Futuro
Não é de hoje que as sociedades humanas buscam um jeito definitivo de prever o futuro, de antecipar o que, afinal, nos espera na esquina seguinte. Um dilema tornado demanda e que mobilizou reis, poetas, cientistas, artistas em geral e principalmente - digo sem medo de errar - pessoas comuns. Afinal, ninguém mais que o ser humano comum, o ordinary people, o zé povinho, o pé rapado, como a maioria de nós, tem preocupação com o que está pra acontecer. Somos nós que nos preocupamos com o pagamento das contas no dia seguinte, com a comida, com a moradia, com a escola das crianças.
Os grandes criadores nos legaram perspectivas diversas de futuro, algumas improváveis na época de sua formulação e hoje até já ultrapassadas. Outras ainda não concretizadas e ainda distantes. Uma verdade é que a maioria das previsões não se prendia ao futuro imediato. Sempre se pensava na solução das grandes questões ou no futuro distante. Isso é uma coisa que ainda deve se corrigir com o tempo. Não é esse, no entanto, o caminho da conversa aqui. A minha preocupação agora, escrevendo antes do resultado das eleições, é com o que vai acontecer a partir das 17h de hoje. Você, que lê depois desse horário, é um privilegiado! É como se você só assistisse ao desenho dos Jetsons depois da invenção dos sistemas digitais de comunicação, quando todo mundo troca mensagens de vídeo com naturalidade maior do que nós, mais antigos, discávamos números num orelhão laranja movido a ficha. A gente pode não ter a Rosie, aquela empregada robô, mas grande parte de nós fala com a Alexa, a assistente digital do Google, com a desfaçatez de quem nunca se chocou com Barbarella, 2001 - Uma Odisseia no Espaço, Guerra nas Estrelas (o original!) ou Blade Runner.
Hoje, a partir do encerramento das urnas eletrônicas e início da totalização, o Brasil poderá ter optado por avançar, a duras penas (nada é fácil!), rumo a um estado de relativo bem estar social, já que o neoliberalismo reinante não aceita ser desafiado e não vai permitir que se dê grandes saltos. No máximo, deixa que se democratize o acesso a casa, comida, escola e algum lazer, o que pra maioria da nossa gente já é bastante coisa. Mas existe o risco, claro, e isso já aconteceu antes, de estarmos, no final da jornada de votação, caminhando novamente rumo a um obscurantismo ainda maior, a mais negacionismo científico e histórico, a mais milicianismo institucional, a mais isolamento internacional e fragilidade democrática, num caminho que, no universo dos desenhos animados do tempo do orelhão, nos leva mais aos Flintstones que aos Jetsons. Felizmente, algum grau de previsibilidade é possível e já há algumas centenas de anos que é possível fazer projeções com fortes chances de acerto. Não que isso valha exatamente pro Brasil. Ninguém tem o direito de esquecer de Witzel, o Breve. Derrotado na véspera e vitorioso no dia. O oposto das finais de Copa do Brasil envolvendo Grêmio e Criciúma em 1991 e Flamengo e Santo André em 2004. Futebol, ainda bem, tem todo ano e a superação não demora. No caso da política, além da condenação coletiva a um estado de coisas normalmente dramático, há o risco sempre presente da repetição do imponderável, que volta “por cima”. É um fenômeno de ocorrência já relatada outras vezes e prestes a acontecer no Rio de Janeiro (toc, toc, toc!!). Mas só vamos saber, juntos, no final do dia.
O fato é que ao menos nós, brasileiros, convivemos historicamente com tentativas de previsão de futuro que raramente nos levaram a algum lugar. As cartomantes andam de agenda cheia aqui faz séculos. Profecias em igrejas e previsões de videntes de televisão tentam dar a dica do amanhã com uma impressionante certeza e é essa assertividade que convence as multidões. Aliás, isso é certamente um fenômeno humano, não só brasileiro. Por sorte nossa, ao menos transformamos em festa as nossas mazelas. Que coisa linda foi o desfile da União da Ilha cantando “O Amanhã” em 1978. Quem lembra se emociona.
Pois bem. Escrevendo antes do acontecido, não me resta muita coisa, a não ser acreditar nas estatísticas e torcer por uma nem sempre presente racionalidade do eleitorado (Já aconteceram Witzel, Bolson... aquele! Você sabe quem!). A outra alternativa seria apelar para o modo mais popular de previsão do futuro utilizado no Brasil, geralmente com o claro objetivo de acertar dezenas e milhares do jogo do bicho.
No que depender dos meus sonhos, tá garantido o prêmio! O bicho que vai dar na cabeça é o melhor que temos. Quando acertamos da vez passada, foi bom pra todo mundo. Viva a Democracia! Beijão e boa votação!
Que comemoremos juntos, depois das 17h, a inauguração de um futuro mais amigável! Rio de Janeiro, outubro de 2022.
Música.
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