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Foto do escritorSuzana M Padua

Ciência e ética como guias para ações que valorizam a vida.



Hoje, com o mundo polarizado, vemos exageros por todos os lados. Uns dizem que dados científicos são manipulados para servirem a determinados propósitos, enquanto outros se fazem de cegos frente a evidências dos efeitos das ações humanas sobre a natureza. O fato é que os desequilíbrios estão cada vez mais frequentes, e quem nega ciência não o faz com base em conhecimentos sólidos, mas se exime de explicar o porquê enchentes, deslizamentos de terras, estiagens prolongadas, incêndios incontroláveis, desertificações e perda de biodiversidade ocorrem. Esses eventos não me parecem fáceis de serem negados. Mas, enquanto estão longe de quem não quer enxergá-los, normalmente por estarem em situação de conforto, podem seguir sendo ignorados.


O mais cruel é que muitos desses desequilíbrios ambientais têm efeitos dramáticos e atingem quem mora em locais desfavorecidos. Afetam pessoas pobres, pretas ou de etnias que não costumam ter acesso a tomadas de decisão e daí o novo termo racismo climático. Quando ocorrem em regiões mais abastadas, em pouco tempo há investimentos e empenho em reparação. Ou seja, a intensificação das desigualdades humanas está diretamente ligada aos efeitos deletérios das escolhas feitas por quem tem poder de mando, mas que em geral prefere não levar em conta o que favorece a humanidade em geral ou a natureza. É como se vivessem em um planeta paralelo que existe para os servir ad eternum.


Recentemente, conheci um jovem artista, que mora na periferia de Manaus, no extremo norte da cidade, em uma favela cujas ruas têm nomes de países - a dele é Nepal. Diego da Silva Brandão é um fotógrafo talentoso e no curto trajeto entre o aeroporto e o hotel para onde eu estava sendo levada, me relatou o que acontece em sua moradia quando chove. Tem três baldes que coabitam seu espaço, colocados estrategicamente para receberem as águas que jorram do telhado e alagam sua cama e o próprio quarto.


Como sua casa (se é que pode ser chamada assim) fica na descida da rua, enchentes ocorrem sempre que chove com maior intensidade e, claro, estraga seus pertences, que não devem ser muitos. Como artista, nunca pode adquirir equipamento de qualidade por falta de recursos. Mesmo assim, tem se destacado por retratar sua comunidade, trazendo uma realidade amazônica bem diferente da conhecida internacionalmente por suas florestas exuberantes. Diego faz parte de um grupo que chama a atenção para outras amazônias dentro da Amazônia, e se orgulha de hoje ter trabalhos expostos em uma galeria de arte da cidade, que nesse momento recebe um evento de maior porte: o Glocal. Para quem tiver interessem suas fotos são encontradas em seu Instagram: @dighett0.






Minha pergunta que não quer calar: quantos Diegos existem em nosso Brasil? Quantos talentos desperdiçados e a que preço de sofrimento desnecessário? O que fazer para que haja vontade e empenho para reverter realidades tão cruéis? O Brasil tem potencial e possibilidades de ser modelo de justiça social e sustentabilidade ambiental, mas não o faz por vícios que vêm desde nossa colonização. A cruel escravatura e a intensa concentração de riquezas nos levou a aceitarmos realidades injustas. Quem se importa é taxado de comunista ou louco. Devo ser ambos, mesmo que não me veja com qualquer desses rótulos, mas sinto uma profunda dor ao saber que esta é a realidade tão dura para tantas pessoas que poderiam ter vida digna e promissora.


O grande desafio, a meu ver, é fazer com que a humanidade se importe e desperte para o valor da vida. Enquanto as escolhas forem baseadas no que é melhor para “mim”, e não para a “coletividade”, enquanto a ganância estiver acima daquilo que vise solidariedade, empatia e cooperação, dificilmente veremos mudanças que levem à regeneração.


E por quer “regeneração”? O tempo de “recuperar” ou “restaurar” parece ter chegado ao seu limite. É hora de dar um passo adiante e retornar à natureza mais do que lhe foi tirado. Recompor com a riqueza que havia antes dos estragos feitos por mineração, monoculturas, criação de gado e outras atividades quando exercidas de forma insustentável, não será mais possível. Mesmo que todos os esforços se tornassem prioridade, não seria possível repor a natureza com a riqueza que tinha em sua origem.


Mas, com certeza ainda há tempo de evitar estragos adicionais e recuperar muito do que havia, principalmente porque temos áreas naturais que servem como bancos genéticos. Sendo assim, nossa responsabilidade é darmos chances de todos os seres seguirem seu curso de evolução e sobreviverem com qualidade.


Corremos contra o tempo. Segundo muitos cientistas aclamados, há uma aceleração nesse processo deletério e estamos chegando ao ponto de não retorno. Ou seja, o limite de não haver mais como recuperar o que foi perdido está próximo. Por isso as pressões por ações éticas e sustentáveis são urgentes.


O Glocal proporcionou um evento denominado EscutAmazônia, realizado em Manaus de 26 a 28 de agosto, cujos objetivos se alinham com os temas aqui explicitados. Três painéis trouxeram empreendedores que discutiram ciência e ética como base para mudar realidades, aflorando potenciais que muitas vezes existem, mas passam despercebidos. Experiências de longo prazo foram trazidas, assim como jovens que vêm desenvolvendo projetos inovadores e com grandes sonhos de darem chances a muitos se beneficiarem com as riquezas socioambientais encontradas regionalmente. A necessidade da integração de melhorias sociais, ambientais e econômicas ficou clara, assim como o potencial da biodiversidade encontrada no Brasil para alavancar iniciativas que possam beneficiar o setor privado, a sociedade civil e os governos. Os exemplos trazidos foram bem diversos, mas mostram ser possível se obter resultados contundentes quando se tem vontade, empenho, e foco que priorizem projetos e ações que valorizam a vida.


Nossa ideia com o EscutAmazônia é produzir um documento que possa servir de base para influenciar políticas e tomadas de decisão que favoreçam a sustentabilidade de longo prazo de culturas tradicionais e natureza e valorizem as riquezas sociais e ambientais que existem no Brasil e introduzam alternativas inovadoras que respeitem as maravilhas amazônicas.


 

As culturas e economias criativas na economia global


As culturas e economias criativas exercem um impacto significativo na economia global, gerando rápida renda e empregos. Através do setor de música, arte, entretenimento e tecnologia, essas indústrias estimulam a inovação, promovem a diversidade e criam oportunidades de trabalho. Esse impacto é ainda mais notório em comunidades carentes, onde tais setores podem revitalizar áreas urbanas, oferecendo empregos locais e aumentando o turismo cultural.


Quem está produzindo na Cedro Rosa?


Segundo a UNTACT ( United Nations Conference on Trade and Development) , as exportações de produtos e servicos das industrias criativas chegaram a USD 1,1 trilhão, em 2020.


Já o Instituto Itaú Cultural publicou estudo informando que a Cultura e as industrias criativas são responsáveis por 3.11% do PIB brasileiro.



Música de alta qualidade, artistas Cedro Rosa, escute aqui.

A Cedro Rosa, no mercado de música independente, desempenha um papel vital. Ela certifica obras e gravações por meio de tecnologias de registro e blockchain, garantindo direitos autorais. Isso protege os criadores e ajuda a gerar receita, uma vez que suas obras são adequadamente reconhecidas e remuneradas. Ao fornecer transparência e segurança, a Cedro Rosa fortalece o mercado independente, incentivando artistas a produzir mais e contribuir para a economia criativa global de forma sustentável.


Escute grandes nomes da musica brasileira, em discos Cedro Rosa, na Spotify.


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