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Iniquidade Artificial e Sectarismo

Foto do escritor: Eleonora DuvivierEleonora Duvivier


 

       O tempo e o espaço representam a concretude da existência. Nosso corpo ocupa lugar na extensão do planeta, vive, e se transforma no tempo. A abstração do tempo e do espaço efetuada pela tecnologia e que culminou com a ‘vida’ virtual, sempre tendeu a aproximar a realidade da ficção.


      A velocidade reduz tanto um como o outro, os meios de comunicação os aniquilam, e a vida virtual nem mesmo os reconhece.

    

     Um dos maiores exemplos da aproximação entre ficção e realidade foi terem chamado, ainda na época de Ronald Reagan e da guerra fria, o sistema de defesa americano de “Guerra nas Estrelas”, a partir do título de um dos maiores blockbusters de ficção cientifica nos Estados Unidos. Na verdade, assistir o movimento de bombas lançadas no ar através de um mecanismo digital dá a qualidade mortal dessas bombas o aspecto lúdico de um jogo eletrônico.

    

    A televisão por si própria já há muito tirou a densidade dos fatos reais nos noticiários, como a destruição nas guerras que mostram, o sofrimento das pessoas e outras catástrofes, constantemente interrompidas por anúncios irresponsáveis e logo seguidas por novelas ou programas que nada têm a ver com a suposta realidade que tornou visível, tirando do espectador o tempo que este levaria para digerir e sofrer se assistisse, ao vivo, um decimo do que a TV lhe mostrou como fato reais.


Devido à vulgarização destes fatos, resultante da sua reprodução artificial, a audiência ainda se encontra mais capaz de se emocionar diante de um filme de ficção do que diante do noticiário, trágico ou não. 

 

A dimensão sagrada da realidade está no seu acontecer único, isto é, no seu vínculo com o tempo e com o espaço em que ocorre. Uma vez que estes são abstraídos e trazidos a qualquer hora para a sala de alguém através do vídeo televisivo, se tornam banais, substituíveis, e na vida de muitos, inconsequentes, isto é, são profanados. A profanação já começa por transformar qualquer um num espectador apressado e protegido pela segurança de sua privacidade. Alguém que pode banalmente interromper o que vê para ir ao banheiro ou para fazer pipoca.

 

Quanto a essa dispersividade, que é também irresponsabilidade para com a integridade do se pensa, há uns dez anos atrás, li um artigo inteligente que criticava o fato de se poder aprender qualquer assunto no google, formando assim, o que o escritor (gostaria de me lembrar seu nome) chamou de cultura na ponta dos dedos. Contrastou-a com a cultura pré- internet, que era construída de acordo com o temperamento de quem a buscava e a sua busca pessoal.


Lembrei-me disso há algumas semanas, quando eu estava contando a algumas senhoras a razão de um título que dei ao primeiro livro que escrevi. Tal razão envolvia uma lenda grega sobre a origem de uma flor. Assim que mencionei o nome da flor, uma moça amiga de minha filha (e que segundo esta é uma enciclopédia ambulante dos Youtubers que não para de assistir enquanto costura e vende roupas) se lembrou que aquela específica flor, de acordo com os vídeos que assistira, nasce em tais e tais condições, e daí desviou o assunto para as circunstâncias biológicas da vida dessa flor. O que devia ter sido uma explicação sobre o assunto de um livro que escrevi foi pulverizada na diarreia verbal sobre o que não vinha ao caso.  Não era só a amiga de minha filha que estava sendo impessoal, mas eu própria me senti aleatória e gratuita.

 

Outro dia, ouvi o filosofo francês Luc Ferry falar sobre inteligência artificial. O cara é ligado aos cientistas da google, e está por dentro do assunto. Antes de qualquer coisa, afirmou que o anonimato deve ser removido da internet. As razões são obvias.

 

O fato de qualquer um poder publicar online o que quiser sob qualquer nome e sem qualquer compromisso com a verdade promove não só a oficialização da falsidade, como a da irresponsabilidade.  Junto com isso vem também a pulverização do elemento pessoal.

 

 O anonimato digital, enquanto promoção da falsidade e irresponsabilidade, aproxima ainda mais a realidade da ficção, dando origem às notícias falsas (fake News) e a toda e qualquer fantasia possível em função do sectarismo que também, na sua qualidade fictícia, origina. Pois que, no domínio da ficção, o combate entre o bem e o mal é imemorial, começando nas estórias para crianças. No caso do mundo virtual, ele ganha então ascendência sobre tudo.

 

Constrói-se com impunidade teorias de conspiração absurdas tanto sobre os democratas quanto os republicanos, por exemplo. E as pessoas acreditam no que querem. O mundo, e os partidos políticos, estão fanaticamente divididos em polos opostos, e tal divisão se sustenta mais na ficção do que se inventa do que na verdadeira diferença. Muitos americanos chegaram a temer uma guerra civil.

 

Nesse cenário em que a verdade parece irrelevante e no qual o sectarismo, desligado do compromisso com a realidade, toma as proporções gigantes das fórmulas mais primárias da ficção, o mencionado combate entre o bem e mal, as pessoas ficam tão fanáticas e radicais quanto os puritanas, cada lado pensando estar ungido de uma causa nobre que lhe dá o direito de condenar o outro ao inferno.

 

Talvez um dia venhamos a acordar e sair de dentro da máquina gigante que nos transformou em personagens de um videogame primário e pobre, que engole as gradações de cinza e promove a cisão absoluta entre o preto e o branco.


 

 A cultura e a economia criativa têm um papel fundamental no desenvolvimento socioeconômico, promovendo inclusão social e geração de emprego e renda em diversos setores.


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