DEMOCRACIA, COMÉRCIO INTERNACIONAL E OUTROS
- José Luiz Alquéres
- há 3 dias
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José Luiz Alquéres, conselheiro emérito do CEBRI
Os Paralamas do Sucesso, banda de rock, em 1995 ocupavam as paradas de sucesso com os versos:
“Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São 300 picaretas com anel de doutor...”
A música havia sido composta com base em declarações do ex-deputado Lula, hoje nosso presidente, referindo-se a Câmara dos Deputados.
Esta semana, trinta anos depois, portanto, Lula voltou a fazer pesadas críticas à Câmara por ter rejeitado a proposta do governo de aumentar impostos para compensar o alívio no imposto de renda de pessoas que ganham até 5 mil reais por mês. O que a Câmara alega é que antes de aumentar impostos devia-se repensar os gastos de governo, desde que não se tocasse nas próprias emendas de parlamentares...
Nem por isso o nosso versátil presidente deixou de mandar um recado para o presidente Trump dizendo que temos que nos entender no tocante a questão das alíquotas aplicadas no comércio exterior, porque somos as duas maiores democracias do hemisfério ocidental e, além do mais, argumento que se repete há meses, temos déficit em nossa balança comercial com os Estados Unidos.
No tocante ao primeiro recado, começa a haver um enorme questionamento quanto a qualidade da democracia que possuímos, especialmente pelas trocas de favores e ameaças que pautam as relações entre os três poderes da república. Tanto nos EUA quanto aqui no Brasil tem-se assistido a judicialização das relações entre os poderes e a extrema criatividade na interpretação de alguns artigos constitucionais.
Em relação ao segundo recado, a questão do superávit, é um argumento de uma pobreza intelectual flagrante. O que incomoda os EUA não é um pequeno déficit ou superávit no comércio entre nossos países, mas sim duas coisas:
- o crescimento exponencial das nossas exportações para China, que hoje se eleva a 100 bilhões de dólares por ano foi efetuado às custas de redução de compras da China no mercado agrícola americano; e
- as compras do Brasil para países que os EUA aplicaram sanções comerciais, como a Rússia, aumentaram significativamente em produtos que poderiam ter sido importados dos EUA. Nossa importação de produtos russos se elevou a mais de 10 bilhões de dólares.
Se analisarmos o panorama mais amplo, veremos que os países que provocaram maior déficit no comércio americano foram China, o bloco europeu, a Suíça, a Austrália e o Canadá. Interessante notar que a pequena Suíça que não produz uma grama de ouro, exporta 90 bilhões de dólares de ouro refinado, sendo os EUA seu maior comprador. Todos estes países sofreram retaliações dos EUA sob a forma de tarifas elevadas.
Os fatos apontados neste artigo mostram que a desinformação campeia no noticiário da grande mídia. As pessoas fazem juízos, criam conceitos, brigam por posicionamentos que não tem nada a ver com a realidade dos fatos. É imperativo que os meios de comunicação invistam na melhoria dos seus quadros e passem a ter maior consistência naquilo que apregoam. Estamos mergulhados em uma sociedade da desinformação, o que só serve para aumentar a possibilidade da manipulação de todas as manifestações políticas e, com isso, impedir que as decisões corretas quanto ao futuro do país e do mundo sejam adotadas e apoiadas.
Fica patente pelo exposto que uma nova ordem mundial está se formando. O que só alcançará um equilíbrio quando, além de comércio e democracia, se repensar a governança mundial face os problemas de desigualdade social, sustentabilidade ambiental e resolução pacífica de conflitos.
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