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Uma ode à vida


Cid Benjamin


Uma sugestão para quem tem tv a cabo e assinatura do Netflix.

Pode ser visto nele o filme "Uma noite de 12 anos".


É imperdível para qualquer pessoa que tenha um mínimo com sensibilidade humana.

Em meus 70 anos de idade, poucos filmes mexeram tanto comigo.

Uma coprodução uruguaia, argentina, espanhola e francesa, dirigida pelo hispano-uruguaio Álvaro Brechner, logo que lançado, em 2018, o filme foi indicado pelo Uruguai ao Oscar. No festival de Veneza, depois de exibido, recebeu uma ovação de quase meia hora.


Ele é baseado no livro "Memorias del Calabozo", não editado em português, mas que pode ser encontrado em sebos e no portal Estante Virtual.


Conta a saga de três dirigentes tupamaros, dentre os nove classificados como "reféns" pela ditadura militar uruguaia e que, no mundo moderno, receberam um tratamento só comparável ao existente nos campos de concentração nazistas.


Dois dos três dirigentes cuja história é retratada no livro - Maurício Rosencoff, hoje escritor; e Eleutério Fernandez Huidobro, falecido em 2016; depois de ter sido ministro da Defesa do governo Pepe Mujica - são seus autores. O terceiro preso personagem do filme é o próprio Mujica, ex-presidente do Uruguai, que, por compromissos relacionados à sua atividade política, não teve condições de se dedicar também à redação do livro.


Aos presos considerados “reféns” os gorilas dedicaram um tratamento especialmente cruel. Não se tratava apenas de tentar extrair deles informações para o combate aos Tupamaros, mediante a tortura, mas de tentar destruí-los física e moralmente.

De fazer deles trapos humanos.


Torturados de forma intensa, foram mantidos durante 12 anos em calabouços em que não havia sequer vasos sanitários ou acesso a água, tendo que dormir no chão. Ficaram isolados de todo contato, seja com outros presos e seja com qualquer ser humano (inclusive os militares carcereiros).

Alguns dos locais em que foram mantidos eram poços secos, nos quais alimentos eram baixados por cordas e baldes, para serem comidos com as mãos. Os dejetos (fezes e urina) eram içados, também em baldes, por cordas.

É algo só visto na Idade Média.


O que torna o filme mais impactante é que ele não é só, nem principalmente, uma impactante denúncia. Claro que não poderia deixar de ser isso também. Mostra que o ser humano, capaz dos atos mais nobres, é também capaz dos mais ignóbeis.


Mas a impressão que tive é que esta não é a principal preocupação dos autores do filme. Ele é centrado na luta dos três presos para não enlouquecer e manter sua humanidade, apesar de tudo.

Assim, separados por paredes e sem se ver, dois deles inventam um código para comunicar-se por meio de pancadas nas paredes e, até, disputar partidas de xadrez imaginando tabuleiros.

"Nós nos agarramos à vida como uma planta trepadeira se agarra à parede. Se era necessário comer moscas, que para nós eram como passas com asas, comíamos moscas” - disse Rosencoff na apresentação do filme em Buenos Aires.


Um dos momentos mais impactantes do filme é quando os três saem do isolamento absoluto e um deles é deixado sozinho por alguns instantes no pátio interno de um presídio, podendo ser visto por centenas de presos políticos que se amontoam nas grades de janelas das celas em vários andares e o ovacionam. O preso, Ñato (Fernandez Huidobro), entra em transe, se porta como se estivesse num campo de futebol e, sob aplausos gerais, dança, corre, gesticula e comemora, fazendo de conta que estava driblando adversários e fazendo gols imaginários.

Esse caráter tocante e delicado e a capacidade de expressar, de forma radical, a luta pela humanidade (que, em proporções semelhantes é a mesma de um torturado que, para manter a sua humanidade, se recusa a dar informações aos carrascos) é o mais impactante no filme.

Eu diria mesmo que "Uma noite de 12 anos" é uma ode à vida.


Não à toa que boa parte dos que o assistem chora.

Ele mostra algo muito importante: apesar de tudo, a Humanidade pode vencer.

E, naquele episódio, apesar de tudo, ela venceu.



 

Escuta essa!




 

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