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O show do Chico pode salvar o mundo




Saímos no sentido da cidade do Rio de Janeiro no final da tarde. Seriam uns 150 quilômetros mais menos até nosso destino. Fernando ao volante. No carona e dando uma de copiloto, a Cris, sua esposa. Atrás, eu e Mariza. A apreensão maior de todos, era com relação à chuva, já que nesse estranho verão, chove todos os dias e a Serra das Araras sofreu deslizamentos recentes, no que deu em horas de trânsito parado ou lento. Jamais passou por nossas cabeças, chegar com o show começado. Não queríamos perder um segundo sequer. Por isso saímos com folga, a pista estava tranquila, como parece comum num sábado, e até a chuva foi bem cordata. Apareceu poucas vezes.


Minha cabeça já estava ligada no espetáculo. É um privilégio poder ir a um show do Chico. E conhecer ao vivo essa Mônica Salmaso maravilhosa. Por conta dessa expectativa, minha mente vadia vagava por imagens fantasiosas, típico dos meus delírios nesses momentos. A cena do meu filminho particular, influenciada por Chico Buarque tinha desse implausível diálogo com meu suposto cavalo.


- Cuide da casa, meu amigo. Vou chegar de madrugada.

E o animal aquiescera, como de costume, como se eu fosse lá um John Wayne de chapéu e esporas:

- OK, my friend.


Mas junto das dispersões geradas pelo espetáculo, pairava no lado mental consciente apreensões bem terra a terra. O que me empurrava pra fora do mundo da fantasia. Lera horas antes, reflexões ameaçadoras vindas de lados opostos do mundo. Vindas de extremos, ciência e religião, apontando para um epílogo comum. O chefe da Igreja Ortodoxa Russa alertou que a tentativa de destruir a Rússia pode significar o desastre para o mundo inteiro. “A Rússia tem armas poderosíssimas”. Ele afirmou que o conflito que interessa ao Ocidente, usando a Ucrânia como instrumento, está colocando não só o seu país, mas também a comunidade internacional sob “ameaças muito grandes”. Ah! Mas é um líder religioso falando o que querem ouvir seus seguidores, diriam. Mas, e se fosse um ateu, um prestigiado pensador de base científica que falasse algo parecido?


O mundo está à beira do abismo devido ao aumento do risco de guerra nuclear, falha em enfrentar os desafios ambientais e diminuição da capacidade de enfrentar os problemas racionalmente”. Quem disse isso foi o filósofo e linguista norte-americano de renome mundial Noam Chomsky. Ele lembrou que nos últimos anos o ‘Relógio do Juízo Final’, que reflete o quão perto estamos do Armagedom, se aproximou da meia-noite, o que simboliza a extinção da nossa espécie. Guerra nuclear e destruição do clima são as mais graves ameaças da humanidade nos dias atuais. Caramba! Nem se fala mais em outros riscos como a queda de um asteroide ou a expansão do sertanejo universitário!


Voltei à Terra quando Fernando anunciou a parada para um café. E me liguei que estava a poucas horas de presenciar uma das mais fantásticas manifestações da natureza, que é a interpretação via arte, que o ser humano tem do mundo e da vida de uma forma geral. Como é que tem gente que não esquenta com a possibilidade de não vermos ou ouvirmos mais Chico e Mônica Salmaso acompanhados desses fantásticos cavaleiros da música como João Rebouças, Bia Paes Leme, Chico Batera, Jorge Helder, Marcelo Bernardes, Jurim Moreira e Luiz Claudio Ramos? Tranquei as apreensões num porão distante, tomei o café e feliz seguimos pro show. Lá, ao meu lado alguém comentou que são apenas trinta músicas. E completa que “pra ouvir o Chico completo o show deveria durar uma semana”.


O espetáculo é aberto pela estupenda convidada de Chico. Mônica Salmaso, não só tem uma voz maravilhosa, assim como ela também é maravilhosa no palco. Uma presença de encantar. E vem o Chico, e os duetos vão nos desmoronando. ‘Sem Fantasia’ e só pra me chatear, eu que ando na sua busca incessante. E as emoções vem em ondas seguidas. Os aplausos explodem, as pessoas se mexem, requebram devagar. Chico homenageia Tom, Vinícius, Dorival Caymmi e para a irmã Miúcha, canta ‘Maninha’. A música nos vaza e contamina. Depois de olhos molhados e arrepios, o fim. E o ‘mais um’. E eles, pra quebrar de vez minha resistência cantam ‘A Noite dos Mascarados’. Imaginem, eu que sou louco por carnaval. E pra jogar a pá de cal, o mestre do sopro, Marcelo Bernardes com sua flauta mágica sola a introdução de João e Maria. A pressão nascida sabe-se lá se no coração ou nas memórias engavetadas, chegam ao gogó. Essa letra mostra um tempo de nossas vidas em que a fantasia era a realidade. A plateia canta junto. Lindo. Se os donos do mundo assistissem esse show, a humanidade não correria mais riscos.


“Agora eu era o herói E o meu cavalo só falava inglês A noiva do cowboy Era você além das outras três

Eu enfrentava os batalhões Os alemães e seus canhões Guardava o meu bodoque E ensaiava um rock para as matinês

Agora eu era o rei Era o bedel e era também juiz E pela minha lei A gente era obrigado a ser” (João e Maria/Sivuca-Chico Buarque)


 

Cultura

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