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O palavrão pré-histórico




Do meu livro “Os tomates do Padre Inácio – memórias domésticas do palavrão” – no qual insinuo meu pendor pelo palavrão, a partir da minha mãe, dona Zoraide. A ansiedade pela proximidade do próximo domingo (02/10) não me permitiria elaborar nada que não fosse ligado a esse plebiscito inquietante: barbárie x civilização. Semana que vem voltamos aos textos próprios desse espaço. Espero.


Roda de Samba, na playlist da Spotify!


Mergulhando na essência dessa narrativa, vamos dar uma viajada, porque é bom que se diga que o palavrão não é exclusividade de nosso país ou de nossa cultura, muito menos, santa misericórdia, invenção de minha mãe boca-suja. Claro que não. Eles existem em todas as culturas e suas origens perdem-se no tempo. É até imaginável que um indivíduo homo sapiens, no alvorecer da nossa espécie, tenha desferido o primeiro palavrão ao atolar o pé num gigantesco monte de bosta despejado por um mamute desarranjado. É ou não é plausível?

No tempo das cavernas, nossos antepassados ainda não falavam, mas já se expressavam por meio de pinturas e desenhos. O que pode nos fazer crer que essas manifestações foram as primeiras formas do humano expressar seus anseios e angústias. Reproduziam o cotidiano. Num rasgo de especulação poderíamos deduzir que depois da caça e um pouquinho antes de abandonar a vida nômade e plantar o pé na terra, nossos ancestrais já desenvolviam essa estranha mania de mostrar aos outros, algo que julgavam, importante. O artista, o jornalista e o memorialista, portanto, nasceram praticamente nas cavernas. Jornalistas ainda há muitos por aí que parecem não ter saído dessas moradias primitivas.


Muito samba! Tempero Carioca, em playlist do Youtube.


Estudiosos de vários matizes concordam que o surgimento da fala de nossos ancestrais ocorreu paralelamente ao desenvolvimento da inteligência. A relação com o dia a dia, a natureza e uma série de fatores e equipamentos neurais e físicos de nosso corpo explicariam isso. Mas como os fósseis são apenas ossos - não sobraram nervos, cartilagens ou músculos -, os pesquisadores não conseguiram periciar o uso das cordas vocais e outros aparatos ligados à linguagem nos tempos dos Flintstone. Por isso é impreciso dizer quando nasceu a fala, a palavra, o palavrão.


Por conta disso, a especulação de que nosso ancestral mais distante, citado lá no início, poderia ter proferido o primeiro palavrão ao pisar numa caca de mamute, deve ficar mesmo no limbo das hipóteses. Ou poderíamos nos arvorar na duvidosa premissa de que o palavrão veio antes da fala. Nosso parente distante ao ver-se atolado na merda (merda é palavrão?) teria soltado um estrondoso “UUHHAARRGG!”. Ainda não era uma palavra, mas já seria o protótipo de um palavrão.


Ou para ficarmos no inebriante campo da fantasia já que citei os Flintstones, o palavrão do nosso antepassado poderia ter sido um sonoro: Yabadabadabadooo!!, o conhecido brado do Fred, que expressava alegria, o que não exclui a possibilidade de ser um palavrão. E no caso do pé na bosta, não explicitaria alegria, obviamente. Uma exceção para confirmar a regra.


Analogia: Outro dia mesmo vi e ouvi na TV, a torcida do São Paulo cantar a plenos pulmões, no Morumbi, uma vinheta em homenagem ao seu ídolo, Rogério Ceni, que pendurava as chuteiras. Era mais menos assim: “Puta que o pariu / é o melhor / goleiro do Brasil!!”. Expressava alegria. E era palavrão!



“Que tal um samba? Puxar um samba, que tal? Para espantar o tempo feio Para remediar o estrago Que tal um trago? Um desafogo, um devaneio (...)

Desmantelar a força bruta Então, que tal puxar um samba? Puxar um samba legal Puxar um samba porreta

Depois de tanta mutreta Depois de tanta cascata Depois de tanta derrota Depois de tanta demência

E uma dor filha da puta, que tal? Puxar um samba Que tal um samba? Um samba” (Que tal um Samba? – Chico Buarque)


 

Música

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