ANANIAS
O Ananias estava descontente demais com a vida e os hábitos urbanos. Mais até do queera com seu próprio nome, considerado um escorregão do pai dele em homenagem a um tio distante e que fez com que nosso personagem sofresse bullying de todas as formas. De “Bananias” a “Ananinha”, de “Ananás” a “Ananindeua”, qualquer nome que lembrasse vagamente o seu nome era logo convertido em apelido. E o Ananias convivia com isso. Crescido, o Ananias aprofundou o seu desgosto com a humanidade urbana. Não que não fosse, também ele, fruto desse mesmo meio.
Ananias nasceu e viveu no subúrbio até pelo menos os 20 anos, quando se graduou precocemente e, de emprego novo, se mudou pro atual conjugado no Catete. Trazia da Zona Norte, apesar do bullying, uma lembrança saudável e gostosa que buscava fazer funcionar como um norte pra suas decisões e seu convívio com os outros. De um tempo em que as mães, especialmente elas, depois da trabalheira diária na gestão da casa, sentavam-se na calçada pra conversar com outras mães, de modo a passar em revista os temas mais atuais da vizinhança, eventuais capítulos de novela, preço da comida e materiais de limpeza, etc.
O trabalho doméstico, hoje exaltado como parte da chamada “Economia do Cuidado”, não tinha o devido reconhecimento e já não era remunerado, como segue não sendo hoje, ainda que tenha recebido, ao menos da academia, a classificação de “importante e fundamental” para o conjunto dos demais setores da economia. Digressão.
O Ananias trazia em sua alma suburbana um conjunto já desusado de costumes e modos que conflitava com a urbanidade contemporânea. Queria mesmo era cumprimentar todo mundo, conversar, estabelecer laços. Frustrou-se. Nunca entendeu direito porque é que uma maior quantidade de pessoas aglomeradas, como na Cidade, contribuía tanto para a individualização quanto para a impessoalidade, num paradoxo indecifrável.
As pessoas se tornam mais individualistas e menos dispostas a relações comunitárias ao mesmo tempo em que se tornam parte de uma engrenagem descomunal e esmagadora que impõe níveis altos de convivência e, sabe-se lá como, as impessoaliza. O outro talvez sirva para alguma coisa, não mais que isso. Uma relação em que impera algo como uma “coisificação funcional”.
O Ananias não parava de pensar nisso, ao mesmo tempo em que era engolido pela distopia urbana das multidões, caminhava por avenidas entulhadas de gente e frequentava - quase cientificamente - blocos de carnaval e manifestações de massa, nas quais buscava provar suas próprias teorias de radicalização da impessoalidade e do individualismo. As massas não se conhecem e as pessoas, mesmo movidas por um ideal comum, seja se divertir no carnaval ou obter ganhos numa reivindicação, não sabem exatamente quem está ao seu lado. Pode ser um inimigo infiltrado ou um malfeitor disposto a fazer o mal, violentar, assaltar.
Faz muito tempo que o Ananias já não cultiva os hábitos que trouxe do subúrbio. Mantém a velha vontade de cumprimentar todo mundo e distribuir sorrisos, mas sua revolta interna com a forma como as pessoas se relacionam o fez guardar para si o já quis tanto dedicar aos outros. Tinha se tornado um quase insensível, mas que levava na alma uma sensibilidade machucada pelo ambiente hostil da cidade. Tudo elaboração dele mesmo.
Dezembro no Rio de Janeiro e o Ananias, impaciente com a validação de seus esforços solitários de pesquisa, viu no Trem do Samba mais uma chance de certificar sua personalíssima leitura da realidade. No sábado marcado pegou o metrô no meio da tarde em direção à Central do Brasil. Não havia o que errar. Já tinha ouvido falar no evento, mas em dezembros anteriores estava ocupado demais, usando todo o seu tempo livre pra meditar sobre as mazelas da vida urbana. Egoísmo, empreendedorismo, coaches, diversas possibilidades de criar hordas de self made men ou women. Tinha certeza que esse modo de viver não teria bom futuro. O Ananias estava ficando cheio de certezas.
O sol a pino não o fez desanimar. Queria ter a multidão no entorno, mas sua hipótese já estava estabelecida. A impessoalidade e o individualismo imperam nas grandes massas., vaticinou para si mesmo quando desceu do metrô e começou a ouvir, ao longe, o som da Velha Guarda do Império Serrano.
Uma recordação boa que tinha da infância era o hábito da família de ir ao menos uma vez por ano aos ensaios do Império Serrano, em Madureira. Lembrava até alguns sambas de cor. Ainda moleque, idealizava a vida como o funcionamento de uma escola de samba, com toda a engrenagem de confecção do espetáculo e a felicidade do desfile coroando o trabalho. Não gostava da competição e da lógica do “patrono”, geralmenterico e ligado a algum tipo de atividade ilegal, como aliás achava que deviam ser ilegais todos os ricos. Criança comunista, ele era.
Subiu as escadas do metro e foi imediatamente engolido pela multidão e pelo calor. Ao som do Império, começou a perceber algo diferente naquela gente festiva. Não sabia exatamente o que era, mas não era a mesma sensação de um bloco de carnaval ou de uma manifestação política, embora tivesse agumas características das duas coisas.Mistura de Bola Preta, Galo da Madrugada e Diretas Já. As músicas e o cenário da Central remetiam a outros tempos, menos impessoais, menos apressados. Mais pobres, talvez, mas ainda assim inspiradores. O público, diverso, podia vir da UFRJ, do Leblon ou do Complexo do Alemão.
Não resistiu e começou a cantar. Em pouco recebeu o primeiro cumprimento. Não demorou até que estivesse absolutamente enturmado, bebendo e dividindo cerveja com desconhecidos, trocando impressões sobre os sambas, o calor e a festa. Embarcou num dos trens, cantou muito, conheceu gente nova, do subúrbio, da Zona Sul, do Centro, de outras cidades e estados. Em Oswaldo Cruz, bateu ponto em diversas rodas de samba, assistiu a pelo menos três shows nos palcos ds festa e reviu seus conceitos de sociabilidade urbana. Conheceu até uma pessoa, com quem agora anda por aí, frequentando rodas de samba, mas também restaurantes, cinemas, aeroportos e rodoviárias. Em pouco tempo juntaram as escovas de dentes.
O Ananias rejuvenesceu. O desiludido de antes agora ri alto e à toa. A sociedade continua sem muito futuro e as perspectivas, numa escala macro, não são boas. Mas o reencontro com alguma felicidade transformou-lhe a vida.
- O samba salva!!, ele diz sempre, numa alegria – ou alegoria – que há pouco pareciatão definitivamente perdida.
Parece um tempo em que nem causava espanto chamar uma criança de Ananias.
Rio de Janeiro, dezembro de 2024.
Parceria com Universidade Federal de Campina Grande consolida tecnologia aplica à música
O aumento significativo nos pedidos de registros de marcas no Brasil reflete a valorização crescente da identidade empresarial como ferramenta estratégica. Segundo o Anuário da Justiça Direito Empresarial 2024, os depósitos de marcas no INPI aumentaram 143% em uma década, atingindo 402.460 solicitações em 2023. Em contraste, os pedidos de patentes caíram 18% no mesmo período.
O papel do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que regula marcas, patentes e outros direitos industriais, é fundamental nesse cenário. A autarquia também oferece mecanismos administrativos, como o processo de nulidade (PAN), para revisão de registros.
UFCG, líder em patentes, colabora com Cedro Rosa Digital
A Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) destacou-se novamente no cenário nacional, ocupando o 2º lugar geral no Ranking Nacional de Depositantes Residentes de Patentes de Invenção em 2023, com 101 depósitos, 60 a mais que no ano anterior. A instituição permanece entre os líderes desde 2017, graças ao trabalho do Núcleo de Inovação e Transferência Tecnológica (NITT), que apoia cientistas no processo de proteção da propriedade intelectual e inovação tecnológica.
Cedro Rosa Digital, UFGC e o Certifica Som
No campo cultural, a Cedro Rosa Digital fortalece o mercado criativo com o Certifica Som, uma plataforma desenvolvida em parceria com a UFCG, pesquisa o uso de blockchain e inteligência artificial para certificar músicas, garantir créditos corretos e assegurar direitos autorais. Esse sistema promove a sustentabilidade do setor musical, facilitando o licenciamento de obras para empresas de cinema, publicidade e jogos, e reforça o compromisso da Cedro Rosa com a inovação e a diversidade cultural.
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