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Foto do escritorPaulo Eduardo Ribeiro

Quando nada vem



“Eu queria escrever como você!”


Antes de qualquer coisa é preciso deixar bem claro que eu nem acho que escrevo assim tão bem. Acho que o fato de gostar de ler sempre me ajudou, mas algumas vezes é difícil tirar as ideias do “campo das ideias” e colocar no papel.

Escrever é um ato que requer comprometimento, treino e principalmente vontade. Foi exatamente assim que respondi a esse amigo que vive exaltando minhas qualidades quando me meto a escrever.


É engraçado como alguns textos que escrevi, muitas vezes despretensiosamente, acabaram repercutindo de uma forma bastante positiva, enquanto outros em que refleti a respeito e tentei elaborar de maneira a alcançar muitas pessoas, sequer foram notados.

Realmente não existe uma regra... Para mim não existe.

Funciono na base do que observo, do que acontece, mas ultimamente é tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que as vezes tenho dificuldade de definir sobre o que escrever.


Levanto, respiro, ando de um lado para o outro, e nada.

Tomo um café, ouço uma música... se eu fumasse seria uma hora perfeita para tragar, soltar e viajar na fumaça que sobe, quem sabe alguma ideia viria enquanto junto com a fumaça subiria também meus pensamentos mais distantes.

Meu Deus, seis da tarde e nada vem.


Brincar com minha cachorrinha enquanto vejo o noticiário pode ajudar, mas sempre as mesmas caras, os mesmos cortes de cabelo, as mesmas notícias contadas de maneiras diferentes, os mesmos autores, os mesmos resultados.

Preciso finalizar esse texto, mas me perco no comentário sarcástico daquele jornalista que eu gosto, tão natural, tão simples, eu queria escrever como ele fala. Na verdade nesse momento eu queria apenas escrever, escrever alguma coisa, qualquer coisa.


Caramba, da outra vez pareceu tão fácil, talvez eu devesse pedir ajuda a alguém de minha confiança, mas só depois que a música do Bruno Mars acabar, essa música pode me ajudar a ter ideias, ela tem algo especial, a pronuncia é rápida, cortada, apenas o suficiente para entender o que preciso entender, não saio desse sofá enquanto ela não terminar.

Outro café, outra volta pela sala, o fone de ouvido incomoda e a pressão de ter que finalizar o texto me sufoca: “escreve sobre mim, ou sobre o que você gosta de fazer, sobre o canal”, não sei se hoje sou capaz, mas no final alguma coisa sempre sai.

Acabou o café, não vou fazer mais, preciso continuar pensando no que realmente é importante colocar em palavras, mas nada vem.


A cabeça dói, a vontade é de esmurrar o computador, mas não adianta, nada vem.

“Como eu posso te ajudar?” Acredite, você ajudou.

Escrever realmente é algo fascinante, histórias são contadas, letras juntas que formam palavras e transportam as pessoas para lugares distantes, as fazem refletir, crescer, mas nesse momento a única coisa que eu penso é no comentarista da noticia política na televisão concluindo seu raciocínio com maestria e elegância, sorrindo mais uma vez sarcasticamente como se soubesse da minha dificuldade, do meu desespero, que ódio que eu tenho de admirar tanto você.


Nem pra me dar uma luz, uma frase talvez fosse suficiente, mas eu continuo pensando que talvez hoje, aquela pessoa que disse que gostaria de escrever como eu iria rir da minha dificuldade, iria descobrir que muitas vezes também me sinto incapaz, simplesmente porque nada vem.


O que eu faço nessas horas?


Me lembro de uma palavra árabe que tenho tatuada no braço direito, MAKTUB, que significa "já estava escrito"...


Geralmente nesse momento alguma coisa sai, alguma coisa sempre sai, e tudo volta ao normal, me transformo novamente naquele cara que faz as pessoas dizerem: “eu queria escrever como você!”

Talvez da próxima vez seja melhor eu me lembrar disso tudo que acabei de escrever antes de perceber que não sou diferente de outras pessoas que escrevem e que em alguns dias vai acontecer novamente, vou procurar e mais uma vez nada virá, mas talvez o mais importante seja compreender que são esses dias de ausência total de ideias que me fazem entender o quanto eu ainda preciso melhorar e o quanto é bom ter café, uma tv e pessoas que torcem por você por perto, principalmente quando nada vem.


Paulo Eduardo Ribeiro, do Canal Ponte Aérea, para CRIATIVOS!

 

Disco maravilhoso, com participações de craques como Aldir Blanc e Nelson Sargento, entre tantos monstros sagrados do samba e da musica brasileira.



Por Dentro da Cedro Rosa / Reunião de Pauta

Isadora Matos e Lais Amaral Jr conversam com Luana Oliveira



Outros Ventos, com Thiago Kobe





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