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Foto do escritorLéo Viana

DIVAGATIONS



Há alguns anos voltamos de uma viagem à Europa dias antes do atentado ao Bataclan e de seus tremores secundários, inclusive na rua em que ficamos em Paris, a Fontaine au Roi, perto da Republique. Aliás, no ano anterior eu tinha ficado ao lado do Bataclan, na Passage Saint Pierre-Amelot. Meses antes dessa última confusão, tinha ocorrido o massacre do Charlie Hebdo e aquele outro caso igualmente horrível no mercadinho judaico. O pós-Bataclan foi marcado pela loucura na Bélgica. Em seguida, no 14 de julho de 2016, mais um louco-fanático-irresponsável atacou a multidão em Nice.


A história nos ensinou que nenhum colonizador é bom, especialmente no curto prazo. Ponto. Se nos apegarmos ao peso da palavra, COLONIZADOR, eu abriria exceção apenas nas ciências agrárias e biológicas (quem nunca ouviu falar em fungos micorrízicos e bactérias fixadoras de nitrogênio deve ao menos ter usado aquelas drágeas para recompor a flora intestinal durante ou depois de um piriri. É tudo colonizador. Se não ouviu falar ou nunca precisou conter um intestino revolto também, olhe no Google!). Nesse campo, os franceses não foram exceção. Foram maus pacas na maioria dos lugares onde fincaram bandeira, e a África em especial conheceu a crueldade da qual eles foram capazes. Também colonizaram áreas da Oceania e aqui da América, onde foram exploradores no pior dos sentidos, como seus irmãos ingleses, portugueses e espanhóis. Isso sem falar do sudeste asiático, onde deixaram marcas de dor que o tempo não vai ser capaz de apagar.


Quando escrevi aquele parágrafo lá em cima, mais que associar lembranças de viagens e aqueles horríveis atentados, eu queria chamar a atenção para o fato de que, pra além da loucura religiosa, tem ali uma vingança histórica, uma espécie de retaliação por um passado opressor. Nada justifica o que aconteceu, é absolutamente condenável, nenhuma vida vale esse tipo de coisa, etc, mas não é difícil entender de onde vem tanto ódio.



Mário Lago e seu universo musical. Ouça.



Mas a França, de 1789 pra cá, deixou na história marcas que vão além do passado sombrio de colonizador. A instituição da república, após a fuga de Varennes, em 1791 e a guilhotina no pescoço do Luís XVI, foi um marco para o enfraquecimento das monarquias de sangue na Europa (praga que, aliás, segue forte em uma meia dúzia de países...). Foram eles também que publicaram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento símbolo da Revolução que moldou a civilização ocidental de modo definitivo. Não parou por aí. Nos ensinaram urbanismo (Ah, o Haussmann...), metalurgia (aquela torre de ferro é muito bem feitinha, convenhamos!), jardinagem e paisagismo, sem contar com os impressionistas e os modernistas em geral que se refugiaram em Paris no início do século XX. Eles ainda ajudaram o mundo a descobrir a gastronomia, nos legaram a Piaf, o Proust e o Platini (isso só na letra “P”...), fora a Brigitte Bardot e a Catherine Deneuve.


Pra terminar essa conversa de legado, basta dizer que entre as góticas Amiens e Albi (adoro catedrais...) e o super Zinedine Zidane (de orgulhosa origem argelina!!!), há contribuições francesas distribuídas por todo o calendário do nosso tempo e pelo alfabeto inteiro.

Nem a vergonha histórica representada pelo governo colaboracionista de Vichy, na Segunda Guerra Mundial, que entregou milha