COPA
Copacabana é terra fértil para personagens. Como esses dois, ambos morando na Figueiredo Magalhães. Ela, na esquina da Domingos Ferreira; ele, na esquina da Barata Ribeiro. Teriam nascido no Copa D’Or, se ele já existisse em meados dos anos 60. Ela nasceu em casa. A avó, parteira, não esperou o táxi que levaria a filha até Botafogo, onde estava marcado o parto. Ele nasceu, no mesmo dia, no São Lucas, quando o grande hospital ainda era só uma maternidade de bairro. O pai, médico, não queria que a mulher corresse nenhum risco. Cresceram ambos saudáveis. A praia, pra ele, sempre foina altura da Hilário de Gouveia, onde a turma do futebol se reúne desde que erammoleques.
Ela prefere Ipanema, com as colegas da escola que frequentou desde menina. Ele estudou no Humaitá, no Pedro II. Ele frequenta, com os amigos, um boteco na Rodolfo Dantas. Ela gosta mais da Adega Pérola, onde senta com as amigas quase toda semana. Cinema, ela ia muito ao Jóia, inclusive está comemorando a reabertura. Ele gostava de cinema grande. Ia ao Roxy, mas não frequenta mais. Ele, toda vez que arranjava uma namorada nova, levava pra ouvir música no Bipbip. Não era da turma mais frequente, não sabia os nomes das pessoas, mas achava o ambiente interessante, inclusive os esporros do Alfredo em quem falava alto. Uma vez viu até o Paulinho da Viola de perto lá naquele boteco minúsculo. Soube que o Alfredo morreu.
Ficou triste, era uma personalidade importante. Ela, pra impressionar os paqueras, levava na Modern Sound. Conhecia as estantes como se fossem suas. Escolhia discos raros de jazz, coisas antigas da MPB e cássicos, mostrava seu conhecimento das maiores orquestras e maestros, solistas e arranjadores. Chegou a estudar música. Ele chegou a fazer teatro. Mas achava tanto a CAL quanto o Tablado meio contramão a partir de Copacabana.