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Indústria Criativa: um olhar para a França, por Maria Paula Carvalho.



Maria Paula Carvalho, de Paris.

A Economia Criativa é bem difundida em países desenvolvidos, como a Inglaterra, os Estados Unidos e a França, onde o governo anunciou investimentos de mais de € 5 bilhões para mitigar as consequências da pandemia de Covid-19, através de um plano de resgate da cultura, lançado em maio. Porém, os efeitos da crise sanitária são sentidos até hoje.


Por medida de segurança, desde março, as salas de concerto mantiveram suas portas fechadas por muitos meses, enquanto museus, teatros e cinemas foram reabrindo lentamente ao público. Até que veio o segundo confinamento nacional, em 30 de outubro, mais um duro golpe no setor cultural francês, uma vez que todos os estabelecimentos considerados “não essenciais” foram obrigados a fechar novamente.


Apesar das medidas de apoio tomadas pelo governo para socorrer as categorias mais afetadas, o setor cultural ainda demonstra dificuldades para se recuperar. Além disso, o medo do novo coronavírus e as regras de distanciamento social afastaram muitos espectadores.


Uma pesquisa do Ministério da Cultura francês, realizada com cerca de 7.800 atores e publicada em 2 de julho, mostra que o impacto da Covid-19 foi catastrófico e as perdas colossais. A estimativa era de uma queda média do faturamento dos setores culturais em 25%, em 2020, em relação a 2019. O impacto da crise no setor era calculado em € 22,3 bilhões. Em última análise, as artes performativas e o patrimônio eram os ramos mais afetados, com uma redução do seu volume de negócios de 72% e 36%, respectivamente.


Vidas confinadas


Desde o início da crise sanitária, em março, diversos atores do mundo cultural já vinham procurando “se reinventar”. Muitos artistas viram o seu percurso profissional ser inteiramente transformado e aguardam, ansiosamente, o fim do confinamento, mesmo sem saber quando voltarão a subir aos palcos.


É o caso da bailarina Anabel Red, 24 anos, que viu sua agenda se esvaziar do dia para a noite. Como muitos outros dançarinos profissionais, ela costumava programar as turnês com meses de antecedência. Em 2020, contudo, de forma totalmente anormal, a tão aguardada temporada de verão, quando as companhias costumam rodar a Europa fazendo espetáculos, simplesmente não aconteceu.


Por conta da Covid-19, a dançarina ficou sem trabalho. “Eu deveria ter ido me apresentar em Lyon, mas os espetáculos foram cancelados”, conta a jovem, baseada na Bélgica. “Eu tinha previsão de realizar um workshop, em maio, na França, que foi adiado para junho, mas também não aconteceu. O confinamento e a incerteza prejudicam minha criatividade e não tenho motivação para preparar algo que talvez seja cancelado”, lamenta.


Para complementar a renda, ela trabalha como modelo vivo numa escola de Belas Artes e dá aulas de dança, enquanto as contas não param de chegar. “Fomos os primeiros a fechar as portas e provavelmente seremos os últimos a abrir porque precisamos de plateia e as aglomerações estão proibidas. Será que o público vai retornar? Será que as pessoas terão medo de ir aos teatros depois do confinamento?”, questiona.


Salas de concerto e discotecas francesas não puderam reabrir e quase todos os festivais de verão foram cancelados. Por conta da epidemia, eventos artísticos de muita tradição no país não puderam acontecer, como a Bienal de arte contemporânea de Lyon, inicialmente prevista para março. Outros grandes festivais, como o de Cinema de Cannes ou a Fiac, a mais importante manifestação de arte contemporânea internacional de Paris, que deveria ter ocorrido de 22-25 de outubro, no Grand Palais, na capital, também foram suspensos.


Um setor essencial para a economia francesa


O peso econômico direto da cultura, ou seja, a soma do valor produzido por todos os ramos culturais na França chegou a € 47 bilhões, em 2018.


Relatório conjunto dos Ministérios da Economia e da Cultura e cálculos do INSEE (Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos), de 2015, apontam que a cultura equivalia a 3,2% do PIB francês. Segundo o mesmo estudo, publicado em novembro daquele ano, cultura e criação representavam juntas 1,3 milhão de empregos no país, ou "mais do que o dobro dos postos de trabalho relacionados à produção de automóveis ".


Atualmente, o ramo cultural conta com cerca de 80.000 empresas e mais de 635.000 funcionários diretos na França.


Soft Power


A virada da primeira para a segunda década do século XXI representou um período particularmente próspero para a indústria criativa francesa. Entre 2011 e 2013, empresas e instituições de música, cinema, teatro, imprensa e videogames registraram um crescimento de 1,2%, "uma alta superior ao resto da economia francesa (+0 ,9% no mesmo período) ", de acordo com dados do 2º Panorama da economia da cultura e da criação na França, produzido pela empresa EY e France Créative, organização que reúne atores culturais importantes ligados ao mundo da música, cinema e imprensa.


Os dez setores estudados (artes visuais, música, artes performativas, cinema, televisão, rádio, videogames, livros, imprensa, criação publicitária) representavam, em 2013, “€ 83,6 bilhões em receitas. De acordo com o mesmo estudo, quase metade (47%) dos empregos ligados à cultura e à criação eram ocupados por pessoas com menos de 40 anos, dado superior à média nacional (44%).


As exportações de bens culturais franceses chegavam a € 2,7 bilhões, em 2013, sendo os maiores exportadores os produtores de videogames, livros e a imprensa. Uma potência que levaria o então primeiro-ministro socialista, Manuel Valls, a dizer que a música, o cinema, a literatura e as artes gráficas constituíam um verdadeiro soft power francês para as exportações, ao descrever a influência do país através desses produtos culturais.


Porém, os atentados terroristas de 2015 e, simbolicamente, o ataque de 13 de novembro daquele ano à casa de espetáculos Bataclan, em Paris, significaram um golpe visceral ao mundo do showbiz francês. O que se viu, a seguir, foi uma queda vertiginosa na venda de ingressos e custos adicionais para a segurança das casas de shows.


3 ou 4 temporadas para normalizar


A crise de saúde sem precedentes provocada pela Covid-19 enfraqueceu ainda mais o setor cultural, essencial para a economia francesa. A incerteza provocada pela pandemia resultou no cancelamento do Festival de Avignon, um dos eventos teatrais mais famosos do mundo. A organização do festival que acontece todos os verões no sul da França e que reúne companhias profissionais e pequenas trupes, foi obrigada a cancelar a edição de 3-23 de julho. A suspensão do evento, que tradicionalmente atrai um público de 50 mil pessoas na região da Provença, deixou muitos amantes da cultura desolados.


Kostia C., 24 anos, estava de malas prontas para se apresentar em Avignon quando soube do cancelamento. “É como a grande vitrine da arte do palco contemporâneo da França e eu iria dançar todo o mês de julho”. Mas essa não foi a única decepção. “De março a setembro, eu perdi mais de 20 espetáculos. Desperdiçamos meses de ensaios e por causa do confinamento vamos perder mais de seis meses de treinamento, já que nessa profissão necessitamos de uma regularidade de exercícios e ficar parado tem um custo enorme para a nossa condição física”, preocupa-se.


“Eu tinha 10 espetáculos agendados em Berlim e uma turnê em Brasília e Salvador que foi adiada”, lamenta o bailarino franco-brasileiro formado no Conservatório de Dança Contemporânea de Lyon. Além disso, “o problema é que mesmo depois do fim do confinamento não vai ter trabalho imediatamente, pois nesse tipo de profissão, a gente precisa viajar para participar de audições. E tudo parou”, lamenta. “Talvez leve três ou quatro temporadas para tudo se normalizar. Sem falar que deve haver fechamento de companhias pequenas, já que os teatros vão privilegiar a retomada com as maiores”, diz. Na sua opinião, o mais triste “é que a dança é mais do que uma profissão, é uma paixão e não podemos exercê-la”.


Soma-se a todas as dificuldades uma nova complicação: a disposição dos franceses que também parece já ter mudado, depois de tantos meses de preocupação com os contágios do coronavírus. Se o lado positivo do lockdown foi que a maioria da população não saiu do território nacional durante as férias de verão, prestigiando o turismo local, o interesse pelos espaços culturais fechados, no entanto, parece ter diminuído. O medo de enfrentar aglomerações e a obrigatoriedade de obedecer a novos padrões de saúde fazem com que muitos franceses prefiram partir para novas versões digitais de eventos culturais.


Ópera mais antiga de Paris se adapta


Em tempos de pandemia e confinamento, mesmo a companhia de dança mais antiga da França teve de se adaptar. Fundada em 1669 pelo rei Luís XIV, a Ópera de Paris criou uma plataforma digital, em parte pagante, para apresentar suas produções. É a primeira vez que a instituição tricentenária vai usar desse artifício para fazer com que suas montagens cheguem ao público, abrindo espaço para um novo modelo de monetização para espetáculos desse porte.


Contrariamente ao primeiro confinamento nacional, ocorrido entre 17 de março e 11 de abril, em que todas as produções foram simplesmente anuladas, dessa vez a Ópera de Paris decidiu manter três criações, adaptando-as para as apresentações pela Internet. As produções “Exposure”, “Clouds Inside” e “Et si”, dos coreógrafos Sidi Larbi Cherkouche, Tess Voelker e Mehdi Kerkouche foram pensadas para o programa intitulado “Créer aujourd’hui”.


“Nesse período difícil, eu gosto de pensar neste espetáculo como um encontro, as vezes profissional e amical. Reunidas sobre o palco, as forças vivas da música e da dança respondem, finalmente, à questão: o que é criar hoje em dia?”, afirma Aurélie Dupont, diretora de dança da Ópera nacional de Paris.


A difusão paga de um espetáculo da renomada companhia estreou com sucesso em uma noite de dança, com 5.000 espectadores conectados. As coreografias foram apresentadas ao vivo pelo Facebook, ao preço € 4,49 o ingresso.




 

Maria Paula Carvalho é escritora e uma das jornalistas mais brilhantes de sua geração.

Colabora com a revista CRIATIVOS! e trabalha na RFI, em Paris.


 

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