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ZECA E A LITERATURA, por Léo Viana.



Léo Viana

A mulher e os amigos do Zeca não tinham notado nada de errado com ele. Verdade que, nos últimos dez anos, tinha voltado a se dedicar, com surpreendente afinco, à literatura.


Após um brilhante doutoramento obtido ainda jovem, em que estabelecia um inusitado paralelismo entre a literatura clássica russa e o realismo brasileiro de Machado de Assis e outros oitocentistas, abandonara tudo aos vinte e cinco anos para ganhar dinheiro no “mundo corporativo”.


Tratado – justamente – como um gênio dos negócios, passara os vinte e cinco anos seguintes enfurnado em salas de reunião, aviões e gabinetes, vendendo e comprando ativos, negociando milhões, empregando e desempregando gente, equipamentos e instalações.

Mantivera, para alegria de uns e desespero de outros, a honestidade intelectual e de princípios. Nunca fora acusado de negociações que estivessem fora das regras do mercado e jamais utilizara financiamento público ou vantagens, apesar do permanente assédio.

Tinha construído um patrimônio sólido e achava que já era a hora de dar um tempo da roda viva e voltar à antiga paixão. A família não entendeu, os amigos acharam loucura. Afinal, não estava longe a indicação para a diretoria latino americana de uma grande companhia automobilística coreana.


Mas, de uma hora pra outra, voltara a se embrenhar em autores russos. E também Joyce, Victor Hugo, Balzac, Thomas Mann, Proust.


Quando decidiu largar tudo, o impacto chegou a ser sentido na Bolsa. Nunca deixara de prever, com precisão cirúrgica, as boas apostas. E nem de contra indicar quem oferecia risco alto demais. Muita gente ficou órfã de seus palpites certeiros.


Tudo agora era passado. O mesmo impacto, no entanto, que causara no mercado de executivos financeiros, foi, no sentido inverso, percebido em alguns departamentos universitários. Muitos contemporâneos do doutorado, que hoje ocupavam posições de destaque na gestão e produção acadêmicas, lembravam com admiração da grande capacidade do colega, capaz de surpreender mesmo os professores mais escolados com a leitura super rápida e profunda dos clássicos russos e com a produção de estudos que chegaram a ser reconhecidos na Rússia como os mais originais jamais produzidos. Prêmios, conferências internacionais e uma inacreditável tournée pelo leste europeu para debates e festivais de literatura em mais de vinte universidades, tornaram o brasileiro de vinte e poucos anos, fluente em russo, um popstar da literatura internacional.


Seu desaparecimento do cenário tinha sido lamentado como a morte de um ente querido em grande parte do mundo acadêmico. Seu reaparecimento era festejado como uma ressurreição. Alguns se perguntavam se a capacidade seria a mesma, se o vigor da juventude não teria se apagado. Mas tratava-se de um gênio e isso ninguém podia ignorar.

Aceitou alguns convites para aulas magnas enquanto estudava as propostas de quinze diferentes universidades, inclusive duas americanas e uma russa. Num inesperado movimento, optou por enviar um projeto a uma pequena universidade no Mato Grosso do Sul. Aceito imediatamente, tornou-se o craque de um time de desconhecidos. Mas era uma opção. Dinheiro não lhe faltava pra viver. Alguma dor de cabeça com a aceitação da mulher, filhos adolescentes e, principalmente, dos amigos, que continuavam sem entender nada.


Os problemas começaram quando de um congresso no Nordeste. Apresentado pessoalmente a Ariano Suassuna, foi tomado de um êxtase involuntário que o fez discursar por quinze minutos em russo, aos brados, para uma estarrecida plateia de estudantes e professores de Olinda. Refeito, desculpou-se e falou do grande prazer em dividir a mesa com o autor, cuja dimensão poderia ser comparada a qualquer dos grandes russos.


De volta ao Mato Grosso do Sul, foi aconselhado pelo chefe de departamento a procurar o hospital universitário, em cujo setor psiquiátrico atuava um competente pesquisador de fenômenos semelhantes. Não aceitou a sugestão. Desculpou-se e retomou as atividades normais.


O segundo evento teve lugar num passeio com os filhos no Rio de Janeiro. Tomado, na subida do Corcovado, por um personagem da Montanha Mágica, discursou em alemão para os passageiros do trenzinho, alguns deles alemães mesmo, sobre as vicissitudes da vida, a subjetividade do tempo e a fragilidade humana. Ao fim do discurso, obrigou um estupefato maquinista a parar o trem no Silvestre, estação intermediária, a fim de que voltasse para o sanatório, onde, ainda sob o efeito do livro, teimava que precisava curar uma anemia, mas desconfiava que talvez tivesse tuberculose. Pediu – e obteve – o apoio dos alemães a bordo para conseguir se comunicar com o staff do comboio. Os filhos não sabiam o que fazer. Garotos de 13 e 16 anos, gostariam mesmo de ter ficado invisíveis durante o surto, mas limitaram-se a ligar para a mãe e acompanhar o pai, que só voltou ao normal quando se viu na porta do Hospital Silvestre. Chamou um aplicativo de transporte e voltaram, os três meio tontos, ao apartamento de Copacabana. O mesmo em que viveram muitos anos, antes da nova aventura acadêmica.


Convenceu os meninos a não detalhar o ocorrido para a mãe. No telefone, mais cedo, tinham dito que o pai abortara o passeio ao Cristo no meio, mas o nervosismo impediu esmiuçar mais. A mãe, Dina, advogada de reputação modesta que deixara o trabalho para acompanhar o sucesso do marido no mundo empresarial, tinha ido visitar parentes na Barra da Tijuca. Não os via desde o início do exílio no Centro Oeste.


Os dias restantes do feriado prolongado no Rio corriam bem e sem sustos, pra alegria dos meninos, mesmo obrigados a dividir a praia com uma intensa atividade cultural e visitas alternadas a museus, monumentos e bairros históricos. E foi numa visita à Zona Portuária, recentemente objeto de grandes intervenções urbanísticas, que aconteceu de novo.


Desciam a rua do Livramento, nas proximidades de onde nasceu Machado de Assis, quando Zeca viu-se impelido a recitar, com a voz empostada, trechos das Memórias Póstumas de Brás Cubas. Falando em português, não chegou a chamar a atenção dos transeuntes, que nem eram muitos, mas Dina e os garotos perceberam que algo não estava bem. O surto passou quando, já na rua Sacadura Cabral, cruzaram a Ladeira do Livramento, onde efetivamente nascera o Bruxo do Cosme Velho. O intervalo, no entanto, foi pequeno. Quase em frente ao começo da ladeira fica o Cais da Imperatriz, vizinho ao cais do Valongo, onde, por séculos, desembarcaram milhões de escravos negros.


O contato com as diversas camadas de história da região fez emergir das profundezas do inconsciente de Zeca uma torrente de expressões dramáticas em francês. Dina, percebendo o surto, e pela primeira vez acompanhando em tempo real os acessos literários do marido, limitou-se a acompanhar, mas reconheceu claramente trechos de “Os Miseráveis”. Também conhecia a obra de Victor Hugo. Foram longos minutos até que um discurso forte de Jean Valjean - contra a desigualdade social e lembrando os escravos na Galés - fosse substituído, ao fim, por um sereno pedido de desculpas e a certeza, compartilhada por todos, de que algo precisava ser feito com a urgência possível.


Decidiram juntos que continuariam observando eventuais novos acessos. Uma intervenção médica só seria requisitada se fosse constatado risco à sua vida ou à sua atividade acadêmica.

Desembarcaram em Campo Grande no dia 16 de junho, depois de dez dias no Rio. O clima inclemente no Centro Oeste brasileiro aprontara das suas e a temperatura não ultrapassava os 8°C. Não sentiram o normalmente escaldante calor do Rio, afinal o inverno parecia efetivamente se aproximar, mas não haviam se preparado para aquele frio. Entretanto, o grande indutor do novo surto foi a data. Ainda não haviam saído do aeroporto quando Zeca iniciou uma série de complexas ilações existenciais, em inglês perfeito e com forte sotaque irlandês, que alguns turistas - que passavam a caminho do Pantanal -prontamente identificaram como sendo de Ulisses, de Joyce.


Acreditaram mesmo que se tratava de algum tipo de comemoração, visto que toda a história do tijolaço irlandês se passa aos 16 de junho de 1904. A data é celebrada na Irlanda e em várias partes do mundo e conhecida como Bloomsday, em homenagem ao personagem Leopold Bloom. Foi um longo transe. Quase meia hora de Joyce profundo. E com plateia.


A informação chegou ao Departamento de Literatura por vias indiretas. Foi o suficiente para motivar nova sugestão de tratamento pelo diretor. Verdade que cheia de reservas e medo, já que lidava com um fora-de-série, a estrela da companhia.

Novamente obteve de Zeca a garantia de que ele estava bem e que não prejudicaria à instituição ou aos colegas.


Foram muitas outras intercorrências, nos locais mais inusitados e sob condições nem sempre controladas. Dina e os meninos já não se assustavam facilmente. Foi um pouco mais complexo quando ele recitou Lolita, de Nabokov, diante de uma família perplexa de camponeses, que obviamente – e para alegria da integridade física de Zeca – não entendeu nada do que ele disse em russo, apesar de se incomodar fortemente com os olhares lançados sobre sua menininha caçula. Dina contemporizou e tudo terminou bem.

Tinha virado uma curiosidade ambulante.


Já eram famosos seus momentos de incontinência literária, motivo de admiração e piadas de todo tipo.

Mas isso não terminaria bem.


Seu vizinho de apartamento, fazendeiro no Pantanal, era casado com uma linda mulher. E ela tinha trinta anos. Ele nunca ouviu falar em Balzac.


Foi um tiro só.


 

A Cedro Rosa, produtora e distribuidora de música e conteúdos, com sedes no Rio de Janeiro, New York e Tokyo inova com plataforma digital de licenciamento de múscas e streaming de conteúdos para terceiros


"O streaming veio para ficar", afirma Tuninho Galante


Quando se encontrou por acaso no Carnaval de 2020 em em uma farmácia em New York City, o músico e produtor Tuninho Galante, disse a Sergio Costa e Silva que o streaming seria uma realidade a partir do ano de 2020 e sugeriu a Sergio que gravasse e transmitisse todos os seus futuros concertos.

Mal sabiam que que estavam falando de uma realidade muito mais impositiva e urgente; a pandemia alastrara-se pelo mundo, tendo New York como um dos maiores pólos de contaminação - os dois sairam a tempo do lockdown e todas as atividades presenciais foram proibidas.


Galante, como faz todos os anos, tinha ido trabalhar na filial de New York da Cedro Rosa e trazia equipamentos de streaming de alta qualidade, para cobertura de eventos ao vivo.


"A pandemia somente adiantou o processo irreversível de SVOD, o streaming de vídeos on demand. Os grande conglomerados de comunicação e produção já se mobilizaram para essa nova realidade", afirma Galante.


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Ana de Hollanda, Roberto Menescal e Glória Braga conversam sobre música e direito autoral na Cedro Rosa.


A Cedro Rosa promoveu um animado papo com o compositor e produtor Roberto Menescal, a ex-Ministra da Cultura e compositora Ana de Hollanda e a advogada e ex-superintendente-geral do ECAD, Gloria Braga sobre a perseguição aos artistas e ao direito autoral.


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