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HISTÓRIAS 

Atualizado: há 4 dias

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Os colegas do banco não sabiam se a Marli era a melhor fabulista do mundo ou tinha só o subconsciente entupido de excentricidades. Ou até que as duas coisas ocorressem em simultâneo. O fato é que ela sempre contava seus sonhos e eles eram incríveis, como todo sonho, mas os roteiros extrapolavam em muito tudo o que foi pensado e feito pelos melhores estúdios e diretores de Hollywood ou de qualquer outra parte do mundo. 


Não faltava quem se imaginasse vendendo aqueles textos pra ver se conseguia sair daquele misto de mesmice e anonimato que era a vida de quem – ainda – trabalha em agência de banco. Com a automação dos procedimentos, as agências viraram um tipo de consultório psicanalítico-gerontológico. Quem vai ao banco  quer pedir conselhos sobre formas de ganhar dinheiro sem esforço ou não sabe nem passar um Pix, o recente e sensacional método fácil de envio de dinheiro que o Brasil inventou e que faz sucesso no mundo todo. Menos em certo pais do Norte, mas isso é problema lá deles.


O fato objetivo é que a Marli tinha sempre uma grande história pra contar, baseada, ao que parece, num subconsciente radicalmente fértil e que só se manifestava quando ela dormia.

Havia quem preferisse chegar mais cedo, bem antes do início dos atendimentos na agência, só para ouvir as odisseias que a Marli contava, não raro mais de uma de cada vez. Eram contos de abdução por extraterrestres, histórias de capa e espada da idade média, aventuras no extremo oriente do samurais, nos Andes com os Incas, histórias policiais com perseguição de bandidos, casos de julgamento. Nos sonhos, a Marli participou do Tribunal de Nuremberg, do 06 de janeiro em Washington, da marcha dos direitos civis com o Luther King. 


Foi a Woodstock, a concertos inesquecíveis dos Beatles, atravessou as estepes asiáticas com o Genghis Khan, esteve nas grandes batalhas de Napoleão, cruzou o Atlântico em navio negreiro, subiu o Everest, foi aos pólos, aconselhou Trotsky, discutiu com Stalin, deu na cara de Hitler, discordou de Mao-Tse-Tung sobre os encaminhamentos da Revolução Cultural da China. 


Havia quem desconfiasse da prolificidade da mente da Marli, gerente de investimentos, que passava o dia a atender idosos e dar conselhos sobre as cadernetas de poupança dosnetos. Outros acreditavam que ela tinha uma vida secreta entre o final do expediente e o dia seguinte. Ou mesmo que um eventual amante rico a levasse, nas férias, para viagens de aventura em locais surpreendentes, das savanas da África aos confins do Afeganistão, com todos os riscos contidos em viagens deste tipo. 


O que ninguém sabia e, coitados, em sua falta de cultura, sequer tinham elementos suficientes para suspeitar, é que a Marli tinha a coleção completa dos escritos do Luís Fernando Veríssimo, livros e crônicas diárias, publicadas em revistas e jornais do país todo. Tinha todos os exemplares da Revista Bundas e do Pasquim21, todas as tirinhas de “As Cobras” e da “Família Brasil”.

Não era mentira que ela sonhava. E tinha aprendido a contar bem as histórias.

Mas pra isso era preciso ter conteúdo.


E isso ela tinha em quantidade, tudo guardado numa biblioteca climatizada, seu único luxo.

Ah, a Marli...

 

Rio de Janeiro, agosto de 2025.

 

PS.: Obrigado, Luis Fernando Veríssimo. Descanse em paz. Você foi o melhor!


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