top of page

FAMÍLIA



Foram anos difíceis. A família, antes inseparável, vivia agora da recordação das monumentais festas que fazia em cada aniversário, cada final de campeonato brasileiro, natais, réveillons, grandes feriados. A primeira grande divisão aconteceu em 1989. Uma parte do grande clã caiu no conto do caçador de marajás. A parte mais sensata tentou pelo caminho da dissuasão não agressiva. “Ele é uma construção midiática”, “É um coronel nordestino disfarçado de bom moço”, “Tem tapuru nessa buchada”. Não houve jeito. Deu no que deu. Nenhum dos dois lados gostava muito do Itamar, mas ele, consideradas as circunstâncias e o tanto de situações ridículas, nem chegou a comprometer muito.


Nas eleições de Fernando Henrique, novo imbróglio. Enquanto os mais bem formados viam a solução em Lula, os menos estudiosos (e mais numerosos) achavam que só o “Príncipe da Sociologia” seria capaz de “civilizar” o Brasil. Nem tanto, nem tão pouco, sabemos agora, passado o tempo, possibilitada a reflexão posterior. Os tucanos venderam quase tudo o que puderam. Ah, a Vale... Como numa gigantesca liquidação, inauguraram os governos de coalizão ainda no tempo em que ACM reinava, fortaleceram o baixo clero, mas prepararam, nos descuidos, a ascensão de Lula. E foi dos raros consensos da família!! Foram anos e anos de churrascos pantagruélicos, viagens à Disney, passeios no Nordeste. A juventude entrando na universidade, estágios no exterior, uma grandeza. Um ou outro reclamava de mensalão, coisa assim, mas a maioria admitia que era o preço do governo de coalizão. A direita tinha preço. Sempre teve.


Com Dilma foi tudo tranquilo nos primeiros anos. Cessada a fonte do mensalão, a galera avançou onde deu. Petrobras, emendas. Onde tem dinheiro, tem gente mamando. A família se dividiu outra vez. Houve quem encenasse, na parte já do impeachment, aqueles infames votos dos parlamentares por Deus, família, pátria e outras entidades usadas diabolicamente naquele momento abominável, página infeliz da nossa história recente.


O que se seguiu foi um enredo  quase indescritível. Uma escola de samba teria muita dificuldade em sistematizar. Multiplicaram-se as redes sociais, a família tornou-se um misto de reuniões esporádicas, desgastadas pela intensa divisão de interpretações dos momentos históricos vividos e de debates superficiais, mas acalorados e radicais, travados entre mensagens de “Bom Dia”, paisagens paradisíacas e xingamentos aos candidatos adversários. Uma parte nadou de braçada na lava-jato, aquela mímica de probidade chefiada por uns paranaenses esquisitíssimos.


A cada notícia, culminando com a prisão do Lula, houve festa e memes de fogos de artifício. A eleição seguinte foi o que se sabe. A ascensão do grupo religioso-miliciano-militar-conservador, dado a rachadinhas, armas e negacionismo, praticamente significava a rendição do grupo mais esclarecido. A consagração da ignorância e da barbárie parecia definitiva. Uns poucos resistentes deixaram o grupo de mensagens para tentar outra forma de luta. Alguns, mesmo descontentes, permaneceram pra observar os passos do grupo vencedor, mas sem manifestações. Deus – que todos diziam ser da família - parece não ter gostado do desenrolar dos fatos e mandou a pandemia, que deixou ainda mais clara a intenção destruidora dos detentores do poder. Tentaram impedir a vacinação, não acreditaram no vírus, na ciência, em nada.


A justiça acabou tendo que intervir na história. Lula voltou à cena um pouco antes da Covid, tendo saído do Paraná em grande estilo.


O desastrado e desastroso governo que nos assolou a todos entre 2019 e 2022 manteve a divisão na família. Teve coisa de goiabeira, cor de roupa de criança, baboseiras de um tamanho nunca antes visto. Mas teve coisa muito séria, genocídio de indígenas, garimpo ilegal com apoio do governo, escola cívico-militar, ministro vendendo madeira ilegal, cocaína no avião. E tudo refletindo no zap e depois no Telegram, onde se podia dizer qualquer barbaridade sem nem tchuns.


Em 2022, nos estertores do negócio, houve quem radicalizasse à esquerda, acreditando que enfim se teria o fim do capitalismo, dadas as circunstâncias tão abominavelmente negativas. E que Lula seria um equívoco, porque não atacaria frontalmente os problemas. A maior parte da família, no entanto, seguiu a manada. Teve primo em porta de quartel, tio rezando pra pneu, sobrinho pendurado em caminhão, concunhado que só comprava na Havan, avó quebrando coisa em palácio de Brasília no 08/01.


O Natal tá aí. Papais Noéis de casaco vermelho arrastam sacos em meio às sucessivas e demoníacas ondas de calor que nos assolam. O planeta segue esquentando, mas a família marcou churrasco pro dia 24, agora que a picanha voltou a baixar. Todo mundo confirmou. Ou ao menos os que sobreviveram à pandemia. Uns três primos negacionistas morreram se negando a sofrerem a espetada vacinal. Alguns dos mais velhos também sucumbiram ao vírus. O Dallagnol foi cassado. O Moro tá com as calças na mão, o ex-presidente espera a vez de adentrar a Papuda. O governo de coalizão acerta umas e erra várias, mas pra ser melhor que o anterior, basta existir. Mesmo com ministro votando contra o marco temporal. A Venezuela quer comer a Guiana e a COP do clima foi financiada pelo petróleo. Os universitários que foram pro exterior nos anos Lula-Dilma têm bons empregos hoje. Alguns tendem à direita. Outros estudaram mais e são mais inteligentes.


Acho que tudo pode acontecer na ceia.

Se eu fosse da família, iria só pra ver!

E ainda dizem que a Tia Georgina faz uma rabanada dos deuses!

 

Rio de Janeiro, dezembro de 2023.


 

 A Confluência Visionária entre Ecologia, Desenvolvimento, Cultura e Economia Criativa: O Impacto Transformador da Cedro Rosa Digital na Música Independente Global


Escute agora!


Numa era em que a consciência ambiental converge com a inovação econômica, a Cedro Rosa Digital se destaca como uma força impulsionadora na interseção da ecologia, cultura e economia criativa. Certificando e distribuindo obras e gravações musicais, essa plataforma pioneira não só eleva a música independente, mas também catalisa o emprego e a renda.

Ao democratizar o acesso e garantir direitos autorais justos, a Cedro Rosa Digital estimula um ecossistema inclusivo para artistas emergentes. Além disso, suas práticas sustentáveis estabelecem um modelo para a indústria, fundindo crescimento econômico com preservação ambiental.




Este fenômeno não só impulsiona a economia criativa, mas também proporciona uma qualidade de vida aprimorada para músicos e profissionais do setor. Seu impacto global reverbera, oferecendo oportunidades equitativas e trazendo harmonia entre arte, sustentabilidade e prosperidade econômica. A Cedro Rosa Digital emerge como um farol inspirador na interseção entre arte, desenvolvimento e responsabilidade ambiental, moldando um futuro onde o crescimento econômico se funde harmoniosamente com a preservação do meio ambiente e o avanço cultural.


Escute agora!



+ Confira também

destaques

Essa Semana

bottom of page