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Livre Arbítrio: O Canino que desmente Pavlov!


Eleonora Duvivier e Bowie. Fonte: arquivo pessoal

Quando penso que meu cachorro Bowie me trocou pelo meu filho Christophe enquanto passei uma semana no Brasil, concluo que associações, reflexos condicionados, e toda essa papagaiada que nega o livre arbítrio nos animais, e para certos pensadores, nos humanos também, é conversa fiada. Ao menos em certos animais e certos humanos.


Pois sou eu que sempre dei comida a Bowie, eu que cuido dele, eu que zelo por ele e seguro as suas barras. Era na minha cama onde ele dormia todas as noites, perto da minha cabeça, ou em cima dela, e eu adorava ouvir e sentir a respiraçãozinha dele. Depois daquela viagem ao Brasil, nunca mais. Desde então, Bowie decidiu passar os dias e as noites sentado diante da porta de entrada da casa, numa espera ansiosa pela chegada de Christophe. Logo que isso aconteceu, me senti até sem identidade. Tínhamos recentemente mudado pra California, e qualquer mudança em si já balança a gente, ainda mais quando o cachorro que significava uma raiz para nós vira a casaca na maior cara de pau.


Por outro lado, fiquei contente por ver que no amor inabalável que Bowie tem por Chris, ele não duvida, não se divide. É um show de integridade vê-lo ali na sala deitado no chão duro, faça calor ou frio, ou então em cima do banco diante da janela frontal quando ouve qualquer barulhinho que venha de fora, na esperança de ver meu filho chegando. Quando Chris arranjou uma cadela Doberman, pensei que Bowie iria arrefecer no seu afeto, mas nem pensar. A cadela vem me saudar, mas ele não desgruda de Chris. E sou eu que peço que ele não seja ignorado por Chris, quando este vem chegando já com mil coisas pra fazer no jardim e na obra ao lado.

Quando Bowie, ainda filhote, entrava correndo em meu quarto, na euforia da confiança plena, eu deixava tudo que estava fazendo, fosse escrever um texto, fosse passar mecanicamente o aspirador no tapete, para curtir a sua felicidade.


Uma vez passei momentos difíceis em Barcelona com saudades de Bowie. Embora meu marido tenha confessado me achar maluca o suficiente pra chegar ao ponto de cancelar a viagem por causa do cachorrinho, ficou chocado quando sugeri voltarmos mais cedo pra casa para que eu pudesse reencontrá-lo logo. A cidade da religiosidade encantada de Gaudi e de tanta arte e beleza não aliviava a minha sensação de ter me traído por me afastar do filhotinho animal. Pensava nele de manhã galopando pelo corredor, suas patinhas macias se sucedendo com a impulsividade aveludada de uma tempestade de pétalas na minha cabeça, a alegria se anunciando pra mim como redenção do que até então tinha sido um mundo sério, auto importante, e cobrador.


A inocência de um cachorrinho, alegria em si e sem causa, parece ser a alegria da própria alegria. Faz pensar que o mundo é bom por lhe ser lugar. O cachorrinho é presente, passado e futuro. Ele é aquele bebê que tinha se perdido dentro de nós, o aqui agora do amor, e ao mesmo tempo a promessa de um novo amanhã. Ele é uma luz clareando o caminho, um presente que veio do coração, uma doçura que faz acreditar.


Nosso Bowie é da mesma raça da cadela do filme A Dama e o Vagabundo. Tem orelhas compridas de pelo longo, formando cachinhos que parecem ter sido feitos por um cabelereiro, ou então, copiado das meninas de Velásquez. Tem os mesmos olhos sonhadores da Dama, o mesmo perfil com boca que parece cair antes de subir nas extremidades, de modo que olhado de lado ele é sorriso eterno, enquanto de frente parece pedir carinho. Até assisti aquele desenho animado de novo por causa dele e percebi outra característica irresistível de sua raça: pedir afago antes de qualquer coisa. Ao invés de pular em cima da gente, se deita de costas no chão e apresenta sua barriguinha para ser festejada.


Antes de viajar, eu andava pensando em como sou sortuda de poder curtir um cachorrinho. Mas Bowie cresce e muda bem mais rápido do que um filhote de gente, e em Barcelona, eu me perguntava como que sabendo disso pude me afastar da sua infância tão passageira. Mesmo que só fossemos ficar duas semanas longe, doía pensar que quando voltássemos Bowie poderia estar irreconhecível. Parece milagre o fato de que inteligência, amor, e até ironia, que ele mostra no jeito de olhar pra mim, cabem dentro de uma cabecinha tão pequena como a dele, e a intensidade com que seus grandes olhos redondos expressam o que ele quer de nós. Eu não queria estar longe durante as etapas do seu crescimento, deixar de curtir o amor da comunicação incrível que essa “criancinha” animal desenvolve com a gente a cada dia. Sentia, na união do mistério de sua alma com o milagre do seu amor, a resposta do universo a qualquer pergunta.


Os que pensam que a boa relação dos cachorros com os humanos só resulta do instinto de sobrevivência por serem eles dependentes de nós, deveriam notar que a alegria de um cachorrinho vem do paraíso. Desarmado, ele é a própria transgressão do mundo da luta e nos faz sentir a liberdade absoluta, essa que começa por nos tornar livres de nós mesmos. Chris não pode ter dois cachorros na sua casa, ainda por cima com ritmos e necessidades diferentes. Então, Bowie tem que se contentar em continuar sendo meu. Pois eu já me contento em ter um cachorro que, integro na sua paixão, independente de reflexos condicionados, tem livre arbítrio!



Veja abaixo como ler outros artigos de Eleonora Duvivier, na revista Criativos!

 

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Violão Solo, escute aqui.




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