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NO REINO


Tudo ia de mal a pior no reino.


O povo havia se dividido quando da ascensão do novo rei. A divisão causara rompimentos terríveis. Quebrou empresas, rachou igrejas, inviabilizou famílias. Todos eram, por opção, monarquistas e haviam se cansado da república, que tantas outras opressões criara no passado. Mas o processo de escolha do novo rei, feita ao modo republicano, acabou gerando o atual dividido estado de coisas.


Dentre as famílias que reivindicaram o trono, é bom lembrar, havia de tudo. De representantes do conhecimento universal, sábios letrados e viajados, a assassinos corruptos, acostumados às benesses do estado por viverem, desde sempre, pendurados em instituições como polícias e forças armadas. O povo, coitado, nem sempre entendia a língua dos sábios, ainda que houvesse, dentre aqueles, alguns que falassem exatamente o que o povo queria ouvir (ou não seriam sábios!). E havia também, em meio ao povo, aqueles que representavam o que há de pior entre as gentes, aqueles que vivem aguardando a hora de se aboletarem numa posição superior qualquer, de onde seja possível mandar em alguém ou decidir sobre a vida de outrem.


 

O melhor da MPB / Playlist

 

O resultado foi conhecido após uma violenta e obscura campanha de difamação da ciência e da democracia, que parte dos candidatos acreditava incompatíveis com um reino livre (a democracia, insistiam, não havia funcionado na república e estavam voltando por isso à monarquia). Os pequenos reinos do entorno temiam. Haviam proclamado quase que em simultâneo as suas repúblicas e, também agora, naquele ímpeto regional que por vezes acomete continentes inteiros, embarcaram na onda monárquica, com suas idiossincrasias todas, seus nobres e palácios e etiquetas e títulos.


Abertas as urnas, não houve surpresas. O mal se instalou definitivamente no reino. E do interior das mais recônditas cavernas começaram a sair monstros e ogros para auxiliar a família real. E no reino passou a ser proibido estudar. Afinal, quem estuda conhece, aprende, amplia os horizontes. No reino ficou proibido ampliar os horizontes. Ficou proibido sonhar no reino. Os sonhos levam longe, criam melhores possibilidades. Ficou proibido criar novas possibilidades.


No reino se pode matar à vontade. O esporte preferido do reino é a caça. E na falta de animais, se pode caçar gente no reino. Você determina qual o perfil e atira. É a autorregulamentação.


O reino, ao suprimir o ensino, determina por decreto suas crenças científicas. Fica decretado que não há diplomacia entre reinos. Todos se detestam mutuamente. Muitos precisam das coisas que o grande reino produz, mas o reino parece afirmar que não depende de nada de fora, e assim não deve respeito aos demais. Segue vendendo, é verdade, mas não se sabe até quando, já que outros grandes reinos começam a demonstrar certa impaciência. Mas é proibido falar sobre isso no reino. No reino não se pode questionar os desígnios do rei. E dos herdeiros do trono.


À boca pequena, porque no reino só se podia dizer as coisas assim, se dizia que a economia do reino estava prestes a ruir, mas o rei não se importava com isso. Chamava sempre o monstro responsável pelos números, que parecia nada entender de matemática, aliás, para explicar que a economia crescia a olhos vistos. O fato de haver gente passando fome não era coisa séria, o rei dizia. Afinal, no interior, o reino continuava produzindo em escala industrial, especialmente onde era possível derrubar aquelas matas inúteis, que escondiam tesouros que poderiam enriquecer ainda mais o reino. Era preciso desalojar uns povos primitivos que ainda viviam lá e que impediam que o progresso do reino atingisse todo o território.


Eis que então, num momento de pujança do reino, em que o rei já via seus planos se realizando, veio a peste. Não custa lembrar que “pujança”, para o rei, não significava exatamente a mesma coisa para o povo do reino. Quando muito para seus numerosos filhos e seguidores fiéis. E a peste chegou quando o rei mais a desejava. Um projeto secreto do rei previa a importação de doenças, com o objetivo de aumentar a aversão dos demais reinos, criando ainda mais dificuldades pra que outros povos viessem a conhecer as maravilhas do reino. No reino tinham sido proibidas as visitas. E as saídas. Quem quisesse conhecer outros reinos, até pra estabelecer comparações, agora tinha sido impedido. O povo lembrava que, em tempos recentes da república, isso tinha sido muito incentivado.



 

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E o rei continuava recrutando os piores monstros e ogros, os mais detestados por seus próprios pares, aqueles que viviam nas cavernas mais escuras, malcheirosas e pouco visitadas, para assumirem funções no reino. Um ogro que odiava outros ogros foi colocado no órgão de proteção aos ogros. Um monstro que não se reconhecia como tal foi encarregado da vida dos demais monstros.


Com a chegada da peste, instalou-se um clima de festa interminável na corte. A cada boletim de mortos ou doentes, a corte exultava. Menos benefícios, menos escolas, menos hospitais, menos transporte. A corte encomendou mesmo um plano de aceleração, de modo a garantir um crescimento sustentável do número de mortos, para que não faltasse assunto para a corte e alegria para o rei.


Grandes reinos distantes, preocupados com suas próprias perdas humanas, iniciaram pesquisas diversas com o objetivo de conter a peste. Chegaram mesmo a oferecer parceria ao reino de nossa história. Mas o rei, que tinha objetivos muito claros, mandou um de seus monstros rechaçar o enviado de cada reino interessado.


A situação só começou a mudar quando um reino rico e igualmente governado por um rei louco e assassino fez uma mudança de rumo e passou a defender a vida. O tal reino tinha uma história antiga de defesa da morte, entretanto, num momento de sensatez, seus sábios decidiram valorizar a vida, nem que fosse para enviar soldados a alguma guerra distante, o que faziam amiúde. Isolado, nosso reino resolveu tomar providências.


Não tomou muitas, mas províncias e vilarejos foram ao rei implorar que ele lhes mantivesse a vida. A contragosto, o rei cedeu. Mas enviou monstros para que acompanhassem os procedimentos adotados pelos provincianos. E os monstros tinham a função de impedir que eventuais planos de sucesso gerados em vilarejos e províncias funcionassem. Uma grande vila em meio à densa floresta do norte quase sucumbiu, após organizada a grande sabotagem pelo monstro enviado pela corte.


O que o rei não sabia, ou não conseguia acompanhar, tosco que era seu raciocínio, é que nos cantões dos vilarejos mais afastados – e nos próximos – magos, fadas, duendes, elfos e mesmo ogros e monstros arrependidos, sem um comando claro, mas unidos pela vontade de fazer o reino voltar a sorrir, reuniam-se em torno da grande bola de cristal sagrada, guardada há muitos anos e ameaçada de destruição muitas vezes, e já viam no horizonte a derrocada da corte. Os menestréis já cantavam e até os dragões, que pouco apareciam, e já haviam sido amaldiçoados por gerações, não aguentavam mais a perseguição e, cuspindo fogo, se punham à disposição para ajudar na derrubada da família real. Verdade que ainda havia mercenários, agora alistados nas forças de segurança e aliados do rei. Mas alguns magos estavam se encarregando disso. Ganhariam algumas benesses, mas nada que ferisse o objetivo de defender a vida.


 

Adoro escutar Forros, Xotes e Baiões. Já me inscrevi nessa playlist.

 

E a festa se avizinhava e o dia da vitória estava perto!


A dúvida, entre os bons, era a escolha do imponente monumento central do grande evento, a ser importado, visto que seria difícil construir secretamente qualquer coisa com a grandeza que a ocasião exigiria.

Um famoso, importante e antigo reino do norte ofereceu guilhotinas, usadas em uma de suas grandes guinadas históricas. E também chefs de cozinha para ajudar na memorável festa.


Um outro, por prática, ofereceu cordas com nós próprios para a ocasião de despedida de governantes muito autorreferentes. E pizzas e massas, no que era referência internacional.

Um terceiro ofereceu tecnologia para a construção de um muro em tempo recorde, bem como sua derrubada tempos depois, mas que garantiria o isolamento do trecho desejado. E garantiu a cerveja da festa.


O grande reino do norte, cuja paciência havia de muito se esgotado, ofereceu soldados. Os magos preferiram deixar para uma próxima ocasião, já que na república, os soldados do norte haviam feito uma enorme quantidade de besteiras nos reinos do sul.

Todos seriam transportados por ônibus vermelhos oferecidos por mais um reino amigo.

Um grande império se ofereceu para fazer tudo. E as lembrancinhas da festa.

Só não queriam mesmo conversar com o rei.

A expectativa para a festa ainda é muito grande.

Espero não perder.


A armadura é um pouco desconfortável, mas vou vestir. A ocasião exige.


 

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Por Dentro da Cedro Rosa, com Nelson Freitas.


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Didu Nogueira e Jorge Simas, na Cedro Rosa






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