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Um pequeno passeio ilustrado pela música popular brasileira


Carlos Monte

A cena musical brasileira oferece espaço infindável para novas descobertas de artistas que, ao longo do tempo, deixaram marcas sonoras na alma do povo de nossa terra.


O hábito da pesquisa de pérolas perdidas na memória tem-me proporcionado muitas alegrias, que procuro dividir com amantes, como eu, do nosso vasto cancioneiro popular.


É o que passo a fazer, recordando Henrique Gonçalez, compositor de poucos sucessos mas de muito talento.


Tudo começou, há muito tempo atrás, quando ouvi pela primeira vez e me apaixonei pelo samba sincopado Amigo Urso, escrito em forma de carta e interpretado de maneira genial pelo grande Moreira da Silva (1902 – 2000).


Fiquei intrigado e comecei a procurar outras músicas de Henrique Gonçalez, responsável por um número limitado de sucessos - apenas 37 composições originais e 72 fonogramas segundo o IMMuB - registrados na voz do mesmo Moreira da Silva, seu mais frequente intérprete, e de alguns outros cantores famosos de sua época, que deram voz e cor às suas obras.


Descobri que uma das principais facetas do autor é a produção de cânticos umbandistas, louvando orixás e festividades comemorativas desse culto, indicando que o autor deve certamente ter sido praticante desta vertente da religiosidade de origem africana. Encontrei 15 destas gravações nas vozes de Honório Santos, Jamelão e Sussu, este último seu parceiro em 5 dessas obras, entre as quais destacamos Oxalá Está Chamando, São Cipriano e Mensageira Divina.


Gonçalez teve raros parceiros. Além do acima mencionado Sussu foram eles: Alfredo Neto (1), Julio Casado (1), Alfredo Lírio Junior (3), José Condé (1), Felisberto Martins e Oldemar Magalhães (1). Destes, são bastante conhecidos os três últimos, a saber:

José Condé (1917-1971), premiado escritor e jornalista pernambucano, natural de Caruaru, radicado no Rio de Janeiro, autor de muitos contos e novelas, que também exerceu atividade jornalística em O Jornal, boêmio, do qual não se conhece outras colaborações em composições musicais.


Felisberto Martins (1904 - 1980), compositor e letrista nascido no Rio de Janeiro, conhecido parceiro de Lupicinio Rodrigues, entre outras e Se Acaso Você Chegasse e Brasa.

Oldemar Magalhães (1912 -1990) compositor e jornalista carioca, autor de inúmeras canções carnavalescas, tendo sido parceiro de Luiz Antônio e Jota Junior na popularíssima marchinha Sassaricando, sucesso na voz da grande vedete Virgínia Lane no ano de 1952 e da Marcha do Remador em parceria com Antônio Almeida e gravada por Emilinha Borba para o Carnaval de 1964.


As 20 canções populares que encontrei, a maioria delas sambas, foram registradas na interpretação de artistas como: Bando da Lua, Patrício Teixeira, Trigêmeos Vocalistas, Odete Amaral, Ataulfo Alves, Cyro Monteiro, Alcides Gerardi, Ericsson Martha, Jayme Vogeler, Oscar Silva e o mais constante de todos, ao qual daremos especial destaque, que foi o grande Moreira da Silva.


Encontrei ainda 2 músicas promocionais, Defensores da Lei e As Américas Unidas Vencerão, que fogem ao escopo desse modesto trabalho.


Segue uma lista, por ordem cronológica das músicas que consegui ouvir no Youtube ou no Acervo do Instituto Moreira Salles, indicando: data da primeira gravação, gravadora, intérprete, parceiro e endereço digital:



2.Vá Andando Rapaz 1941 Odeon Trigêmeos Vocalistas


3. Coração Tamborim 1941 Odeon Odete Amaral


4. Não Faça Isso 1943 Victor Cyro Monteiro https://discografiabrasileira.com.br/composicao/70288/nao-faca-isso


5. Isto É De Doer 1943 Odeon Ataulfo Alves - Henrique Gonçalez com Felisberto Martins https://www.youtube.com/watch?v=bX5e6QlDGNw


6. Adeus Adolfo 1943 Victor - Patricio Teixeira https://discografiabrasileira.com.br/en/artist/9677/patricio-teixeira


7.Cartaz de Parede 1945 Odeon- Trigêmeos Vocalistas https://discografiabrasileira.com.br/fonograma/63510/cartaz-de-parede




10. Glorioso Imigrante 1954 Odeon - Alcides Gerardi https:/discografiabrasileira.com.br/composicao/71927/glorioso-imigrante


11. Gesto Covarde 1955 Odeon Ericsson Martha https://discografiabrasileira.com.br/disco/65856/odeon-13873



Observação: Não encontrei registro das músicas:

Dá Nessa Mulher e Não Há Ninguém Feliz, gravadas por Jaime Vogeler

Ela Sabe Mas Não Diz, gravada por Oscar Silva



Moreira da Silva foi o mais constante intérprete dele

com 7 músicas e cerca de 30 regravaçoes


1.Confesso RCA Victor 1933 (2 gravações) https://immub.org/album/78-rpm-73838



Alem disso, encontrei:

2. Amigo Urso (21 gravações) 1941 Odeon https://immub.org/album/o-ultimo-malandro


3. Bilhete Branco (5 gravações) 1941 Odeon https://immub.org/album/78-rpm-66986


4. Diplomata (3 gravações, Moreira 2 João Nogueira e Beth

Carvalho1) 1942 Odeon acompanhamento de Garoto https://www.youtube.com/watch?v=Nqz1JqnTCrY


5. Mentiras de Madame 1942 Odeon


6.Conversando com Satanás Odeon 1943 https://www.youtube.com/watch?v=bff61Akbh8Y




Consegui descobrir, pesquisando na UBC e consultando uma das filhas do artista, que Henrique nasceu em 29 de março de 1906 e veio a falecer em 8 de novembro de 1978, aos 75 anos de idade. Foi casado com a senhora Adélia Faria Gonçalez e o casal teve três filhas, de nomes Jurema, Norma e Cenira.


Finalmente gostaria de informar que, pesquisando na Hemeroteca Digital da Bib|iboteca Nacional descobri mais as seguintes informações contidas em notícias de jornais da época e que reproduzo a seguir:


Em 30 de janeiro de 1936, na Gazeta de Notícias, edição nº 00.025, aparece a notícia de que um leitor havia enviado para a redação do periódico a marcha Muquita, de autoria de Henrique Gonçalez

Em fevereiro de1935, Henrique Gonçalez publicou em O Jornal do Brasil, em A Noite e na Gazeta de Notícias, as letras de duas músicas carnavalescas de sua autoria que, aparentemente não foram gravadas e que registramos abaixo:


Mal de Amor

marcha


estribilho

Sinto no peito uma dor

Ai doutor!, ai doutor!

Me diga o que deu meu exame

Tome inhame, tome inhame

Não sei o que deva fazer prá curar

É amar, é amar ou zombar


I

Eu quero ver se consigo

A minha dor acalmar

Que até parece castigo

Será que é de tanto eu zombar?


II

Meu coração está ferido

Sinto no peito uma dor

Teria sido o cupido?

Parece mal de amor




Quando Dermos o Signal

Samba


estribilho

Hoje em dia,

Não é preciso fazer reclame

Porque de sobra todos devem conhecer

Que a hora conhecida do inhame

Constitui sempre um prazer.


I

Escute a voz da ciência

E deixe de experiência

Porque pode dar-se mal

A hora do elixir

É o que se vai ouvir

Quando dermos o sinal.



Não vá atrás de conversa

De gente que faz promessa

E não cumpre o que diz

Prá não sofrer um vexame

Só o saboroso inhame

É que lhe fará feliz.


 

Marchinhas e Sambas.



Roda de Samba!


 

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