A ENGENHARIA É A GRANDE ARTE
- José Luiz Alquéres
- há 15 minutos
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É muito difícil conceituar Arte. Para os efeitos deste artigo, adotarei o que Jacob Burckhardt propôs: aquele produto que traduz exatamente o que foi a intenção do seu autor.
É uma classificação genérica, inspirada na pluralidade de manifestações artísticas no início do Renascimento. Em sua memorável obra ele inclui um capítulo denominado: “O Estado como Obra de Arte”. Na época do Renascimento que ele tão bem retrata, surge o maior dos engenheiros: Leonardo Da Vinci. Esta definição não é minha, e sim do seu biógrafo Walter Isaacson, também biógrafo de Steve Jobs.
Estas duas afirmações caracterizam a Engenharia como algo muito além da mera composição de fórmulas matemáticas e conhecimento detalhado dos materiais e do ambiente. Ela é, por excelência, o território das grandes criações humanas, aquelas que tentam rivalizar em grandeza com os grandes fenômenos naturais. A Engenharia, além dessa característica da escala monumental das suas realizações, também envolve o concurso de milhares, as vezes milhões, de seres humanos para consecução de suas obras, sejam pequeninos chips à grandes construções, como a muralha da China e a usina hidroelétrica de Itaipu.
No início de minha carreira de engenharia civil, lidei com obras que agregavam centenas de empregados das mais diversas especialidades. Isto me levou a um interesse pelas formas de organização de pessoas em função de um propósito, uma passagem pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, e um interesse perene pelo Planejamento e pela Ecologia.
Aos 75 anos, escrevi o livro “Três Mil Anos de Política”, no qual procurei organizar os fatores que poderiam nos dar esperança de uma melhor evolução para a sociedade. Cheguei a quatro fatores: a democracia; a tolerância à opiniões divergentes; a participação das mulheres na política; e uma nova religião da sustentabilidade como algo que agregasse o interesse dos humanos em qualquer ponto do planeta.
Os três primeiros ítens são campo dos cientistas sociais e eu como engenheiro escrevi “Uma Crônica da Ciência no Ocidente”, publicado em 2023, por entender que a sustentabilidade em seus aspectos científicos, tecnológicos, sociais e políticos é o grande desafio da nossa geração. Um desafio, a propósito, urgentíssimo face aos sinais de uma crise climática sem precedentes que ocorre no mundo. Este livro se encerra com um capítulo denominado: “A Sustentabilidade É Um Humanismo”, porque sem a reunião da filosofia natural com a chamada filosofia pura não há esperança para um verdadeiro pensamento inovador.
No afã de instrumentalizar as ações propostas para que se alcance um mundo sustentável, em sequencia ao livro anterior, escrevi o “Empresas Sábias - A Humanização da Cultura Empresarial”. Assim como antes, eu realço que a Ciência tem que estar a serviço da sociedade – e não apenas da acumulação desenfreada de capital – acrescentando que as empresas são os mais eficazes agentes das mudanças nos modos de vida e de produção a serem alcançados. Cabe às empresas esse papel importantíssimo e aos engenheiros e empresários trabalhar pelo convencimento de todos.
A engenharia é a base dos processos científicos, tecnológicos, da criação das infraestruturas habitacionais e de comércio, das armas de destruição e também dos mais modernos equipamentos de preservação da vida.
Ela é, assim, a grande arte. Aquela que pode ser capaz, caso orientada para os mais nobres princípios humanísticos, para recolocar a vida no planeta em moldes éticos para todas as espécies que nele habitam, pois este é o grande legado que devemos passar para nossos descendentes e também a grande responsabilidade de reparar os abusos cometidos pelas gerações que nos precederam.
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