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COLOCANDO O CARRO ADIANTE DOS BOIS




Os provérbios populares são fonte de saber capturado ao longo de gerações e registrado em um enunciado simples para facilidade de memorização. Citá-los com frequência exagerada é exasperador e assim eles aparecem no primeiro grande romance publicado, Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, onde o personagem título tem um ataque de impaciência ao ouvir seu parceiro Sancho Pança abusar do emprego de tais citações.


Existem, porém, situações onde eles parecem se encaixar à perfeição. Para o sucesso das atividades humanas, especialmente aquelas mais complexas que dependem de várias providências interdependentes, a tecnologia de gestão governamental e empresarial criou a atividade de Planejamento. De um modo simplificado, podemos dizer que o Planejamento visa distribuir em uma sequência ótima as diversas atividades necessárias para o sucesso de um objetivo complexo. Em outras palavras, não se deve colocar o carro adiante dos bois.


Essas considerações vêm a propósito da pretendida revitalização do Centro do Rio de Janeiro e, por extensão, de todas as grandes cidades. Isso exige, entre outras ações, uma delicada coordenação entre medidas urbanísticas, tributárias, de Segurança Pública de incentivo a atividades econômicas e de aperfeiçoamento da logística de transporte. Uma coisa, porém, é ponto pacífico entre os estudiosos da matéria: o restabelecimento das condições sociais ideais de ocupação dessa região central deve ser o marco inicial de tudo mais previsto no Planejamento.


Parece assim, face às considerações anteriormente expostas, que a lição do provérbio que dá o título a este artigo está sendo ignorada ao vermos o anúncio da venda do Edifício “A Noite”, na Praça Mauá, Centro do Rio, para conversão em empreendimento imobiliário residencial para apartamentos de luxo.


Salta aos olhos que qualquer medida de sucesso referente ao Centro do Rio deva, a partir de agora, se iniciar pela solução da questão dos moradores em condição de rua. Há poucas semanas, a bagunça ocorrida na ´cracolândia´, na região central de São Paulo, prova que cidades que não enfrentam ordenadamente a eliminação do problema da convivência entre atividades informais, ilegais e criminais não terão sucesso na revitalização de seus centros urbanos.


O planejamento urbano é o passo essencial. A ação social, que vem ficando no papel, ou seja, na criação de leis ou de Ministérios e Secretarias ineficazes, deve preceder qualquer atitude bombástica. Aqui já construímos Museus, urbanizamos a orla da Baía, criamos o VLT, mas, além de não vermos uma coordenação virtuosa entre essas medidas, assistimos a ocupação permanente do centro da Cidade pelo segmento mais carente da nossa população, aquele que deveria merecer o olhar do Poder Público, até mesmo para que o projeto global possa ter sucesso.


Enquanto passeio pelo centro da Cidade for visto como algo ameaçador, iniciativas exitosas e atuações focadas como a recente restauração da Igreja Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores terão um impacto restrito, o que é uma pena.


O poder público tem de imediato construir abrigos decentes para moradores em estado de rua, promover o incentivo ao comércio formal nas centenas de lojas fechadas no Centro e implantar um esquema de segurança eficaz, dia e noite, de forma que a atração de moradores para antigos imóveis comerciais retrofitados seja uma realidade e um novo modelo de vida urbana floresça no coração do Rio de Janeiro.


Neste contexto, uma ação conjunta com o Poder Judiciário assegurando que condições adequadas para a retirada de moradores em condição de rua para abrigos adequados com disponibilidade de serviços sociais essenciais (saúde , apoio psicológico, reinserção no mercado de trabalho) sejam disponíveis parece ser a primeira medida a ser adotada.


 

As indústrias criativas desempenham um papel crucial na geração de empregos e renda

Segundo a UNCTAD* as exportações de produtos criativos atingiram USD 1,1 trilhão em 2020


As indústrias criativas desempenham um papel crucial na geração de empregos e renda, além de oferecerem oportunidades de reinserção social para indivíduos em situação de risco. Através de cursos e capacitação em atividades criativas como música, arte, design, artesanato e audiovisual, essas pessoas podem adquirir habilidades valiosas e desenvolver talentos, abrindo portas para novas carreiras. A economia criativa também fomenta o empreendedorismo, impulsionando microempresas e startups que promovem a inovação e a diversificação econômica.



Playlist de grandes artistas da Cedro Rosa, escute aqui.


Um exemplo notável é a Cedro Rosa, uma iniciativa que tem transformado a cena musical independente no Brasil e no mundo. Através do apoio a artistas emergentes, oferecendo plataformas de divulgação, produção e distribuição de música independente, a Cedro Rosa amplifica vozes que, muitas vezes, não encontrariam espaço nas estruturas tradicionais da indústria. Isso não apenas fortalece a diversidade cultural, mas também cria empregos diretos e indiretos, envolvendo desde músicos e produtores até equipes de marketing e tecnologia.


Música do Brasil, a miscigenação perfeita. Artistas Cedro Rosa, na playlist da Spotify.

No contexto social, programas como os da Cedro Rosa têm o potencial de transformar vidas. Ao fornecer treinamento e oportunidades na indústria da música, indivíduos marginalizados ganham não apenas habilidades técnicas, mas também confiança e um senso renovado de propósito. Isso não só contribui para a redução da desigualdade, mas também enriquece a sociedade ao celebrar a diversidade cultural e artística. Portanto, as indústrias criativas, representadas por iniciativas como a Cedro Rosa, desempenham um papel vital na construção de um futuro mais inclusivo, dinâmico e promissor.


*Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD)

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