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Dorme que passa ...



É possível que se aplique na história esta pequena frase que as mães costumavam empregar para crianças recalcitrantes na hora de dormir, que inventavam toda sorte de pretextos para levantar, ou para não apagar a luz do quarto.


Para a criança dormir é se desligar. É fraca a noção que eles têm do dia seguinte, do futuro, da continuidade. O presente é muito forte. Exagerando é como se dormir fosse, para ela, uma espécie do que a morte é para nós.


Quando pensamos na situação de impasse político para a qual estamos caminhando, no jargão americano uma " Catch 22 situation", ou lembrando o título da peça de teatro de 1966 do grande Vianinha, " Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come" , as vezes temos mesmo vontade de dormir e acordar daqui a 4 ou 5 anos.


Lembro também das reflexões de um velho amigo : " Os problemas se dividem em três tipos: os que não tem solução, os que se resolvem por si mesmos ou os que o tempo resolve". Triste, por apontar a incapacidade de protagonismo individual, mas verdadeiro para uma sociedade meio perdida no panorama de incertezas que a nossa enfrenta.


Algumas dessas incertezas são inevitáveis . Existem grandes ameaças decorrentes da necessidade de se mudar os modos de vida e de produção para se conferir sustentabilidade ao planeta. No curto prazo temos que nos adaptar à crescente automação e digitalização de tudo. A economia mundial varia entre juros negativos em alguns países e juros altíssimos em outros, como no nosso.


Na política a radicalização cresce a cada dia e agora a guerra na Ucrânia nos mostra a volta da barbárie, a incompetência da diplomacia e do diálogo, a ameaça de guerra atômica, a morte de inocentes, a batalha midiática pelas mentes , enfim, tudo que se considerava passado e superado.


É nesse tipo de contexto que a história nos mostra que nascem os ismos, como vemos no trumpismo, no chavismo, no bolsonarismo e no passado no stalinismo, no maoísmo, o peronismo.


É interessante observar que não existem rooseveltismo, nem churchillismo. Mas o gaulismo emergiu forte, ao fim da Segunda Guerra Mundial, na França. O que tem em comum estes movimentos, como também o nazismo e o fascismo? Um discurso ultranacionalista, violento, simples, de apelo popular, apontando um salvador de dotes excepcionais. Daí a necessidade do endeusamento, da construção mitológica de Portugal por séculos com o sebastianismo, o mito do Quinto Império e do caso do nosso atual Presidente da Republica. '


Ir contra este deus, para seus crentes fanáticos, é pecado mortal. Implacável perseguição a quem não concorda, usando todos os meios possíveis legais e ilegais para silenciar os dissidentes. È um pequeno preço a pagar para podermos dormir sossegados após delegar o que nos cabe fazer a um líder, como no passado ao Pai da Nação, ao grande Timoneiro, ao Desejado, ao Duce, ao Fuehrer, tão dispostos a conduzir os destinos coletivos.


Na incapacidade de entender o todo as massas seduzidas pelo discurso simplista delegam para cima.

Aqui está ainda pior, pois a delegação feita não é para cima, na realidade estão delegando para baixo. A democracia, que é a outra opção, é cansativa, penosa, exige intensa participação e ainda, um certo grau de conhecimento da história, porque suas promessas são de médio prazo. Difíceis de serem "compradas" pelos que sofrem no cotidiano.


Infelizmente não tem jeito, se dormir não vai passar. Estudar, conhecer, participar são coisas necessárias para mudar tudo. Por isso é tão importante uma educação livre, pluralidade e responsabilidade da imprensa, participação da sociedade através de organizações politicas ou do terceiro setor.


E coragem, especialmente no Brasil, para enfrentar a enorme tarefa de fazer uma sociedade jovem amadurecer aos poucos anos o que outras levaram milênios para aprender.


Ordem é bom mas liberdade e justiça eficaz são imprescindíveis. Se dormirmos acordaremos sem as três. Terão passado.



 

Música!


Sustentabilidade, Florestas!



Vejam a participação de José Luiz Alquéres em Live do jornal Valor Econômico.


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