Cenas

01: "NA PRAIA"
- O senhor pode dar uma olhadinha enquanto eu vou na água?
- Claro.
- Quase me afogo. Está muito gelada.
- Mora onde?
_ Madureira.
_ Madureira, ô lugar pra ter mulher!
- O quê?
_ Nada não. Um amigo canta um samba que tem esse verso.
_ Ah! Moço! Moço! Quanto é o pastel? Quer? A pimenta, por favor!
_ Não, obrigado.
_ Mate! Mate! Tá gelado? Quer?
_ Não, obrigado. Casada?
_ Viúva. Quer passar óleo?
_ Não, obrigado. Que óleo é esse?
_ Sei não. Um vizinho meu que faz. Queima mesmo! Tô vermelha?
_ No ponto.
_ Tem um cravo no seu nariz. Posso tirar?
_ Ui!
_ Filhos?
_ Dois. Casal.
_ Cadê?
_ Tão na escola. Por isso eu vim.
_ Não trabalha?
_ Pensão. Ele era militar.
_ Vida boa.
_ Boa nada. Sozinha. Sinto falta de um companheiro, de um ombro amigo, de alguém que me leve aos pagodes... Adoro!
_ Vou dar um mergulhinho.
_ Ué, cadê ele? Foi embora?
02: "CANDIDATO"
Olhou para a mulher e para o filho e, com ar solene, disse:
- Sou candidato
- Pô, pai! Novamente? Na outra eleição, a Dona Walquíria teve 27 votos e o senhor, dois! Vai dar outro vexame? Só quem votou no senhor foi o seu Nonô e a Dona Marileia
- Um bêbado e uma vagabunda – disse a mulher. Ainda se lembrava de ela dizendo que ia votar no “bonitão do seu marido”! Uma oferecida.
-Nem a mamãe votou no senhor.
Isso ele lembrava: quando perguntaram quem votaria nele, não viu o dedinho da Quitéria levantado. Maior humilhação.
Em casa, depois, a mulher justificou:
- Meu voto vai pra gente que trabalha, séria, competente. Fui clara?
- O senhor quer ser síndico pra quê? – perguntou o filho.
- Vereador.
- Vereador o quê?
- Vereador. Vou me candidatar a vereador.
Após um silêncio constrangedor, a mulher correu para o telefone:
- Judite, como é mesmo o nome do seu candidato a vereador?
O filho pegou o celular:
- Claudinho, vou mudar de colégio. Depois explico.
Antenor faz uma cara de paciente e falou:
- O Nonô registrou um partido e vai sair pra prefeito. Quer que eu seja o seu vereador.
- Pai, não diz que me conhece não!
- Amor, se eu parar de falar com você na rua, você fica chateado?
- Querem me ouvir? Vocês não sabem nada. Qual o nosso maior problema? Qual o maior problema do bairro? Vamos! Vocês que são tão sabidos, inteligentes...
- A escola, pai. Está caindo aos pedaços, sem professores...
- O posto de saúde, amor. Não tem médico, não tem remédios...
Ele faz uma cara de pena e diz:
- O campinho de futebol.
O filho se levanta e diz:
- Mãe, vou pra praia. Volto quando fizer dezoito anos
A mulher liga a televisão:
- Vai começar a novela.
Ele se irrita:
- Vocês querem me ouvir ou não?
E, sem dar chance pra resposta, continua:
- O campinho está horrível! Sem grama, sem baliza, sem bandeirinhas...
- Pai, nunca teve isso lá.
-Eu sei, por isso a sua remodelação vai ser a minha plataforma. E aí é que está o meu sucesso: emprego pra muita gente. Querem ver? O Josué vai plantar a grama. O Jair vai fazer as balizas e as bandeirinhas. Dona Ivete vai fazer as camisas pro time. A loja do Adão vai vender as chuteiras e as meias. Nos dias de jogos, todo mundo comendo o churrasquinho do Cabeção e bebendo a cerveja na birosca do Neca. A batucada fica com o grupo de pagode do Quinho. O que acham? Já tenho até um slogan: Bola no campo, voto na rede! Torcedor vota no Antenor.
- Onze votos, pai, se o conjunto tiver seis pessoas. Não tem. Os músicos brigaram feio na última festa.
- Bobagem, filho. Atende ao telefone, amor!
- Oi, Walquíria. Tudo bem. Tudo bem. Ah, vai? Nesta eleição? Pode contar. Tchau. Walquíria, vai se candidatar a vereadora.
- Pai, pai! O que foi? Mãe, ajuda aqui. Ele está passando mal. Acho que vai desmaiar...
Música.
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