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CRISE



Nos documentários sobre a vida selvagem passados na savana africana, é muito frequente a cena em que os leões estão comendo, depois de uma daquelas caçadas cheias de estratégia, quando as hienas aparecem pra atrapalhar a refeição. Os felinos estão ali, tranquilos, traçando um búfalo, um gnu ou um hipopótamo, muitas vezes conseguido à custa do sacrifício de alguém do grupo (uma patada de girafa ou uma chifrada de búfalo pode cortar um leão ao meio sem muito esforço) e chegam as malas das hienas, que ficam mordendo o rabo de alguma leoa ou tentando roubar a refeição da turma. Isso quando não estão famintas e ameaçam comer os próprios leões ou leoas e seus filhotes.


Esse tipo de cena, que se repete com frequência nos canais de tv por assinatura, me veio à cabeça na tarde do domingo oito de janeiro último.


Nem é preciso um raciocínio muito elaborado para associar os personagens aos dois grupos de animais. A melhor parte foi certamente o fato de as duas aglomerações ocorridas em Brasília, a coloridíssima e ensolarada do dia primeiro e a verde e amarela acinzentada do dia oito, não terem se encontrado, o que daria elementos de catástrofe ao que, lamentavelmente, é só mais um episódio da nossa loucura cotidiana, agravada com a assunção desses Napoleões de hospício ao poder.



Música de alta qualidade, nesta playlist da Youtube.



Tenho certeza que integrantes do grupo associado aos leões podem não se sentir confortáveis com a comparação. Dir-se-á que são carnívoros violentos. Mas também aposto que uma rápida reflexão sobre os processos naturais não deixa dúvidas quanto ao mérito dos felinos na contenda. Os leões, como a esquerda e associados na imensa frente vitoriosa, usaram de estratégia e vigor físico e intelectual para reconquistar o poder. Se houve, como alegam as hienas, a contribuição de terceiros, por eles identificados como TSE e STF, ela ocorreu sim, no sentido de manter a lisura do processo, questionado o desde o inicio pelo bando descontente e derrotado.


As hienas não são más em si. Não há um julgamento de valor na ação dos animais, apesar de a aparência delas, hienas, não ajudar. Levamos muito tempo para deixar de associar feiúra à maldade, como queria o Lombroso[1], aquele médico positivista italiano que afirmava que todos os psicopatas ou delinquentes possuíam características antropomórficas que os identificavam e os diferenciavam das demais pessoas.


Definitivamente não é o tipo de nariz ou pescoço que indica a boa ou má índole de alguém e não é pelo sorriso sarcástico ou pela aparência mal ajambrada que devemos criminalizar as hienas. O que tem de errado no comportamento delas e dos golpistas do oito de janeiro é o não reconhecimento do esforço alheio numa disputa justa. Ninguém está falando aqui da meritocracia, que virou assunto recentemente e que normalmente parte de pressupostos equivocados.


A tentativa de obter, na marra, o que se perdeu ou não se conseguiu conquistar numa disputa sadia e livre é relativamente comum na natureza. Alguns pássaros depositam ovos em ninhos alheios, por exemplo. Sem contar os parasitas, de todo tamanho, dos minúsculos aos enormes, que se aproveitam sorrateiramente de nutrientes legitimamente obtidos por outros organismos.

Tudo isso, no entanto, é natureza. É instinto. Hienas, vermes parasitas, erva de passarinho ou carrapatos não têm condição de fazer diferente. As hienas – bem verdade – até têm. Também são boas caçadoras, o que só contribui para a presente analogia. Mas, dizíamos, a natureza os fez desse jeito. Só deu a eles essa capacidade, a de obter seus necessários ganhos à custa de conquistas de outrem.


O Lombroso, definitivamente, não tinha razão. Nem todo feio é mau. Mas a natureza é implacável. Quem nasceu pra parasita não troca de status. A insurreição do dia oito, vista à luz da teoria darwinista, indica que aqueles ali não evoluíram para além do parasitismo, o que, aliás, é uma forma muito complexa, ainda que, na maioria dos casos, se alimente de uma coisa só, numa clara demonstração de pouca inteligência. Ao menos em relação ao paladar. Mais ou menos como fazem os grupos de Telegram ou Whatsapp que municiam os bandos golpistas. Não sendo mais protagonistas, restou-lhes tentar recuperar, de qualquer jeito, o butim perdido.





O dramático culto ao feio que os caracteriza, como demonstrou a pinacoteca bolsonarista, vista na desocupação do Alvorada, é só um agravante que os aproxima da infeliz teoria do Lombroso. E que a destruição dos belos palácios de Brasília - e das obras de arte que os decoravam - reforça.


Enfim, golpistas podem até não ser necessariamente pavorosos esteticamente, mas seus horríveis gostos e hábitos nos remetem ao que parece ser um tipo de lombrosianismo indireto, ou coisa que o valha.


Ou, em última análise, como dizem os cultores do que é belo:

A crise é estética!!


Rio de Janeiro, janeiro de 2023.


 

[1]Cesare Lombroso (1835-1909)foi um médico italiano, nascido em Verona. Dedicou-se intensamente ao estudo do crime e do criminoso, embora hoje muitas de suas teorias estejam bastante ultrapassadas. Foi médico em uma penitenciária, o que explica porque se interessou pela questão da mentalidade do homem criminoso. https://canalcienciascriminais.com.br/lombroso-e-o-homem-delinquente/


 

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