MAIS UM CONTO DE CARNAVAL...
A Taninha era porta bandeira desde o primeiro desfile. Acreditava numa estranha relação entre ela e cada porta estandarte antiga e atual que se fez lendária. Em sua crença, era um pouco Mocinha, um pouco Wilma, meio Selminha, meio Maria Helena, um tanto Squel, um tanto Lucinha Nobre. Incorporava um cadinho de cada uma quando iniciava o bailado na rua mal pavimentada da cidadezinha da periferia, desfilando pelo único bloco de enredo local, O GRBC Periquitos do Amor. O bloco tinha surgido quando o pai dela, que descia de trem todos os dias pra trabalhar no Rio, encontrou num vagão um vizinho que ia desfilar na Intendente Magalhães, numa escola pequena.
O garbo e a elegância com que carregava a fantasia, tentando protegê-la dos impactos que a superlotação do trem podia causar, comoveram o Waldirzão, que era chamado assim pelo tamanho e físico avantajados, mas que era um doce de pessoa, fiel de primeira hora da igreja matriz do bairro, pai afetuoso, marido exemplar e trabalhador dedicado numa fábrica de roupas, onde era overloquista, uma atividade que exigia cuidado, delicadeza e atenção normalmente associados às mulheres.
O Waldirzão viera do interior já apaixonado pela dona Candinha, na época uma linda pretinha de 18 anos, louca pra descobrir o mundo com o amado. O trem que os trouxe nem existe mais. Passaram maus bocados, mas se estabeleceram, tiveram e criaram os filhos, profissionalizam-se, ela professora primária e ele na costura. Dona Candinha já se aposentou, mas vive sendo convidada pra ser homenageada nas escolas por onde passou. Alfabetizou milhares, deu esperança e ampliou os horizontes de muitos.
A Taninha, a mais nova dos três rebentos do casal, logo cedo se encontrou na profissão da mãe. Brincava de dar aulas pros coleguinhas desde antes de conhecer as letras. Fazia o bedel, chamando às falas quem matava aulas e até imitava a sirene da hora do recreio, com merenda e brincadeira. Não houve como alterar o destino. É a professora querida dos meninos e meninas da escola fundamental do bairro. Ama demais o ofício. Solteira, tem em cada criança um filho querido.
Moça do interior, cursou pedagogia no pequeno campus da grande universidade pública, instalado perto de casa. Assim, poucas vezes ao longo da vida foi à capital. Jamais sentiu falta. Muito raramente desceu com os pais pra ir ao Zoológico, mas não gostava de ver os bichos presos. Preferia as cachoeiras de perto às praias badaladas e, mesmo possuindo uma beleza capaz de mexer com o imaginário machista dominante, ou talvez por isso mesmo, mantinha o recato e a discrição, evitando sempre distanciar-se muito de seu mundo de origem . Repetia orgulhosa o verso do Samba do Méier, pérola de Wilson Batista e Dunga: “Não preciso da cidade pra viver “.
Mas tinha uma fraqueza: o samba!!
A vida de professorinha do interior entrava em suspensão nos dias de carnaval e nas raras vezes em que, durante o ano, algum samba se batucava na localidade pacata. Pacata demais!, reclamava a Taninha vez ou outra.
Se deixava levar pelo samba no pé, mas não perdia o recato. Preferiu se tornar porta bandeira quando o pai, naquele dia do trem, inspirou-se para criar o bloco. Podia ser passista, rainha de bateria, musa. Mas não. O pudor falara mais alto. Não queria que a vissem como a mulher sensual que sabia que era. Não queria ser objetificada. Mas precisava estar no samba. Não era cantora, não tocava instrumento, mas sambava como as maiores, adorava tudo o que se relacionava com o samba e com as escolas de samba, cantava sambas que ninguém conhecia, como se uma memória ancestral tivesse existido com ela desde sempre. Era capaz de enumerar os desfiles campeões e os principais sambas de enredo da maioria das escolas com a precisão de um especialista, as polêmicas de cada ano, os injustiçados, os “campeões morais”.
E naquele carnaval, pelo quinto ano seguido e sem perspectivas de alteração na escalação (em time que está ganhando...), Taninha estava provando a fantasia, cuidadosamente preparada pelo Waldirzão, pai, patrono, carnavalesco, presidente, compositor e aderecista dos Periquitos. Como sempre, era coisa fina e de bom gosto, apesar do custo modesto. Os poucos comerciantes da área ajudavam e o Waldirzão sempre conseguia uns retalhos na fábrica em que trabalhava. Naquele ano, especificamente, a fábrica tinha mandado entregar pra ele duas bobinas de tecido que davam pra vestir o bloco todo. Era um presente pro funcionário exemplar.
Pois foi naquele quinto carnaval, nos preparativos finais, provando a fantasia, conferindo o estandarte, que a Taninha viu a Leninha pela primeira vez. A Leninha era moça da cidade, acostumada às vicissitudes da urbanização, multidões, filas, transporte caótico, aluguéis caros, pedintes, desigualdade , violência. Tinha ido passar o carnaval na pequena vila, levada por uma tia querida que já não conseguia mais descer pra seguir o Bola Preta, fazendo descontinuar agora uma tradição de mais de 60 anos. A Leninha também aproveitaria pra escrever um pouco da tese de doutorado, que versava sobre a tradição carnavalesca de pequenas cidades do interior. A pequena jóia de cidade fincada a poucos quilômetros do Rio era um achado. O cenário perfeito. Taninha pareceu ter captado tudo apenas na primeira troca de olhares.
Não se desgrudaram mais. O Waldirzão, iluminado, fez gosto na amizade das duas. Dona Candinha desconfiou no início., mas logo entendeu tudo.
Os irmãos de Taninha, que tinham deixado o lugar pra estudar e viviam longe, adoraram a ideia. A Vila era pacata, mas não necessariamente conservadora.
Hoje, se passaram mais cinco carnavais. A Leninha, menos pudica que a Taninha, bonita, atlética até, é passista no bloco. Taninha se encaminha pra se tornar lenda como eterna porta bandeira.
Professoras, ambas. Taninha na escolinha, Leninha na universidade perto.
Amor de carnaval. De muitos carnavais.
Alalaô!!
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