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Dia das mulheres deveria ser todos os dias

 

Suzana M. Padua


É o cúmulo a mulher ter que “lutar pelos seus direitos”! Lutar contra o que? Quem estabeleceu as barreiras de igualdade? Seus diretos deveriam ser inquestionáveis. Mas a realidade grita por socorro!


As desigualdades de oportunidades e de condições entre homens e mulheres é tamanha que o Fórum Econômico Mundial (FEM) estimou que pode levar 135 anos para que as diferenças se equiparem, mas claro, se houver vontade e empenho. No entanto, a mudança tem sido lenta, com apenas 3% de avanços no último ano. No que diz respeito à paridade econômica, a estimativa é que levará 169 anos, e 162 para equidade política (relatório do FEM de 6/2023).


Segundo dados recentes do IBGE (8/3/24), quase 1/3 das mulheres do Brasil vivem abaixo da linha da pobreza, ou seja, ganham cerca de R$ 33,00 por dia ou menos. Se considerarmos apenas a população de pretas e pardas, esse percentual sobe para 41%, enquanto entre mulheres brancas o número cai para 21%. E o que é pior, 6,1% das mulheres brasileiras vivem em pobreza extrema, ganhando R$ 10,61 por dia ou ainda menos.


E o que fazem as mulheres? Despendem o dobro de tempo que os homens em trabalhos de cuidados com outras pessoas e afazeres domésticos. Assim, acumulam funções quando trabalham fora de casa ou quando estudam.


Dados piores retratam violências domésticas. O Brasil inovou com a Lei Maria da Penha, que estabelece ser crime “violência doméstica contra a mulher, seja de forma física, psicológica, sexual, patrimonial e moral”. Infelizmente, no entanto, recentemente se verificou que apenas 20% das mulheres conhecem e compreendem essa Lei, e provavelmente as que mais precisam não estão nesse percentual. https://www.agazeta.com.br/artigos/desconhecimento-ameaca-a-eficiencia-da-lei-maria-da-penha-0324 


Informações como essas e outros aspectos da disparidade entre gêneros (sejam quais forem as escolhas individuais) estão hoje disponíveis para quem quiser saber e se aprofundar a respeito. Mas, é o porquê dessa realidade predominante que mais me interessa.


Algumas reflexões sobre o tema.


É uma imensa burrice desperdiçar o talento de quase a metade da população do planeta. É a “força masculina” que tem regido as decisões do mundo, e essa força deve se sentir enfraquecida quando se trata de dividir espaços com as mulheres. Os homens no poder de países, de organizações em geral e dos lares, sem a devida participação igualitária de oportunidades, não deu certo. Precisamos de um novo modelo de desenvolvimento!


Recentemente ganhei um livro de uma amiga, Dorothea Werneck, que foi a única Ministra em ambos os Ministérios do Trabalho e da Indústria, Comércio e Turismo que o Brasil já teve. A parede de ex-ministros nos salões ministeriais mostra essa desproporção, sendo ela a única mulher entre dezenas de homens. O título de seu livro é instigante “... apesar de ser mulher”, inspirado em frase infeliz publicada em todos os jornais da época como elogio de um colega em posição de destaque, conforme consta do seu Prólogo. A frase toda é ainda pior: “Ela é muito inteligente, apesar de ser mulher”.


Ora, se essa é a imagem dominante entre a elite política, que escolhe quem vai ocupar qual cadeira, está explicado o porquê de as mulheres somarem apenas 15% das posições de destaque no cenário político nacional. Essa mensagem é levada aos eleitores de forma velada, mas a realidade é que as mulheres acabam sendo minoria arrasadora. Segundo a Procuradoria da Mulher no Senado, entre 192 países o Brasil aparece na 142° colocação do ranking de participação feminina na política nacional.


Importante ressaltar que reverter o quadro é possível porque 9 países o fizeram, com a Islândia como protagonista, tendo reduzido em 91% seu gap de desigualdade. Há 14 anos é a primeira colocada em equidade, mostrando pioneirismo na vontade política do país. https://www.cnnbrasil.com.br/economia/diferenca-de-genero-pode-acabar-apenas-em-2154-aponta-forum-economico-mundial/  


Nas empresas a realidade é similar. Existem departamentos específicos para contratação de pessoal, mas as escolhas podem ter outras influências. Não sei se procede, mas uma palestra que assisti há tempos ficou na minha memória. O palestrante descreveu outras formas menos estruturadas que ocorrem, como indicações feitas diante de um copo de cerveja, ou durante um jogo de golfe ou tênis, ou por recomendação de um colega de universidade. Mesmo que essas imagens sejam apenas para ilustrar como tudo pode ocorrer o fato é que homens tendem a escolher homens, não importa a competência.


O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) estimou que apenas 15% de mulheres participam de conselhos administrativos ou diretorias em empresas de capital aberto. Houve melhora entre 2021 e 2022, mas pífia. Das quase 390 companhias pesquisadas, 17,5% não contam com mulher alguma em seus conselhos administrativos, fiscais ou diretoria. Outro agravante é que as mesmas mulheres são chamadas por diversas empresas, o que significa que o número de conselheiras é ainda mais reduzido. A diretora do IBGC, Valéria Café (também amiga e grande profissional), deu o seguinte depoimento: “Os números mostram que as organizações precisam ser ainda mais sensibilizadas a entender que diversidade gera valor. Quando encontramos perfis diversos nos conselhos de administração, a organização tende a se beneficiar de mais pluralidade na construção de seus argumentos, mais inovação e, consequentemente de um processo de tomada de decisão com maior qualidade e segurança”. 


É essa complementaridade que falta e que poderia trazer benefícios ao ambiente de trabalho.

Talvez facilitasse a empatia de as empresas se envolverem em causas sociais, ambientais e econômicas, que também são atribuições do mundo corporativo, como o tão alardeado demanda do ESG da atualidade (Environmental, Social and Governance. Ou Social, Ambiental e Governança). https://www.meioemensagem.com.br/womentowatch/mulheres-sao-15-dos-membros-de-conselhos-e-diretorias-no-brasil# 


Meu mundo tem sido em organizações da sociedade civil, onde a realidade tende a ser mais equilibrada entre os gêneros. Ainda não é ideal, principalmente porque se forem mulheres as “heads” das instituições e elas quiserem ou precisarem travar contato com lideranças de governos ou diretores de corporações, podem se deparar com dificuldades pela falta de respeito profissional muitas vezes comum em ambientes onde o poder masculino prepondera. Essa é uma realidade que vem sendo superada pela competência das mulheres que assumem a liderança em prol de causas filantrópicas.


Pessoalmente, meu campo de atuação é em conservação de natureza. Mesmo que haja discriminação e lacunas de gênero e raça, o ambientalismo tem sido conhecido por “comer pelas beiradas”. O embate na maioria dos casos se mostrou menos eficiente do que abordar as questões com múltiplas frentes que se somam e resultam no que se pretende, seja proteção de uma espécie, de um rio, de uma cultura que vive em harmonia com seu meio natural. Claro que há muitos líderes ambientalistas masculinos que se destacaram pelo embate, sendo o Chico Mendes o maior símbolo, infelizmente tornando-se mártir da causa que defendia.


Muitos personagens que deram início aos movimentos ambientalistas foram homens inspiradores, como John Muir, Aldo Leopold, Arne Naess, e tantos mais. Mas algumas mulheres também se destacaram como pensadoras de grande importância, a exemplo de Joanna Macy, Donella Meadows, entre outras. Algumas mulheres tornaram-se ambientalistas heroínas, como as primatólogas Dian Fossey e Jane Goodall, ambas reconhecidas internacionalmente pela determinação e trabalho exemplar, ajudando a enriquecer o imaginário popular. No Brasil algumas estrangeiras também se destacaram como Karen Strier e Lou Ann Dietz, coincidentemente ambas ligadas à primatologia.  


Mas são muitas as brasileiras que vêm despontando como ambientalistas de sucesso, tornando-se reconhecidas nos cenários nacionais e internacionais. Algumas foram retratadas por Paulina Chamorro e João Marcos Rosa em uma série de matérias e filme “Mulheres na Conservação”. E existem inúmeras mais que muitas vezes trabalham em locais remotos, e por isso ainda com pouca visibilidade. Mas sempre vale a pena divulgar o trabalho dessas apaixonadas que dedicam suas vidas às causas que defendem. 


Por que será que as instituições da sociedade civil e o ambientalismo em geral conseguiram maior protagonismo feminino? Na minha visão, o que abre portas para um maior equilíbrio de gênero é que o trabalho por propósitos grandiosos, acima dos interesses individuais, aglutina. Isso mobiliza mulheres e outros indivíduos, não importa o gênero, que nutrem desejos de um mundo sustentável, justo e rico em diversidade humana e biológica. Assim, desenvolvem talentos e garra no caminho que traçam para chegar às metas desejadas. 


O âmago da questão é que qualquer discriminação, seja de gênero, raça ou classe social, está em nossos valores. Se nosso foco fosse a valorização da vida como digna de celebração máxima, a realidade seria outra. E isso é possível porque só depende de vontade e de um despertar para nossa capacidade de perceber quem somos: um elo em meio a muitos que formam uma intrincada teia de vida.


O mundo diverso é mais rico pela existência das diferenças.


E a mulher é essencial para a vida acontecer! Todo ser humano nasceu de uma mulher.  Não pode haver um dia para celebrarmos as mulheres, porque todos são dias das mulheres, sem exceção!


 

 

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