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Viva Waltel Branco! Músico, maestro, compositor e gênio dos arranjos




É possível caro leitor, que você não conheça meu “esbarrão” da semana: Waltel Branco. Na verdade, esse esbarrão nunca aconteceu. Confesso até meio envergonhado que só fui saber dele a partir do meu parceiro musical mais recente, Cláudio Menandro que é um mestre em instrumentos de corda e já rodou e encantou o Brasil num dueto de craques, com Paulo Moura. Cláudio também é compositor, repito, e será tema mais a frente. Voltando ao gigante Waltel Branco, o sujeito jogava nas onze. Além de um violonista da mais alta prateleira desse segmento, era maestro, arranjador, regente, compositor.


O nome diferente pelo qual foi batizado é resultado de um erro do escrivão num cartório de Paranaguá, litoral do Paraná, onde nasceu apressado, de sete meses, durante um passeio dos pais. Era para se chamar Walter. Isso ele só foi descobrir quase aos vinte anos de idade quando estudava num seminário e um abade o corrigiu ao ver que assinara ‘Walter’. Fora criado com esse nome, até aquele momento quando descobriu, comprovado pela certidão de nascimento, que seu nome era outro. Quis consertar o erro, mas as altas custas judiciais e os bolsos frágeis o impediram. E Waltel virou um original nome artístico.


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Claudio Menandro conheceu Waltel quando foi morar em Curitiba há cerca de vinte anos. Gostou de cara do sujeito. Ouviu dele muitas histórias e conheceu suas qualidades como compositor e violonista. Garimpou manuscritos e gravou um CD, ‘Tributo a Waltel Branco’ em 2004. Foi o primeiro trabalho no Brasil dedicado à obra do mestre. Mais para frente Cláudio organizou uma série de partituras e publicou em 2008 ‘A Obra para violão de Waltel Branco’. A peça é enriquecida com ótimos textos do violonista, compositor e arranjador Paulo Bellinati, do violonista e mestre da UNIRIO, Mário da Silva, do jornalista e escritor Zeca Corrêa Leite e do jornalista e produtor cultural, Álvaro Collaço, que é o produtor executivo do livro. O talento de Waltel como compositor, arranjador, regente não fizeram dele um personagem bronzeado pela luz dos holofotes. Ou os holofotes não fizeram justiça à sua elevada estatura artística. Acho que isso incomodou Cláudio Menandro.


A vida artística de Waltel não se limitou aos bastidores, aos estúdios de gravação, embora essa parte seja muito forte na sua carreira. Mas não era só isso. Com a música no sangue – o pai, maestro, saxofonista, clarinetista incentivou os filhos a seguirem esse caminho – ainda jovem frequentou rádios tocando com famosos da época em Curitiba. Um dia foi ao Rio de Janeiro participar da gravação do disco do acordeonista italiano Claudio Todisco e conheceu Radamés Gnattali que ou vê-lo levando um Bach no violão, o convidou para trabalhar com ele. Uma amizade pra toda a vida. Do Rio foi parar em Cuba tocando com a cantora Lia Ray que passara pelo país e o levara. Algum tempo depois saltou de Havana para os Estados Unidos onde conheceu e trabalhou com grandes cobras jazzísticos, gênero ao qual já era familiar pois tinha criado uma banda do gênero na sua adolescência em Curitiba. A intensidade da vida de músico, maestro, arranjador e compositor expunha também a identidade do seu ecletismo, marca visível do talento que ia do erudito ao sofisticado, passando pelo popular e pelo brega.


De volta ao Brasil se estabeleceu no Rio de Janeiro. Se envolveu com as movimentações iniciais da Bossa Nova. Participa de uma bolacha de 78 rotações lançada pelo, já seu amigo, João Gilberto. No disco, os clássicos ‘Chega de Saudade’ e ‘Desafinado’. Baden Powell tocou num disco lançado por Waltel em 1963, num grupo que contava ainda com Marçal, na percussão e Wilson das Neves na bateria. Seu prestígio como arranjador se consolidava e ultrapassou de vez as fronteiras quando foi convidado por Henri Mancini para fazer parte do corpo de arranjadores para a trilha sonora do filme ‘Pantera Cor de Rosa’, em 1963. Paralelamente, seu lado compositor decolava com gravações de gente de peso como Elizete Cardoso, Carminha Mascarenhas e a iniciante Elis Regina.



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Waltel Branco ainda se destacou como arranjador de trilhas sonoras de dezenas de novelas de grande sucesso da Rede Globo, empresa pela qual se aposentou em 1991. ‘Irmãos Coragem’, ‘Selva de Pedra’, ‘A Moreninha’, ‘O Bofe’, ‘Roque Santeiro” e muitas outras. A marca de sua engenhosidade sobressai na mais célebre de suas participações nesse campo, que foi na canção ‘Retirantes’ de Dorival Caymmi, tema da novela ‘A Escreva Isaura’. O conhecido “lerê, lerê” que nos remete às escravas nas senzalas e terreiros, é de sua autoria. A diabete tirou Waltel Branco de cena em novembro de 2018.


“Teu olhar, meu olhar, nosso olhar Tuas mãos, minhas mãos, a emoção A noite a se perder Nos faz, meu amor, outra vez Amar, sonhar

É manhã na manhã do adeus Repousa teus lábios nos meus Um beijo irá fazer Teu olhar, meu olhar Outra vez, amar, chorar” (Elis Regina: Canção de enganar despedida – Waltel Branco/Joluz)


 

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