CERZIDO
- Marlos Degani
- há 6 horas
- 3 min de leitura

Passou a Páscoa passou o funeral de Francisco passou a notícia da ladroagem explícita sobre os aposentados que não têm dois minutos de paz nesse país rachado por extremistas de vários lados temos mil pesos e duas mil medidas na verdade nem sei se é legal escrever diante de tanta tristeza no coração muitas vezes é dificílimo ser brasileiro e deve ser também ter outras nacionalidades ainda mais nos tempos atuais onde os superficiais se travestem de profundos com facilidade impressionante todo mundo fala sobre tudo e todos não entendem pois o importante não é compreender mas se sentirem integrados às turmas chulas inúteis e extremamente policiadas pelos vagabundos digitais de plantão 24 horas espalhados em cada byte e assim pertencer a nada exceto à quantidade de seguidores e de curtidas é interessante esse paradoxo vivido quando uma ardilosa liberdade é usufruída distorcidamente e que em vez de soltar prende sem cadeados os desavisados de plantão gostaria de falar mais sobre isso há várias abordagens interessantes inclusive citar excelente artigo de Pablo Ortellado em O Globo no dia 26/04 em que ele discorre brilhantemente sobre a questão da responsabilidade dessa polarização recair sobre grupos minoritários que esticam cordas e vendem a falsa imagem de grande adesão mas fico pensando nessa manhã de outono de abril exposta numa abóbada manchada de grafites variados feito se o pintor borrasse a tela com carvão ora passado de lado ora de ponta às vezes pulverizado de mão leve e outra com o peso de chumbo são incontáveis os degradês e as surpresas matutinas vindas de ventos ariscos e inconstantes batizados de alho de terra molhada da chuva intensa da madrugada das árvores da praça pingando das folhas as bombas atômicas remanescentes nas testas das pessoas assustadas embaixo e solidão figurativa é andar no calçadão de Nova Iguaçu num domingo às seis da manhã cada porta fechada é um não que a vida soprou ando na linha do meio da rua nenhum humano nenhum pombo nenhum cachorro vadio somente eu os nãos e o silêncio sepulcral dos sacos de lixo vou e volto entro no beco do antigo Teatro Arcádia viro lá viro ali vejo cápsulas baganas e copos descartáveis a festa não foi bonita pá aqui não há cravos somente arrependimentos espalhados nos utensílios da noite que ainda está acordada fui até o final da Amaral Peixoto e dei de cara com o Terminal Rodoviário de Nova Iguaçu ao lado do viaduto Pe. João Mush e vi o entorno cercado de barracas de camping onde pessoas ainda dormiam dezenas e dezenas de moradias mambembes da sujeira espalhada pela indiferença de todos nós gente nova gente idosa garotas garotos crianças vivendo feito bichos nessa selva cinzenta e cheia de monóxido de carbono retorno pelo mesmo caminho na intenção de chegar até ao mercado para comprar as baguetes pontudas que saem por volta das sete horas no Guanabara e já vejo algumas pessoas os bêbados voltando muitas sandálias nas mãos os velhinhos e suas sacolas à feira o dono da banca arrumando os maços de jornais que hoje em dia são fininhos jornal de domingo na minha época deveria pesar uns dois quilos pelo menos li esses dias que as bancas de jornais antigamente eram a nossa internet de hoje não tenho nostalgia tenho saudades de muitas coisas meu tempo é hoje mas que era bom era...
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