O cachorro, a picareta, e outras tretas
O CACHORRO, A PICARETA E OUTRAS TRETAS.
O escritor cubano Leonardo Padura publicou, em 2009, "O homem que amava os cachorros".
Na Argentina, em 2023, foi eleito Javier Milei, o homem que fala com cachorro morto.
No romance de Padura, os personagens principais são o revolucionário russo León Trotsky, exilado no México - acolhido por Diego Ribeira e Frida Kalho - e seu assassino, Ramon Mercader.
No governo do “leão” Milei, os personagens principais são, por lado, o neoliberalismo defendido por um sujeito arrogante, mal-educado e ungido e, pelo outro, uma população que vê esboroar direitos arduamente conquistados.
Boa parte dessa população legitimou, nas urnas, a chegada do messias. Uma maioria significativa acreditou nas promessas de campanha e aguarda que as “forças do céu” recoloquem o país no lugar privilegiado que alguma vez ocupou na ordem econômica mundial. Essa leitura delirante de um passado idílico que nunca existiu é, para muitos, mais palatável do que encarar as incertezas do presente.
As diversas experiências neoliberais - a ditadura de Videla (1976-1982); os governos Menen (1988-1999) e Macri (2015-2019), e agora Milei, implementaram processos de privatização, desmonte do aparelho produtivo, estado mínimo, precarização do trabalho e criminalização da pobreza.
Segundo as normas pautadas pelo Consenso de Washington, essas experiências contribuíram para acelerar processos de despolitização e abrir caminhos para um individualismo perverso que faz com que um enorme contingente de novos trabalhadores uberizados não consigam ver o mundo pelas categorias dos direitos e sim pela lógica do empreendedorismo, do salve-se quem puder e, pela ainda vigente Lei do Gerson, como podemos ver, também por aqui, observando a lógica que orienta o comportamento dos membros do denominado Centrão.
Ramon Mercader conseguiu burlar o enorme esquema de segurança na Casa Azul, armado de uma picareta de escalador, desferiu um golpe mortal na cabeça do revolucionário russo Lev Davidovich Bronstein.
Milei, líder do partido La Libertad Avanza, avança, com rapidez assustadora, sobre as pautas de igualdade, pluralidade e diversidade, desferindo golpes mortais naqueles que não compartilham suas ideias. Por aqui, passamos por isso, e estamos longe de ter retomado um caminho orientado por um mínimo de sanidade moral.
O picareta que governa o país hermano, inaugurou, no dia 1º de março, as sessões ordinárias do Congresso argentino. Montou um enorme esquema de segurança para propor um novo pacto social que permita conduzir, o país que governa, ao encontro de sua vocação de grandeza, perdida, segundo nos conta na sua idílica reconstrução histórica, nos últimos 100 anos de história populista.
No dia anterior ao discurso, diversos movimentos sociais, estigmatizados, por Milei, ocuparam as principais estações ferroviárias para promover um "catracaço", ação simbólica de pular as catracas que controlam esses meios de transporte em sinal de protesto contra o aumento de 250% nas tarifas.
As catracas são uma invenção relativamente recente. Antes da chegada do neoliberalismo se acedia ao trem mediante a compra de um ticket, controlado por um funcionário uniformizado, o bilheteiro. Com as catracas essa profissão deixou de existir e a desconfiança passou a ser regulada por essa tecnologia de controle. Por aqui, conhecemos essas tecnologias faz tempo, sempre presentes no acesso de pessoas em ônibus, metros, trens, estádios, que tornam a desconfiança a regra e as pessoas em cidadãos de segunda categoria.
Entre nós, há uma vasta experiência em picaretas e picaretagem. Só para lembrar, na virada do século XX, a gestão Pereira Passos colocou em funcionamento as picaretas que transformaram a cidade colonial numa metrópole moderna orientada pelos valores de uma burguesia em ascensão que entendia – como novamente hoje - a pobreza como resultado de incapacidade individual.
Para esses arautos da moralidade o que se coloca, recorrentemente, é a questão da ordem, sempre ameaçada, pela incomoda presença no espaço público de pobres, músicos, comunistas, anarquistas, capoeiras, ateus, vendedores ambulantes, entregadores de aplicativos e toas as categorias incluídas nas siglas LGBTQIAPN.
Semana passada, por exemplo, o executivo argentino determinou a proibição do uso da linguagem inclusiva e da perspectiva de gênero nas repartições públicas. Antes disso tinha limitado as manifestações carnavalescas. Como de praxe, seguindo o modelo de ditaduras anteriores, o reinado de Momo foi desqualificado, cartilha implementada por aqui pelo futuro detento, quando criou a treta, nos primeiros meses da sua gestão, ao associar carnaval ao Golden Shower.
Que mente doentia é capaz de fazer essas associações? Milei parece ter-se formado na mesma escola da verborreia escatológica do capitão que fugiu pra Miami a espera do golpe. Por falar em golpe, a quantidade de sandices que vieram a público desde o golpe do Temer é, realmente assustador. Se vivo fosse, Stanislaw Ponte Preta faria a festa surfando nesse mar de irrealidades sustentadas pelos líderes da direita mundial e, claro, ajudaria a mitigar, pelo riso, o mal-estar que elas provocam.
É fato que a noite que se fez por cá e, repito, noite que ainda não está totalmente debelada, se estende, assustadoramente, sobre a sociedade argentina e anima o cortejo dos mercadores do mal e dos pastores do ódio por estas latitudes. A sensação de desemparo que hoje toma conta da argentina foi explicada, entre nós, pelo contundente e belo samba de Chico Alves e Moacyr Luz: Sonho Estranho.
Já que falamos em festa é bom lembrar o carnaval de rua não quer saber de catracas. Aqui no Rio, o bloco do Barbas, do querido Nelsinho Rodrigues e do saudoso Manoel Henrique, tentou dar conta da questão que preocupa os irmãos. Foi direto ao ponto com essa mistura de reflexão crítica e nonsense e propôs, em 2024, o enredo: Para aturar o calorão e o centrão é de lei consultar o cachorro do Milei.
Taí, contra a ordem e as catracas o Carnaval levanta sua vocação festiva e transgressora. Faz da rua, espaço público por excelência, o lugar da liberdade, da comunicação, do encontro e do exercício da cidadania. Ele tem mostrado uma saudável disposição para fazer circular novas representações sobre a cidade. Seus privilegiados cidadãos insistem em percorrê-la ao sabor do desejo do agir conjunto, coletivo, evidenciado a pluralidade e diversidade. São esses mecanismos da ação coletiva que permitem o exercício do direito de associação orientado para um mundo comum e compartido ameaçado pelos representantes do ódio.
As festas, potencializam a mobilização dos afetos e desejos de uma cidade outra, não cerceada por catracas, correntes nem cancelas que revelam a ordem do racismo, machismo, coronelismo, golpismo e misoginia!
Para remediar o estrago, que tal um samba?
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