham dificuldades extremas em confirmar a autenticidade ou não de quadros de Picasso, que acabavam – com muito empenho – revelados como cópias, eu definiria portanto, minha pretensão em considerar meu canto na roça em plena Mata-Atlântica, no alto da Bocaina, como um éden na terra, quando agora – de fato – após as mudanças incrementadas, posso efetivamente afirmar que hoje é um recanto  de bem-aventurança com serenidade onde  encontro a plenitude do ato de viver. Mas isso foi uma das etapas.


As transformações pelas quais minha companheira e parceira (responsável pelas modificações inacreditáveis na casa e no entorno), valem uma descrição à parte. Mulher carioca da gema (exímia jogadora de  frescobol no Pepê – preciso dizer mais?), ao conhecer São Paulo, mudou-se e se tornou uma paulistana autêntica. Urbanoide por natureza adquirida, ao chegar na roça, nada conhecia, nada entendia. O coração a trouxe. Muitos medos também vieram e a acompanharam durante um bom tempo e, com eles, vieram um séquito de outras paranóias.

O pavor às cobras, a fobia às baratas, o pânico dos temporais com seus trovões e raios explodindo bem em cima de nossas cabeças, o susto quando aparecia um sapo boi, o terror das aranhas, das ventanias que desgalham os guapuruvus, pios de pássaros desconhecidos e tantos outros  encontros surpreendentes com a Natureza e suas incontáveis manifestações.


O silêncio também teve sua parte neste desassossego que a inquietava tanto. Cadê as buzinas? Onde estava o burburinho de uma “pauliceia desvairada” ? (com licença, Mário de Andrade). O trânsito característico com suas centenas de quilômetros de engarrafamento. Ali na roça talvez um carro por dia levantava poeira ao longe.


O início foi punk.  Muitos gritos e arrepios. Muitos saltos e pinotes. Velas acesas à noite para combater a escuridão plena. Qualquer ruído era motivo de uma busca incessante, seja lá a hora que fosse. Sem luz, sem fogão a gás, sem Internet, sem telefone ... como já disse, foi um início bem punk.


O tempo foi passando e de carioca da gema e paulistana autêntica, passou a surgir uma mulher combativa e aguerrida. Baixou-lhe no  ânimo, uma valentia insuspeita. Passou a entender Sêneca quando este disse: ...“a Natureza não se revela de uma só vez”. E, sem dúvida, o tempo foi moldando um destemor sensato de não se perder no pânico a cada aranha que surgia ou uma lagartixa que abocanhava a mariposa na parede. Aprendeu a lidar com cada susto, ajustando-o à solução. Ou seja, estes seres são moradores da roça, nós é que invadimos seu território. O respeito a cada um torna o dia a dia mais suave, menos agressivo. É só entrar em sintonia. Nenhum animal ataca, a não ser que se sinta ameaçado. E, acabamos percebendo que as versões dos acontecimentos e histórias contadas, são muito mais criativas e numerosas, do que os fatos em si.


Mantendo a casa limpa, aranhas e baratas somem. E quando falo de baratas não me refiro às baratas da cidade que vivem na sujeira ou no lixo. As baratas do campo são bobas e ingênuas e vivem na mata, nada de esgoto; cobras raramente aparecem no entorno se a grama estiver aparada; sapos se quedam parados embaixo das luzes externas aproveitando o alimento que lhes chega fácil. Foi até apelidado de Príncipe, por razões óbvias.


Depois da reforma da casa então, o convívio com a mata superou qualquer idealização.


Existe harmonia quando antes, para ela, havia medo. Hoje enfrenta qualquer momento mais tenso sem estresse. Basta uma vassoura para delicadamente colocar uma aranha de volta na mata. Uma cobra que inadvertidamente se aproximou demais, também é encaminhada de volta para seu habitat. Quando uma corredeira de formigas aparece e atravessa o espaço com seus milhares de insetos, ela sabe que em poucas horas já terão sumido.

Hoje, confesso que ela, aliada e companheira, por quem nutro afeição, amizade, carinho e amor, se tornou uma pessoa com uma trindade de qualidades: continua com seu jogo exímio de frescobol, conhece São Paulo e seus meandros como ninguém e agora, possui um conhecimento da vivência na roça que causa inveja em todos os amigos e amigas.


Está sendo sendo uma descoberta que seguramente preenche com galhardia o ato de viver e conhecer nosso planeta. É uma pessoa mais completa, atingindo patamares antes inconcebíveis (para minha felicidade). E vive bem, maravilhosamente bem, em qualquer espaço, em qualquer situação.


Não posso querer mais.

          

Luiz Inglês

Bananal, março de 2024


 

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