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Foto do escritorLéo Viana

MENINOS



O primeiro garoto pediu dois reais. A Martinha gostou da objetividade. O moleque tinha foco. Escolheu um valor certo, aquele estampado na notinha azul, valor padrão dos guardadores de carro, o preço dos doces, a menor unidade de nota desde que a verdinha, de um real, foi recolhida e que as moedas desapareceram sem explicação razoável. Deu os dois reais sem objeção e até com alguma admiração pro menino negro e franzino, com dentes muito brancos e olhar marcante.


O segundo menino pediu cinco reais. O olhar perdido parecia indicar uma inconsciência que podia ser fruto do ambiente, de algum agente externo, químico ou físico, de um atraso no desenvolvimento mental de nascimento ou derivado de uma história de desnutrição e abandono. Valor também fixado em nota menor, valor quase irrisório, mas que paga uma passagem, possibilita um deslocamento, um café, um pão até. Um pacote de biscoitos muito doces numa dessas lojas que se multiplicam pela cidade. Também atendeu ao pedido, mas sem orgulho, sem admiração, sem nem a humildade dos que doam. Sentiu pena de si e da sociedade que possibilitava a existência dos meninos que pedem.


O terceiro não pediu nada. Ficou olhando pra ela com a cara dos que precisam de tudo e não têm nada. Com a cara dos que não comem, não estudam, não viajam, não lêem. Nem sofrem, de tanto que não sentem nada. Não falou nada, mas o olhar dizia tudo. Ou nada, que era o que talvez ele tivesse pra dizer de uma existência sem nada de seu. Levou dez reais da Martinha sem esboçar reação de alegria ou dor. Talvez virasse comida, talvez droga, talvez nada. Não tinha a agressividade defensiva que a vida dá aos da rua nem a capacidade ofensiva que alguns desenvolvem nessas condições. Ele era a passividade neutra, distante, dos que não têm perspectiva, dos que só existem. Um tipo de coma social.


O quarto menino lhe arrancou o cordão e correu como um bólido de fórmula 1. Mal sentiu. A bijuteria de 1,99 parecia ouro, tinha sido parte de uma fantasia de carnaval. Acabara se apegando a ela, frágil, bem acabada, legítima chinesa comprada na Rua da Alfândega. Valor irrisório, menos que os dois reais do primeiro menino. Nem conseguiu ver as feições do garoto que levou o cordão. Se pedisse, talvez levasse do mesmo jeito. O calor intenso fazia suar muito, o cordão colava ao pescoço e incomodava. Queria ter visto a fisionomia da criança. Não era um estudo comparativo previamente planejado, mas já que a oportunidade surgiu...

O sol subia aos poucos e já eram 11 da manhã quando decidiu sair da sombra do quiosque e dar um mergulho no mar.


A água lava tudo. Talvez não lave a vergonha e a passividade  de uma sociedade que deixa os meninos assim.


Voltou pra casa a pé. Morava perto da praia, a Martinha. Herança.

A consciência e a sensibilidade eram dela, tinha conquistado a duras penas, em ambiente também desfavorável, mas não tanto quanto o dos meninos da praia.


Os pais e amigos não pensavam assim, a sociedade não pensava assim, os namorados não pensavam assim.


Sozinha, ajudava no que podia. Podia bastante, tinha bom emprego, ganhava muito mais do que precisava pra viver. Não resolveria o problema sozinha, mas o que considerava a sua parte, fazia.

Dentro das possibilidades, era feliz, a Martinha.


O cordão não ia fazer falta, mas talvez fosse ao centro da cidade em algum momento só pra comprar outro.

Nem que fosse pra ver o rosto do garoto, num futuro reencontro.

 

Rio de Janeiro, janeiro de 2024.


 

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