RIO: HORROR OU SALVAÇÃO?
O personagem de Joseph Conrad sobe contra a correnteza um rio na África à procura do estabelecimento de um conterrâneo. Passa por tudo: diarreias, fedores, água impura, ataques de flechadas... mas, finalmente, chega ao seu destino, onde o conterrâneo só consegue balbuciar repetidamente uma palavra: “Horror, horror, horror, ...,”.
Pelo andar da carruagem, nosso Rio (de Janeiro) vai pelo mesmo caminho. Contrariamente ao rio africano, aqui são os serviços de segurança pública e de infraestrutura urbana que se desmontam. As Barcas, a Supervia, a BR-040 e, agora, a própria Light, estão em vias de devolver suas concessões por falta de condições mínimas de ordem pública. Enquanto a base do governo celebra feitos imaginários realizados pela administração, o caos urbano impera. Semana passada, em uma transversal da Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, quadra da praia, sofri uma tentativa de assalto pessoal às 14:00 horas. Sou velho, embora ativo, mas uso bengala.
Ao escapar do larápio, me refugiando entre as mesas de um restaurante que felizmente (e certamente sem licença) invadiu a calçada, fiquei sujeito aos olhares desconfiados do segurança particular do tal restaurante e também do assaltante que me olhava da esquina, mostrando o cabo de uma faca em sua cintura, com a aparente esperança que o segurança para lá me enxotasse. Sentei, tomei um pingado, como convém a um octogenário... e o assaltante foi procurar outro freguês. Rapidamente, deixei uma nota na mesa, corri para pegar o sinal fechado para os carros e cheguei em um trecho mais movimentado da rua, onde fui para minha consulta médica com um pequeno atraso.
Pela noite, incomodado com a inusitada agressão de um tipo ainda não sofrido em meus oitenta anos precedentes, comentei o fato no jantar. Minha filha me consolou dizendo que sai de casa sem qualquer joia ou bijuteria, olhando para todos os lados, andando rápido, atravessando a rua, entrando em lojas, enfim... um verdadeiro percurso de vídeo game, cheio de estratégias ... Isso ocorre em uma das áreas onde se cobra um dos maiores IPTUs do Rio de Janeiro, onde o regime de policiamento em vigor prevê 12 horas de trabalho seguidas de 60 de descanso. Como Crivella, que aprovou tal regime, acaba de ser condenado, pode ser que as coisas mudem.
Um convidado do jantar, típico carioca gozador, me reprovou: “Você está sendo contra a PDFR, a Política de Distribuição Forçada de Renda(!) O cara iria roubar seu celular e repassá-lo por 50 pratas para aquele funcionário público do tráfico (ou milícia) que, por sua vez, vendeu a concessão de assaltos naquela rua por uma importância semanal mínima pré-determinada. Este já os revenderia para o seu patrão pelo quádruplo do preço e, a partir daí, em breve, o seu telefone estaria no mercado por uns 1.200 reais. Possivelmente, com a mesma capinha. Criminoso é você, que impede tão virtuosa política de distribuição de renda!”
O humor sempre foi o antídoto do carioca para a enorme revolta contida que cada um de nós carrega ao assistir a crescente degradação da vida urbana devido a incapacidade de ação dos poderes estatais, em todos os níveis, de prover condições mínimas de vida à nossa população. Quando me queixava não pensava em mim, mas na folguista que havia ficado até mais tarde para servir o jantar (apesar de pagarmos o taxi dela para voltar para casa), mas sempre há a entrada dela na comunidade, onde paga pedágio para morar. Pensava também nas milhares de crianças que trafegam sozinhas pelas ruas; em minha turma de idosos e idosas, que a necessidade de respirar um ar mais puro leva a um parque ou praia; e aos cada vez menos frequentadores de lojas de rua, que tão tradicionalmente coloriam e mantinham viva a nossa moribunda cidade.
Incorrigível e esperançoso urbanista, eu pensava nos mais de quarenta anos de bons trabalhos do IPUR, de Curitiba, responsável pela formação de grandes urbanistas, prefeitos e governadores que fizeram e fazem daquela cidade um modelo para todo o Brasil. Há que se blindar entidades como o nosso IPP e as desvirtuadas UPPs, colocando sua gestão fora da política partidária, exclusivamente sendo dirigidas por critérios meritocráticos. Ou o Rio encontra um novo modelo de governança, ou viraremos uma terra de ninguém, da qual quem puder – não só investidores, mas moradores e trabalhadores – fugirá para cantos mais atrativos deste imenso país.
Por fim, ressalto que não é só policiamento a solução, como muitos pensam. Políticas públicas emergenciais de abrigo para populações de rua, habitação, alívio tributário das baixas rendas e outras são tão urgentes quanto – sem falar em um maior ativismo filantrópico. Viver só das belezas naturais está chegando ao limite no Rio de Janeiro.
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