O Silêncio Redivivo
As pessoas têm seus corpo/emas
Repletos de matérias em putrefação.
Minhas mãos,
amantes das facas,
alisam na água
o metálico silêncio.
O material bélico
dos meus pulmões
se renova.
As pessoas têm em seus pés/ados
estrondos que se repetem.
Metem na boca
auroras inteiras
e o sol as colore
de morte e horizontes.
Danço sobre as madeiras
- as que ainda tremem de paixão –
e arranho as flores
com o vento da minha revolta.
O telhado transmite às estrelas
o que penso.
O extenso sobrevoar do frio
apressa o sono dos corpos.
Mas é possível
que ainda haja pássaros acordados.
Assim como é possível
que os peixes estejam atravessando os rios.
É estranho: tremo
num vento que não vejo.
A impossibilidade dos séculos
rabisca a minha eternidade menor.
Noturnamente
desvio os olhos.
Meu coração favorito
pulsa, enganoso, no espelho.
Não dá para ouvi-lo – é muito
silencioso – e ninguém
compreende que suas veias
estejam trocadas.
O tempo está cego.
A lua esgrima detrás das nuvens.
Não há regras estabelecidas,
mas as pessoas
vão e voltam, incessantemente
em cada rua da Terra.
Tanto faz
que a mão trema sob a água
e que os peixes sejam mudos.
O espaço é cada vez menor
porque o tempo está cego.
É muito cedo,
mas as luzes já se apagaram.
Se pudéssemos tirar do escuro
as nossas sombras,
e delas tirar os nossos sonhos...
Se pudéssemos tirar do escuro
nossos cabelos molhados
e dos cabelos tirar as mãos
sujas de pensamento...
Se pudéssemos arrancar a flor,
a única flor que se salvou,
posta sobre a negra cadeira
da noite.
Nossos co/r/pos
estão em bares opostos,
separados por rios de vinho
onde, a cada hora,
pessoas estranhas vão se afogar..
Não me vês.
E tua boca continua aberta
com uma palavra abortada
entre o exagero da pintura
e a brancura dos dentes.
E eu não vejo mais
seu cabelo embolado
ou seu passo avoado.
Eu nem enxergo mais meus próprios poemas.
As pessoas
têm abismos gigantes nas almas.
Não posso retornar a elas.
Não conseguiria ocultar meu silêncio
no primeiro precipício que visse.
Não seria capaz de esquecer
que saí do meu coração
e que tenho um oceano na boca.
Não poderia deixar os olhos
à mercê da falsidade das facas,
ao jugo do tirano brilho da vida
Não espero mais
que tua boca arranque
- com a força da fome –
o silêncio de minha boca.
(Acho que caí
na cilada do teu sorriso.)
maio, junho/1982
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