Bananal, ontem e hoje
- Luiz Inglês

- 22 de jul.
- 3 min de leitura

Quando me mudei para Bananal (cidade com 10 mil habitantes, na Serra da Bocaina) no início da década de oitenta, me comovi por conta de perceber um ambiente praticamente parado no tempo.
Havia, na época, um posto de gasolina, uma farmácia (a mais antiga do Brasil em atividade), dois bancos, nenhum restaurante que pudéssemos chamar assim, apenas padarias com refeitórios ao fundo, com o famoso PF.
Muitos cavalos montados por seus cavaleiros que desciam a serra para comprar mantimentos. Os cascos ecoando nos paralelepípedos me faziam remeter a um passado não vivido, mas que trazia uma saudade imensa na alma. As estradas vicinais todas de terra batida e era comum cruzar com pequenas boiadas que levantavam poeira assustadas com os raros veículos que cruzavam seus caminhos.
Bananal, uma das cidades mais ricas do Brasil na época do Império, foi do esplendor para o esquecimento e abandono. Várias razões colaboraram para este declínio em seus mais de 250 anos de existência.
Foi ali que o café se desenvolveu com força. De seus cafezais, surgiram as grandes fazendas do Vale do Paraíba. Foi a primeira cidade a exportar café brasileiro.Tamanho progresso obrigou os fazendeiros locais em 1888, a importarem da Bélgica uma estação ferroviária para escoar as sacas do café até o porto do Rio. Este ramal fazia baldeação em Barra Mansa e ía direto ao Rio de Janeiro. A estação ferroviária veio da Europa em estruturas desmontáveis e pré-fabricadas de aço, com placas duplas almofadadas e ajustadas por parafusos. Resiste até hoje na mesma praça, masinfelizmente se deteriorando. É o único exemplar montado no continente americano.Em 1974 foi tombada como patrimônio histórico pelo Estado de São Paulo.
Bananal teve moeda própria, tamanha era sua importância no Império. Documentos comprovam que o imperador D.Pedro II tinha que ter o aval dos fazendeiros de Bananal pra que o Banco da Inglaterra liberasse empréstimos vultosos importantes para o governo.
A aristocracia rural adotava a maneira de morar, de se vestir e de se expressar da corte francesa a mais influente da época. Considerando que esta pujança foi obtida com mão de obra de homens escravizados, comércio ainda tolerado naquela época.
A necessidade de um caminho entre as capitanias do Rio de Janeiro e São Paulo levou a que em 1770 fosse concluída a estrada que compreendia “vinte e tantas léguas de sertão que se fez romper na Serra da Bocaina”. E para povoar aquelas terras e criar “arranchamentos para os novos viandantes”foram doadas sesmarias àqueles que se empenharam na construção da nova estrada. E esta estrada tornou-se a primeira via a ligar Rio a São Paulo. Após o declínio por conta da fuga do café para terras mais férteis no interior paulista e da libertação dos escravos, Bananal voltou a ter um rasgo de prosperidade já que pousadas e hotéis, assim como restaurantes surgiram.
Mas, com com a inauguração da rodovia Presidente Dutra, mais conhecida como via Dutra, as cidades que faziam o caminho Rio-SP voltaram a ter declínio acentuado. Monteiro Lobato chegou a escrever um livro de contos “Cidades Mortas” versando sobre as cidades que ficaram decadentes esquecidas no tempo. Bananal, São José do Barreiro, Areias, Arapeí dentre outras. Lobato criou o Jeca Tatu usando o personagem rural como sinônimo de atraso e decadência.
Mas esta afastamento do progresso predatório trouxe um trunfo inestimável: a preservação da história, dos casarões, da mata Atlântica, da pureza das águas e das cachoeiras, dos monumentos, das fazendas históricas, das tradiçõesreligiosas e pagãs, das músicas folclóricas como o Jongo...
Hoje Bananal, apesar de seus ainda 10 mil habitantes pulsa energia.Todos os Conselhos Municipais são ativos (Cultura, Meio-Ambiente, Turismo, Segurança, Educação, Obras, Saúde e outros). Todas as estradas estão pavimentadas. Muitos hotéis-fazendas com áreas turísticas com atrativos naturais exuberantes.
Mas mesmo assim, a cidade ainda mantém um ar do século passado, com seus habitantes simpáticos e acolhedores. Hoje Bananal é Estância Turística e em 2019, a Serra da Bocaina foi reconhecida internacionalmente por seu valor inestimável para a humanidade. A Unesco concedeu o título de Patrimônio da Humanidade ao Parque Nacional da Serra da Bocaina a fim de protegê-lo e preservá-lo para as demais gerações.
Curiosidade: Bananal deve seu nome ao termo “banani” dos índios Purís, moradores originais da região, que significava rio tortuoso, diante dos inúmeros riachos e ribeirões que descem as montanhas.
Nada a ver com banana.
Luiz Inglês
Julho 2025
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