“Respeito a mulher, mas a Ministra, não!”
- Lais Amaral Jr
- há 2 dias
- 4 min de leitura
Misoginia Racial - A Interseccionalidade entre Racismo e Sexismo
O título acima é do artigo da mestra, escritora e militante antirracista - em várias frentes, Rosenéia Terezinha de Oliveira que foi a protagonista da entrevista quinzenal da Criativos, semana passada. Nesta semana eu escreveria algo sobre o absurdo ocorrido com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva no Senado Federal, e eis que me chega o oportuno artigo da mesma Rosenéia, alguém que, literalmente sentiu na pele a agressão sofrida pela ministra por parte daqueles imbecis. Na certeza da importância do seu texto, científico e didático, dei folga aos meus teclados. Segue o artigo da Rosenéia.
Introdução - A misoginia racial é um conceito que descreve a opressão específica enfrentada por mulheres racializadas, particularmente mulheres negras, em sociedades estruturadas pelo racismo e pelo patriarcado. Esse fenômeno evidencia como o sexismo e o racismo se entrelaçam, produzindo formas únicas de violência e marginalização. Enquanto a misoginia tradicional atinge todas as mulheres, a misoginia racial adiciona camadas de discriminação baseadas na raça, resultando em experiências ainda mais violentas e excludentes.
Observando o exemplo de tratamento dispensado a duas mulheres muito conhecidas no Brasil, neste mês de maio no Senado, pra onde foram após serem convidadas pelos legisladores: Virginia Fonseca e Marina Silva; ambas ocupam espaços de poder de forma diferenciada. Uma é branca e ‘lidera’ uma empresa de jogos online que está sob investigação no Senado Federal e a outra é Ministra de Governo, que é uma das ambientalistas mais respeitadas no mundo.
Assim temos dois exemplos clássicos e bem contextualizados do que significa a misoginia racial. Evidenciaram-se as diferenças de tratamento dado a essas mulheres; para uma – a ‘rainha’ das bets – toda cortesia e holofotes e, para outra, agressividade e violência verbal além de ameaças veladas por parte de senadores brancos.
Este texto explora as origens, manifestações e impactos da misoginia racial, destacando como ela se manifesta em diferentes contextos sociais, desde a objetificação sexual até a violência institucional.
Definindo Misoginia Racial - O termo "misoginia racial" foi cunhado por estudiosas feministas negras, como Patrícia Hill Collins e Ângela Davis, para descrever a forma como mulheres negras e outras mulheres não brancas são subjugadas por sistemas de poder que combinam racismo e sexismo. Diferentemente da misoginia sofrida por mulheres brancas, que pode ser mitigada por seu privilégio racial, a misoginia racial é agravada pela desumanização histórica associada à raça.
A teórica bell hooks argumenta que a misoginia racial está enraizada na escravidão, onde mulheres negras eram tratadas como propriedade sexual e reprodutiva, sendo simultaneamente hiper sexualizadas e desprovidas de proteção contra a violência. Essa herança colonial persiste em estereótipos contemporâneos que justificam a exploração e a violência contra mulheres racializadas.
Manifestações da Misoginia Racial
Hiper sexualização e Objetificação
Mulheres negras e latinas, por exemplo, são frequentemente retratadas como "exóticas" ou "promíscuas" na mídia e na cultura popular. Essa narrativa remonta ao período colonial, quando mulheres negras eram vistas como seres insaciáveis sexualmente, justificando abusos por parte de homens brancos.
Violência de Gênero e Racial
Estatísticas mostram que mulheres negras e indígenas são as maiores vítimas de feminicídio e violência doméstica, muitas vezes sem a mesma atenção midiática ou ação policial dedicada a mulheres brancas. Além disso, a criminalização de suas resistências (como no caso de Mariana Ferrer ou Luana Barbosa) demonstra como o sistema judiciário as enxerga como "menos dignas" de proteção.
Marginalização no Mercado de Trabalho
A misoginia racial também se reflete na dupla discriminação no emprego: mulheres negras recebem os menores salários e enfrentam estereótipos que as associam a subempregos ou a funções de servidão, como o caso das domésticas, majoritariamente negras no Brasil.
Falta de Representação e Apagamento
Em espaços de poder, mulheres racializadas são minoria, e suas vozes são frequentemente silenciadas. Mesmo dentro de movimentos feministas, suas demandas específicas são negligenciadas, reforçando a ideia de que o feminismo hegemônico ainda é branco e classe-média.
Resistências e Caminhos para Enfrentamento
A luta contra a misoginia racial exige uma abordagem interseccional, como proposto por Kimberlé Crenshaw. Algumas estratégias incluem:
- Ampliar a representação política de mulheres negras, indígenas e outros grupos minorizados.
- Combater estereótipos midiáticos por meio de produções culturais que humanizem suas narrativas.
- Fortalecer políticas públicas que considerem as especificidades da violência racial e de gênero.
- Educação antirracista e feminista para desconstruir imaginários coloniais.
Conclusão - A misoginia racial é um sistema de opressão que demanda análise crítica e ação coletiva. Enquanto o racismo e o sexismo operarem em conjunto, mulheres racializadas continuarão a sofrer violências únicas e sistemáticas. Reconhecer suas vivências e lutas é essencial para construir um feminismo verdadeiramente inclusivo e uma sociedade mais justa. - Este artigo pode ser um ponto de partida para discussões mais aprofundadas sobre como estruturas de poder perpetuam a misoginia racial e como podemos combatê-las. Reflita sobre isso. Aja pra mudar essa realidade triste!
Referências:
- HOOKS, bell. Ain't I a Woman?: Black Women and Feminism (1981).
- CRENSHAW, Kimberlé. Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence Against Women of Color (1991).
- COLLINS, Patricia Hill. Black Feminist Thought (1990).
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