Ganhar eleições é fácil para Patricia Brasileiro

Talvez todos já estejam versados no que é o metaverso, mas para os que não estão, começo com uma resumida apresentação.

O metaverso é uma maneira de criar uma versão diferente de você mesmo. Meta quer dizer além de. E o verso, no caso, significa versão. Assim imaginando que você é magro, desleixado, preguiçoso e pobre, pode começar criando nas redes sociais um personagem novo, com o seu nome ou com um nome imaginário, alto, bonito, atlético e rico.

Tudo começou assim para facilitar paqueras e jogos de sedução.

E com o tempo foi se aperfeiçoando. Você teve que criar um endereço numa rua bonita, fotos da decoração da sua casa, roupas para você, carros , lanchas.

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Mas começou a ficar fácil identificar quando eram cópias de revistas.

Aí um espertinho teve a ideia de começar a vender na rede produtos para esses personagens fictícios: roupas de grife, tênis, quadros etc. Tudo virtual.

O próximo estágio foi quando os fabricantes do mundo real começaram a vender seus produtos: Dior, Gucci, Adidas mas também fábricas de automóveis, móveis e etc.

Para os que buscam mais exclusividade, leilões de palacetes virtuais , de quadros, de roupas únicas se seguiram. Excursões maravilhosas para destinos turísticos. E hoje este negócio já passa do bilhão de dólares.

Algumas pessoas mergulharam tanto nos seus personagens fictícios que passaram a ter enormes conflitos de personalidade já existem psiquiatras tendo que tratá-los. Tanto dos reais quanto dos imaginários. Psiquiatria e psiquiatras meta. Estes, caríssimos, não aceitam bitcoins.

Surge agora porém o candidato ideal para as futuras eleições.

Honesta, incorruptível, muito preparada nas melhores universidades brasileiras e com Pós Graduação no exterior. Após trabalhar alguns anos em indústrias e instituições financeiras, criou sua entidade non-profit que nasceu pequena, mas hoje rivaliza com grandes empresas.

O que faz? Prover moradia para os antigos moradores de rua aos quais fornece dormida e café da manhã.

Começou por fazer um levantamento que apontou que no Rio de Janeiro, possuía 20.000 moradores de rua.

Conseguiu, por aluguéis simbólicos, um , dois e no final 50 imóveis em bairros variados da cidade e começou aos poucos, adequa-lo a um mínimo de conforto. Com a Light conseguiu a ligação de luz. Com a CEDAE a de água. A cozinha é uma só no térreo, onde dezenas de conjuntos pia/ fogão podem ser usados rotativamente . Geladeiras industriais guardam os pacotes dos moradores cadastrados.

De meros habitantes de passagem os próprios moradores começaram a construir uma parede, pintar um cômodo de tal maneira que ao final de 3 anos a maioria destes imóveis apresentava um aspecto digno.

A população de rua no entanto dobrou para 40.000 e o trabalho de convencimento aos que inicialmente ocupavam os edifícios para retornarem a uma vida formal foi intensificado. Psicólogos e assistentes sociais trabalham estratégias motivacionais para que a reinserção seja possível.

A experiência foi precificada. Não computando o trabalho de orientadores qualificados, mas apenas os de porteiros, zeladores, enfermeiras e enfermeiros de plantão, professores e recreadores chegou-se ao custo médio de 1.000 reais por pessoa por mês. Os 20.000 abrigados custavam então 20 milhões por mês, 240 milhões por ano. A prefeitura assumiu esta verba de manutenção e também paga alimentos , material de limpeza e higiene. E eventuais doações. O Banco da Providência virou um parceiro e a União pelo Rio também.

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O custo dos orientadores, psicólogos, supervisores foi um problema. Nas primeiras edificações todos eram voluntários, muitos aposentados, mas isso não deu certo, Para os 20.000 abrigados havia a necessidade de mais de 2000 pessoas com formação especial. Elas então foram recrutadas e treinadas sob a condição de trabalharem o primeiro ano de graça. Recrutou-se também 200 captadores de recursos, que tinham como meta cada um captar 50.000 reais por mês. Muitos acertos e erros depois , inclusive um enorme programa de checar se os depósitos iam mesmo para organização, o que hoje é fácil de controlar, isso começou a funcionar bem. Esse milhão de reais mensais dava para garantir 5.000 reais por mês para cada um desses profissionais, em geral garotada em início de carreira, que não arrumava emprego. Este estágio passou a ser muito valorizado no ambiente de trabalho.

Nessa ocasião , para as eleições de 2028 , Patrícia Brasileiro, a nossa personagem fictícia, já distinguida por várias premiações , se candidatou a Prefeito. Nem preciso dizer que ganhou.

E deu-se então o problema.

Como fazer a meta candidata tomar posse no mundo real?

A resposta fica para a continuação desta crônica, um dia.

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