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Reflexões de final de ano


Suzana M. Padua


Fim de ano é sempre momento de reflexão. Mesmo com todos os desafios que o planeta enfrenta, como agora a COP 28 deflaga mensagens que ressoam como súplica por união das nações para que ajam com urgência e deem chances à própria sobrevivência da espécie humana e de tantas outras formas de vida, ainda teimo em ter esperanças em um futuro melhor. Melhor não, esplendoroso! Um amanhã em que possamos perceber como somos privilegiados por termos tanto. Sonho com uma realidade em que não haja fome, miséria, falta de tudo o que é básico para se ter dignidade. Desejo abundância, principalmente de amor pelo próximo, pela diversidade cultural e biológica. Amor pela natureza. Amor pela vida.


Se amor fosse o sentimento predominante, não teríamos sofrimentos, mazelas e perdas comuns que vemos na atualidade. Isso porque a Terra é abundante e generosamente dispõe de todos os elementos necessários para que a vida aconteça em profusão. Existem infinitos motivos para celebração.


Pode ser alienação minha, um espírito de Poliana que sempre me acompanha, um delírio natalino, mas o fato é que quero acreditar ser possível revertermos quadros que hoje vemos de atrocidades, guerras, agressões diversas, destruição da natureza e culturas milenares sendo aviltadas. Quero crer que seja possível despertarmos nossa consciência para percebermos a grandiosidade do que é a vida e assumirmos a responsabilidade para com todos os seres que hoje está em nossas mãos. O bom é saber que não estou sozinha com esses pensamentos de valorização da vida.


De acordo com Edgar Morin, em entrevista que deu nas vésperas de completar 100 anos (agora tem 102 e continua lúcido e brilhante), mencionou que dois autores o influenciaram. O primeiro foi Montaigne, que via a humanidade como sua compatriota, ou seja, compreendia que todos fazem parte de um mesmo grupo. O segundo foi Dostoievski, quando mostrava se importar verdadeiramente com os humildes. Segundo Morin, esses autores impregnaram sua vida e sua forma de pensar.


Para Morin, a humanidade enfrenta perigos que ela mesmo criou, como armas atômicas, degradação da biosfera, sede inesgotável por ganhos materiais e lucro. Quando perguntado o que nos faz humanos sua resposta foi simples: “é a bondade, a compreensão dos outros, a compaixão pelo infortúnio”. Em sua linha de pensamento, as questões da existência são complexas, mas viver não é sobreviver. Não é apenas desenvolver um caminho individual, mas cultivar um senso de comunidade. “É preciso reencontrar a solidariedade. É também poder ser reconhecido pelos outros em nossa plena qualidade humana”.


Sobre consumo desenfreado ou cultura da acumulação, José Mujica surpreende em sua explicação que vai além dos efeitos como a insustentabilidade da natureza, que é consequência. Sua explicação tem base na origem e, também, numa dimensão humana: o tempo de vida. Quando algo é consumido, o investimento é do tempo que a pessoa levou trabalhando para ganhar o dinheiro e poder adquirir o produto. Sendo assim, consumir é perder vida. O que se deve buscar é sobriedade para com o tempo de qualidade, que quanto mais se tem melhor é.


Para viver a vida verdadeiramente o indivíduo precisa dedicar-se ao que o motiva, sem ser necessariamente trabalho (pode ser também). É preciso se libertar da cultura da compra como realização. Isso porque a coisa mais valiosa que temos é estarmos vivos. É um milagre. Todos temos liberdade para escolher quais caminhos tomar. Mas a cultura do consumo é como uma teia de aranha que restringe o viver verdadeiro. As necessidades humanas não são muitas e, claro, precisam ser supridas. Mas, o problema é o excesso, no que cita Seneca, que diz que pobre mesmo é aquele que precisa de muito. https://www.facebook.com/watch/?v=1839150256141353

Também não estou sozinha quando reforço o valor do sonhar. Eduardo Galeano defende que todos precisam ter o direito de sonhar e serem incentivados a isso. Conta que ele e um amigo cineasta argentino, Fernando Birri, estavam dando uma palestra para alunos universitários e um fez uma pergunta que lhe parecia bastante difícil, mas que seu amigo respondeu brilhantemente. Para que serve a utopia? Sua resposta foi “...a utopia é a linha do horizonte e sei bem que jamais a alcançarei. Se eu caminho 10 passos ela se afasta 10 passos. Quanto mais eu a busco mais ela se afasta”. Isso porque “a utopia serve para o caminhar”. (https://www.youtube.com/watch?v=9iqi1oaKvzs)

Naturalmente busquei autores que exprimem sentimentos profundos, que trago comigo e quero disseminar. O bom é que não estou só quando continuo sonhando com transformações na nossa essência, como aponta Galeano quando defende a força da utopia para mudar realidades. Nem quando acredito nos seres humanos solidários, bons e que compactuam com toda a humanidade, sugerido por Morin. Também não estou só quando defendo que as consequências de nossas escolhas têm nos aprisionado e nos levado a desastres que podem ser evitados com a percepção do que acontece na realidade, conforme Mujica descreve em relação ao consumo.


Nosso futuro melhor, esplendoroso, como quero crer ser possível, depende de perspectivas como essas, que ampliam nossos olhares, nos tiram vendas que manipulam propositalmente para nos tornar robôs e nos roubam a sensação plena de nossa humanidade. Precisamos ser capazes de fazer escolhas conscientes, responsáveis, sustentáveis e justas, para sermos capazes de realizações plenas. É fundamental aguçarmos o potencial latente que temos como seres humanos, parte de uma teia de vida complexa e bela, de modo a permitir que afloremos os seres únicos e verdadeiramente resplandecentes que somos. Somos milagres da natureza!


Por que defendo essas ideias que podem parecer utópicas? Porque estão todas dentro de nós! Sei que temos o lado bom e ruim e um mundo de tons de cinzes entre os dois. Sei também que o ruim chama mais atenção e tem preponderado, nos levando a situações desafiantes e perigosas, muito visíveis agora e em todo o decorrer de nossa história. Mas, sei também que valores que refletem o bem, o amor, a solidariedade e a beleza existem e se manifestam de diversas maneiras tangíveis.


Como concluiu Morin em sua entrevista, uma manifestação humana é a arte, que eleva o espírito: “Poesia é tudo o que nos dá sentimento de efusão, e não só deve ser escrita, mas vivida”. E completa “... tenho mil pequenas alegrias diárias”.


Que possamos acordar e viver plenamente essas pequenas, grandes, imensas alegrias e realizações diárias!

 

Sinergia entre Educação, Ecologia e Economia Criativa: Impulsionando o Desenvolvimento em Comunidades Marginalizadas"

A interconexão entre diversos campos - desde educação até economia criativa - tem se revelado uma poderosa alavanca para impulsionar o progresso em comunidades negligenciadas e degradadas ao redor do mundo. Ao adotar uma abordagem holística que abarca educação, sustentabilidade, cultura e arte, essas comunidades têm testemunhado transformações notáveis em termos de desenvolvimento, saúde, equilíbrio ambiental, emprego e renda.


Compreender a relevância e o impacto da educação nessas áreas é crucial. Programas educacionais que transcendem os limites acadêmicos tradicionais, abrangendo educação ambiental, artística e empreendedora, têm sido um catalisador para capacitar os indivíduos. Essa abordagem multifacetada não apenas amplia os horizontes intelectuais, mas também prepara os membros dessas comunidades para explorar e desenvolver novas competências, imprescindíveis para diversos setores.



A ecologia e as ciências desempenham um papel vital nesse cenário. Investimentos em práticas sustentáveis, juntamente com pesquisas científicas direcionadas para resolver questões ambientais locais, têm impactado positivamente a qualidade de vida.


O foco na conscientização ambiental e na implementação de tecnologias ecologicamente sustentáveis tem sido um divisor de águas para essas comunidades, oferecendo soluções inovadoras para desafios prementes.


Mulheres no Samba, playlist de artistas Cedro Ros / Spotify


Não se pode subestimar o papel crucial da cultura, arte e economia criativa. Ao valorizar e preservar a riqueza da diversidade cultural dentro dessas comunidades, não só se mantém vivas as tradições, mas também se fortalece o tecido social e se fomenta um ambiente propício para o surgimento de empreendimentos criativos. Festivais, exposições e programas de intercâmbio cultural têm impulsionado o turismo local e global, gerando oportunidades econômicas únicas. No âmbito da economia criativa, plataformas como a Cedro Rosa Digital têm se destacado.


Cedro Rosa na Nigéria - Escute o EP Grateful; com o cantor Wzkells, na Cedro Rosa / Spotify.


Ao certificar e distribuir obras e gravações de artistas independentes, essa iniciativa não apenas democratiza o acesso à indústria musical, mas também oferece uma visibilidade global para talentos anteriormente marginalizados. Esta abordagem não só cria oportunidades diretas de emprego na área da música, mas também estimula a economia local, impulsionando uma cadeia de impacto positivo para além das fronteiras musicais.

Assim, a convergência entre educação, ecologia, cultura, arte e economia criativa tem se revelado uma sinergia poderosa, oferecendo uma rota viável para o desenvolvimento sustentável e inclusivo em comunidades outrora negligenciadas. Essa abordagem abrangente não apenas promove a prosperidade econômica, mas também preserva a identidade cultural e o equilíbrio ambiental, oferecendo um modelo inspirador para um futuro mais promissor e igualitário.

Samba e MPB, alta qualidade, na playlist Cedro Rosa / Spotify



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