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Comunidade 312. Nada de novo o front




A rotina semanal de usar a mesma linha de ônibus, no mesmo horário, acaba por aproximar passageiros. Com todo o natural entra e sai de outros passageiros, constato que pelo menos uma dezena de usuários se veem diariamente no 312, o ônibus que uso para ir trabalhar. Essa rotina gera uma certa familiaridade e as pessoas passam a se cumprimentar. Já são conhecidas.

 

Embarco e o motorista me cumprimenta. Aperta a minha mão e me deseja um bom dia de trabalho. Eu retribuo a cortesia e já aceno à senhora sorridente que está próxima da roleta, sempre no mesmo banco. Sigo para os bancos mais altos, sobre as rodas traseiras. É pelas janelas altas que entra um ventinho. Não tem ar-condicionado e o calor é insuportável nesse horário. Cumprimento a morena que responde com seus cílios longuíssimos. Ela também prefere as cadeiras mais altas. Me acomodo. No assento atrás do meu está a jovem estudante do SESI, uniformizada e plugada em seus infalíveis fones de ouvido. Me sorri e se volta à janela.

 

Não demora e entra uma senhora muito forte e séria. Até triste, admito. Ela é muda. Certa vez conversava por gestos com outra senhora, também muda, me pareceu. Em certa ocasião, entrou um homem cego e às apalpadelas sentou-se ao lado dessa senhora muda. Ele agradeceu por ela ter segurado seu braço para orientá-lo ao sentar-se. Foi meio constrangedor ver a fisionomia de ambos, quando ele agradeceu e deu-se aquele silêncio.

 

Em um ponto mais a frente, perto de uma clínica odontológica, entra um senhor de cabelos brancos. Ele manca. É sisudo e não fala com ninguém. Certamente é aposentado e aposto que é viúvo, mora com uma filha solteirona e os demais filhos moram longe.

 

Mais adiante entra uma senhorinha com um menino. Seu neto. Ela o pega na saída da escola, um jardim de infância. O menino segue direto para um dos assentos altos, como o que estou. Geralmente eu cedo o lugar. Quando por acaso um ‘estranho’ está sentado ali, o menino lança um forte olhar inquisidor para o intruso que ocupa seu lugar. Mas a avó contorna a situação, sentando ao lado e colocando-o ao colo. Logo lhe dá um refrigerante e ele sorri.

 

E assim nossa comunidade sobre rodas segue sua rotina de segunda à sexta-feira, sem maiores novidades. Uma ou outra pessoa, aparentando padecer de distúrbios mentais e falando alto com seu acompanhante, também se enquadra na prateleira da normalidade. Nem o embarque de um cadeirante pode ser considerado algo estravagante. Demora um pouco o processo de o motorista acionar o elevador na porta central do veículo. Só isso.

 

Pra não dizer que a rotina nunca foi quebrada, na semana passada sem mais nem menos, um cidadão, aparentemente normal, fez um discurso sobre o conflito no Oriente Médio. De pé no meio do corredor, ele bradou, bem alto, que o exército de Israel cometera mais uma infâmia ao atirar e matar “mais de cem palestinos famélicos” que abordavam comboios com ajuda humanitária. Comida e água. Assisto aos telejornais todas as noites e os âncoras se referiram ao acontecido apenas como um tumulto junto aos comboios humanitários em Gaza. E domingo o Fantástico não falou nada disso. Sujeito exagerado esse. 

 

A senhora sorridente lá da frente já tinha desembarcado, a senhora muda não disse nada, os longos cílios daquela jovem nem sequer mexeram, o velho aposentado e amargo não tirou os olhos do chão, a estudante do SESI continuou ouvindo sabe-se lá o quê e de olhos na janela, o menino ainda saboreava o refrigerante ao lado da feliz avozinha. Esse era o cenário quando desembarquei da cordata e tranquila comunidade do ônibus 312. Tudo normal.  


 

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