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Foto do escritorLais Amaral Jr.

Milton Nascimento continua cantando em nossos corações




A carreira de Milton Nascimento, ao menos como aquele artista que deve ir aonde o povo está, chegou ao fim. A série de shows que iluminou palcos e emocionou plateias nacionais e estrangeiras e que foi encerrada semana passada num estádio de futebol, com um público de sessenta mil pessoas, foi o fechamento apoteótico e ímpar, da vida desse artista descomunal. Milton Nascimento é um marco da nossa música e aquele público caloroso que lotou o Mineirão e no final agradeceu ao Bituca, representou todos os fãs e admiradores na sua despedida dos palcos. Me senti representado por aquela gente. Eu que vacilei e que certamente, como tantos outros, pelos mais variados motivos, perdi a chance de me emocionar num último show ao vivo.


Vá lá que seja um clichê, mas ver Milton cantando, sentado naquele trono no centro do palco, um filme foi rebobinado na minha mente. Me veio claramente na lembrança a primeira vez que o vi e senti o tranco. Foi no festival da canção da Globo, com ‘Travessia’. A belíssima ‘Morro Velho’, anterior à ‘Travessia’, e com a qual tive um envolvimento décadas depois, na época não chegou a mexer com o garoto de treze anos. Eu era muito verde e desaparelhado de informações para entender aquele enredo. Mas ‘Travessia’ foi direta. E a voz metálica e original daquele sujeito me dizia no íntimo, que ele vinha pra ficar. E logo já estava na prateleira mais alta da chamada geração de ouro da MPB com Chico, Caetano, Nara Leão, Gil, Edu Lobo, Elis, Gal, Betânia, Paulinho da Viola e alguns outros catapultados pela onda dos festivais.

Quando Milton cantou ‘Coração de Estudante’ no Mineirão, já no final do espetáculo, minha alma se espremeu e fui empurrado a um tempo em que aquela canção tatuou carne e espírito de um jovem embriagado de ideais de liberdade e justiça. No comício das Diretas-Já, em 1984, na Avenida Presidente Vargas, Milton comandou um coral de cerca de dois milhões de vozes entoando a canção-hino. Meu coração era de estudante e ao viajar no tempo vendo esse último show, mais uma vez se espremeu, pois, a folha da juventude era o nome certo desse amor. E no final Milton bradou: “Viva a Democracia!” e o Mineirão vibrou, como num gol de Reinaldo ou Tostão.

Meu envolvimento com a belíssima ‘Morro Velho’, já então totalmente compreendida por mim como uma das joias do nosso cancioneiro, se deu quando os irmãos, Robson e Gulu Monteiro, grandes amigos que fiz em Resende, resolveram fazer um filme inspirado na canção de Milton. Robson fez o roteiro e me pediu para escrever os diálogos. Trabalho feito, Gulu que tinham uma aproximação com Francis Hime e mais amigos em comum, chegou até Milton Nascimento para pedir a autorização para o uso da canção como inspiração e título do filme. Milton, com toda a sua conhecida generosidade, não só autorizou como se colocou à disposição para compor a trilha sonora. O passo seguinte seria a captação de recursos e aí a vida deu seus solavancos. Gulu que lecionava teatro em Los Angeles teve menos tempo para circular e a isso, somaram-se percalços comuns nesse tipo de empreendimento, o que paralisou o projeto. Que não morreu, diga-se.


Depois daquela tarde noite das Diretas-Já! na Presidente Vargas, assisti a um super show do Milton na Praça da Apoteose ainda sob a quentura daqueles tempos. Anos depois assisti a um outro, menos emocionante politicamente, mas, tão belo quanto, no teatro monumental da AMAN. Com seus quase três mil lugares esgotados. Foi a última vez que vi o artista ao vivo, em carne e osso.


Milton Nascimento não irá mais aos palcos, não sei se ainda continuará compondo. Tomara que sim. Mas se não fizer mais nada, o que fez nesses muitos anos de arte, e que abriu um capítulo muito próprio na nossa música, já foi o suficiente para nos encher de prazer, de emoção e de orgulho. E a última canção em público, ‘Encontros e Despedidas’, ainda contou com um ponto final na frase em alto som, homenageando seu saudoso parceiro mais constante: “Fernando Brandt, eu te amo”. É isso. E agente te ama Milton Nascimento. Valeu Bituca!


“Mande notícias do mundo de lá, diz quem fica

Me dê um abraço, venha me apertar, tô chegando

Coisa que gosto é poder partir sem ter planos

Melhor ainda é poder voltar quando quero

Todos os dias é um vai e vem

A vida se repete na estação

Tem gente que chega pra ficar

Tem gente que vai pra nunca mais

Tem gente que vem e quer voltar

Tem gente que vai, quer ficar

Tem gente que veio só olhar

Tem gente a sorrir e a chorar

E assim chegar e partir

São só dois lados da mesma viagem

O trem que chega é o mesmo trem da partida

A hora do encontro é também despedida

A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar

É a vida desse meu lugar, é a vida

A hora do encontro é também despedida

A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar

É a vida desse meu lugar, é a vida” (Encontros e Despedidas - Fernando Brant/Milton Nascimento)


 

Cultura



 


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