Léo Viana
- 7 de ago. de 2022

Leoninos

Num futuro distante, centenas de anos à frente do nosso tempo, num pós vida desconhecido, os personagens do início de agosto se encontram pra uma confraternização.

Lá, uma das divisões arbitradas pela organização foi baseada nas características dos signos, mas não com o critério de afinidades, tipo Leão com Peixes ou Libra com todo mundo. A divisão fez com que cada nascido em um signo fosse obrigado a conviver, ao menos por parte da eternidade, com os nascidos no mesmo dia (de vez em quando era adotada uma variação, pra quebrar a rotina).

A confusão era tremenda com aquele monte de leoninos juntos, mas o clima não era ruim. Mesmo com um ou outro comportando-se como se estivesse com o rei na barriga (ou a rainha, como veremos a seguir).

Pois no pavilhão do 04 de agosto, cujos jardins eram de Burle Marx e a trilha sonora era feita por Louis Armstrong com intervenções do Dominguinhos do Estácio, Barack Obama mantinha as coisas em ordem em seu terceiro mandato de síndico. A grande dificuldade era o tratamento a ser dedicado à Rainha Mãe da Inglaterra, uma vez que não havia espaço para os rapapés a que ela se acostumara em vida. Sofrera o diabo no casamento com Jorge VI, o Gago, e deixara a filha Elizabeth com a Ilha, mas não tendo reinado de fato, ficara somente com a frescura cerimonial da realeza, que trouxera pro porvir, onde seus mimos não tinham razão de ser.

Joaquim Roriz tinha se candidatado contra Obama na eleição anterior, mas o discurso reacionário, meio coronelista, não fez eco entre as personalidades que dividiam o mundo das almas. A pressa com que Wilson Fittipaldi se deslocava também era motivo de apreensão entre aqueles mortos leoninos. Ele não precisava ir a lugar nenhum. E quem não entendia a pressa que ele tinha quando vivo, dando voltas em autódromos fechados, entendia menos ainda aquela velocidade toda depois de morto há tanto tempo. Bruna Marquezine, atriz brasileira recém chegada, ainda buscava se aclimatar.

Juracy Magalhães tentou um golpe, acusando Obama de abuso de autoridade. Queria criar um pós vida exclusivo para baianos ilustres, como ele mesmo se considerava. Mas houve reações contrárias muito fortes, inclusive em outros pavilhões. Ninguém além de ACM, ACMzinho e Luiz Eduardo Magalhães, que não eram de 04/08, enviou manifestações de apoio.

Rosemberg Cariry e Billy Bob Thornton, envolvidos com cinema, se apressaram em fazer uma parceria que garantisse o registro dos acontecimentos ali no pavilhão. João Paulo Cuenca se ofereceu pra fazer o roteiro, garantia de qualidade.

Foi então que José Luis Rodriguez Zapatero, trouxe a paella para a festa e Edilson Pereira de Carvalho, conhecido árbitro de futebol no Brasil, organizou a pelada comemorativa, que tinha o Pita, aquele famoso canhotinha do Santos de Juary e João Paulo, esses agora jogando em times de outros pavilhões.

Eu cheguei devagar, encontrei uns poucos amigos, comi a paella, não me arrisquei na pelada, sempre fui ruim de bola, mas encontrei uma outra amiga cavaquinista, também recém chegada, muito mais nova, e em pouco tempo o samba começou. E não tem hora, dia ou mês pra acabar.

Se a gente nunca teve pressa em vida, porque teria lá?

Nem a insistência de Urbano VII fez o samba acabar.

Quem iria levar a sério um Papa que durou 12 dias no cargo?

Rio de Janeiro, agosto de 2022.

PS.: Perdoem-me a autorreferência, mas foi inevitável.

PS2.: Eu não acredito em horóscopo, perdoem-me os crédulos.

PS3.: Óbvio, nasci a 04 de agosto.

PS4.: Eu e a Cecília Cruz (a amiga cavaquinista) não temos nenhuma pressa de passar pro lado de lá, mas daqui a centenas de anos, não vai ter jeito. O mesmo vale para todos os vivos citados.

Música

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